Tarja preta para simbolizar a não conclusão dos 42km |
FRUSTRAÇÃO! Essa talvez tenha sido a mais comum das sensações entre os participantes que resolveram encarar os 21 e os 42Km da 6ª edição do Running Daventura 2014.
Para um certo grupo de 08 corredores, no qual estive
incluído, o vexame beirou o absurdo, culminando com uma absoluta falta de
respeito aos atletas e seus familiares.
A prova, que mais uma vez foi realizada na paradisíaca
Praia do Forte, este ano contou com 04 distâncias (5, 10, 21 e, pela primeira
vez, 42km).
Uso a expressão atraente como atleta, pois sabemos que
a rentabilidade dos 42k, que contava com apenas 2% de inscritos de um total de
2.500 vagas disponibilizadas (que atingiram o valor de R$ 210,00 reais no
último lote de inscrição para qualquer distância), não soe sensibilizar
organizadores.
Voltando ao sábado...
Somando a falta de tato no “Congresso Técnico” ( cerimônia de abertura com atraso e demorada, na qual já se denotava pouca preocupação com necessidades básicas dos atletas, como comer e dormir cedo), a detalhes como as
mudanças nas regras com o jogo em andamento (apesar de previstos postos de
hidratação de 5 em 5km, foi inserido posteriormente no regulamento a obrigatoriedade
de levar 1 litro de água), não precisava ser nenhuma mãe Dináh para saber que o
negócio, principalmente nos 42km, não sairia às mil maravilhas e, em conversas
com os amigos/adversários sempre fiz questão de ressaltar: “Não vamos
estressar, correr naquele lugar é mágico e a gente se vira”.
O que tinha em mente, porém, para definir “não sair às
mil maravilhas”, estava muito distante do descaso com que fomos tratados, e
aqui falo especificamente do grupo de oito corredores (como fico tentado a usar
a expressão “palhaços”) deixados à margem da corrida.
Como previsto, o litro de água exigido, que sempre
sugeri fosse recomendado, não foi cobrado (quantos de nós investimos na compra
de uma camelback e em treinos adaptativos desnecessariamente?).
Fruto de uma luta dos corredores, quando do anúncio por
parte da organização que as provas largariam às 8:30 da manhã (estariam
adivinhando?), a Maratona e a Meia tiveram suas largadas programadas para
horários diferenciados, os 42km às 7:00 e os 21km, às 7:30.
Investindo em comodidade dormi em Praia do Forte e
cheguei à arena de largada por volta das 6:30. Na saída da Vila deparei-me com um poste quase tombado na estrada e antevi que aquele fato certamente traria conseqüências ao
horário de largada.
Com os amigos Cristiano, Pataro, Chico, Moésio e Rubem - enquanto aguardávamos notícias de quando seria dada a largada |
A partir deste momento as lambanças começaram.
Ávida por cumprir sua meta, a massa de corredores
disparou morro abaixo e, não encontrando ninguém da organização para
orientá-la, os que vinham na retaguarda seguindo os da frente (que iam
inclusive com batedores do lado), acabaram errando o caminho.
Seguindo entre os ponteiros, a maior parte do tempo em
5º lugar, tendo sempre a visão dos primeiros colocados e do motociclista que os
comboiava (e que portava um walkie talkie),
nenhum de nós se deu conta do erro.
Subindo trilha, descendo trilha, saltando ou se
agachando para transpor árvores, logo estávamos em dois blocos de 04.
Tendo sempre por perto o amigo Chico, com quem treinei
para esta prova desde meados de março (e que graças a Deus não está mais na
minha categoria), meu plano A era manter-me entre os 05 que fariam parte do
pódio geral e, no caso de não suportar, partir para o B, que era ficar em 6º e
garantir sem sustos o título da Categoria 45/49.
Os primeiros 10km foram atingidos com 48’.
A partir de certa altura começamos a ver placas
indicando uma quilometragem maior do que a que nos encontrávamos. No bloco em
que seguia todos pensamos que talvez houvessem feito uma mudança para evitar a
passagem na Vila por conta do tal poste e que iríamos passar ali novamente mais
tarde.
Intrigados, sempre que encontrávamos alguém nos postos
de hidratação questionávamos se estávamos no caminho certo. Respostas
positivas, seguíamos adiante. Houve inclusive um momento, num lugar mais
aberto, em que fomos acompanhados e filmados por pessoas que estavam em um
carro aparentemente ligado ao RD.
Com 1 hora e 40 minutos passamos (eu, Chico e o corredor da AD3) a marca da meia-maratona e o atleta da AD3, desejando-nos boa sorte, disse
que ia apertar mais um pouco para colar no 4º lugar.
Acreditando que ainda faltava muita prova, Chico e eu
optamos por manter o ritmo conservador por mais tempo e deixar para apertar um
pouco mais perto do final.
Não faltava.
A desconfiança foi aumentando quando, saindo de uma
trilha, deparamo-nos com uma estrada mais larga bem próxima da linha de
largada. Inocente, aventei com Chico a hipótese de que talvez a Organização, em
função do atraso na largada, tivesse diminuído a distância (que no regulamento
constava como aproximadamente 42k) pensando em preservar os mais lentos.
