Samuel, eu, Chico, Rubem, Carlinhos e Pataro |
Uma súbita mudança de tempo em plena
sexta-feira à tarde fez despencar um aguaceiro que tingiu de gris a capital
baiana. A chegada da noite transformou o trânsito num caos completo e, no
entanto (deu gosto de ver), nenhum dos corredores que haviam confirmado
presença me ligou para perguntar se a aventura marcada para o sábado continuava
de pé.
Acho que já estão acostumando com a resposta
(rs): “Se não há ameaça de terremoto ou tsunami, com a permissão de Deus,
estaremos todos lá.”
Por volta das 5 horas da manhã, cheios de
disposição, os membros da turma do “ônibus” que tinha como destino final Imbassaí,
a 65km de Salvador, foram chegando no Km 0 da Estrada do Coco.
Dos seis “passageiros” presentes na largada
(Samuel, Chico, Pataro, eu, Carlinhos e Rubem), respeitando suas planilhas e/ou
objetivo atual, três “saltariam” antes do ponto final.
Às 5h17, após os registros de praxe,
ligamos os motores e “puxamos o carro”.
Mal começamos a correr e São Pedro deu logo
mostras de que teríamos sua companhia durante a maior parte da corrida; nada
que fosse capaz de cessar os velhos causos, que logo começaram a brotar de
nossas bocas.
Parece que embaixo de chuva as endorfinas
começam a trabalhar mais cedo. A felicidade por estar fazendo parte daquilo é
contagiante. Não há medalha ao final, nem precisa. O que faz valer à pena mesmo
é esta cumplicidade que une todos em torno da vitória de cada um.
Estávamos com aproximadamente 16km de passeio
(não consigo chamar uma coisa tão prazerosa como esta de treino) quando fomos
surpreendidos pela aparição do Pró-Maratonista Admilson, que seguia de moto para a
Milenium, onde trabalha.
- “Meu Deus, chega dá água na boca”. Estas
palavras, ditas de supetão e carregadas de tanta sinceridade, penso, dão uma
pequena noção de quão mágica é esta energia que à nossa passagem íamos espalhando.
Na Policia Rodoviária em Arembepe (Km 22),
de acordo com o previamente combinado, desfalcando o grupo de um dos seus
melhores humoristas, Samuel “puxou a cordinha” e pediu o ponto.
A partir dali o foco maior passou a ser em
Rubem que nunca havia feito uma Maratona e tinha como destino Guarajuba, que
fica exatamente no Km 42 da Estrada do Coco.
Tia Lalá, Rafa e Luan: Assim fica muito melhor |
No km 41, a chegada de nossos “anjos da
guarda” trouxe ainda mais alegria à nossa viagem. A bordo de suas máquinas
possantes e trazendo, além de víveres, nossos preciosos tesourinhos, Márcia e
Tia Lalá enfim nos alcançaram.
Chico, Vítor e Márcia |
Enfrentando as dificuldades normais em
corridas de longa distância, Rubem (nosso estreante na mágica distância)
superou honrosamente os momentos difíceis e, visivelmente radiante, atingiu a
meta proposta.
Ao tempo que aconselhava o incansável Chico
a reduzir o ritmo para não forçar a barra para Carlinhos, provavelmente pelo
batalhão de coisas doces ingeridas (geis, malto, coca), comecei a ser tomado
por um enjoo.
Em Praia do Forte, km 54, numa parada para
registro do início da Linha Verde, pedi às meninas que avaliassem a
possibilidade de Carlinhos querer parar ali.
Soube depois que ele ponderou bem sério,
“ir de carro a partir daqui seria uma boa”, mas, abrindo um sorriso (sua marca
registrada), apesar de toda dificuldade, concluiu: “mas eu quero chegar lá é
correndo... e forte”.
O Prof. Carlinhos é um ser humano
admirável. Simples de palavras traz em si ensinamentos que não caberiam em mil
compêndios.
Determinado, várias vezes parecia próximo a
sucumbir e, de repente (ê morto safado), ressuscitava a ponto de ultrapassar
até mesmo Chico, que pouco sofreu durante todo o trajeto.
No mirante, uma última parada para foto
antes dos quilômetros finais. Agora era só descida e, como prêmio, uma chuva de
lavar a alma despencou novamente, lado a lado o máximo que nossas situações
permitiam, percorremos os últimos quilômetros.
Profundamente emocionados e agradecidos a
Deus, comemoramos nossa chegada em Imbassaí banhando-nos nas águas frias do seu
rio.
Só mesmo quem estava há 6 horas na estrada
pode avaliar quão deliciosa é esta sensação.
O
After Day
Não. Não irei falar de dores.
No sábado à noite estivemos na PousadaCanto de Imbassaí falando com Thomas Kupfer para conhecer o tal percurso onde
ele pretende fazer uma Corrida.
Compromissado com o café da manhã de seus
hóspedes, Thomas, mesmo sem poder ir, traçou um perfeito croqui com um trajeto
cheio de estrada de barro, rios e trilhas na mata.