À medida em que nos aproximávamos da largada / chegada
essa suspeita aumentava. Era isso ou haveria outro caminho para nos dirigir
para o lado da praia, pensávamos.
Estávamos completamente enganados.
Enquanto buscava com olhos esperançosos o tal caminho
que nos levaria a completar os 42km, Chico já perguntando indignado ao Tiago
Valois se realmente a corrida já estava acabando mesmo e dizendo que estava
errado, que deveriam ter avisado para que pudéssemos correr menos cautelosos,
ouvi os gritos de Peralva nos incentivando a fazer logo a chegada,
acrescentando num tom indignado:
- “Tá tudo errado. Vai, chega logo que tá tudo errado”.
Ainda sem se dar conta do que havia acontecido, de mãos
dadas, contando com uma segurada do amigo, em 6º lugar, cruzamos juntos (Chico
e eu) a linha de chegada, com 2 horas e 31 minutos.
Apesar da conta ter ficado apenas em 29km, era um jeito
de comemorarmos os meses de treinamento junto.
Com Chico ainda reclamando pela diminuição sem aviso da
quilometragem (ele com certeza ainda poderia crescer na prova) e eu ainda
acreditando que aquilo havia sido pensado em função dos atletas, apanhamos
nosso lanche e fui atrás do amigo João Paulo para dar-lhe os parabéns pela
vitória com a seguinte frase:
- Não importa se não foram os 42, parabéns pela
vitória!
Diante de um olhar que misturava incredulidade com
frustração entendi que definitivamente havia mesmo alguma coisa muito errada e
somente quando ouvi a palavra relargada é que a ficha começou a cair.
Apesar de finalmente compreender o pedido de desculpas
com que fui recebido por Carol, foi muito difícil acreditar de primeira.
Quando se deram conta de que todos haviam passado
direto, os organizadores optaram por uma nova largada. Os corredores foram localizados
e chamados novamente para a Arena de Largada e tiveram seus chips zerados.
Houve atletas do 21k (Edson Barbosa e Edésio), que somente no 7º quilômetro, o
qual, por sorte passava novamente na arena, ficaram sabendo do ocorrido e
voltaram para relargar. Até aí, apesar da nova falha, tudo bem, mas as coisas que vieram depois parecem mentira:
Incrível 1. Com tanto aparato ninguém nos alcançou para avisar que
a largada fora invalidada.
Incrível 2. É óbvio que foram notadas nossas ausências, afinal de
contas, entre nós estavam alguns dos nomes (e não me incluo neles) apontados
como prováveis vencedores da prova.
Incrível 3. Os familiares, amigos e técnicos dos corredores não
resgatados que tentaram impedir a relargada sem nossa presença foram
“convencidos” de que, PASMEM, havíamos nos recusado a voltar e desistido da
corrida.
Incrível 4. Nós estivemos correndo (pelo menos até a marca da
meia-maratona) guiados por uma moto da organização com batedor que levava
consigo um rádio-transmissor.
Posso imaginar a confusão que se formou e a pressão
para que a corrida se reiniciasse o mais rápido possível, algo que só
aconteceria por volta de 1 hora depois, mas é inconcebível que nos tenham
cerceado o direito de participação na prova, até porque, apesar de ser uma
corrida de trilha (e mesmo considerando que eram cenográficos os rádios
portados por várias pessoas da organização) em vários momentos saíamos em
trechos rapidamente acessíveis para quem fosse de automóvel.
Os absurdos citados acima (mesmo a falsa afirmação de
que nos recusamos a relargar), acreditem, consigo até entender de que forma
foram se enredando, e lá mesmo no recinto tentei ao máximo levar os
desafortunados e indignados colegas ao sentimento de resignação, de “deixa pra
lá”, de “não vale a pena se chatear”.
Entretanto, a coisa que mais me incomodou e, por mais que pense, por mais que tente ainda
não tive a capacidade de encontrar justificativa, foi o descaso com que fomos
tratados, deixados feito bobos “competindo entre si” por 29km, (no meu caso, 2
horas e meia de “prova”), sem que ninguém tentasse nos localizar no percurso
(ainda bem que, graças a Deus, não precisamos de socorro) e sem merecer, nem
mesmo no momento de nossa chegada, uma comunicação oficial da nossa desclassificação (Incrível 5).
Voltando à corrida.
Após digerir um pouco a frustração inicial restou-me ir
ao desértico portal de chegada do 42km oficial esperar e torcer pela chegada
dos guerreiros que conseguiram superar o baque psicológico do atraso e da relargada.
Valeu a pena a espera. Com pouco menos de 5 horas de
prova (às 14:30) Rubem, na 5ª posição, completava o pódio geral. Alguns minutos
depois chegavam Cristiano e Pataro, respectivamente 6º e 7º colocados na prova
e vencedores de suas respectivas categorias.
Por maiores que tenham sido os erros acontecidos nesta
edição (este post não teve intenção de elencá-los), acredito ser possível uma
redenção no próximo ano, adoro correr naquelas trilhas, foi através do RD que
as conheci e torço para que a Organização dê a volta por cima. Eu, porém, já
tenho a minha escolha.
Boa semana!