foto gentilmente cedida por Gilmar Farias |
E
a maratona de Porto Alegre continua linda...
No
último domingo matei uma saudade que estava me corroendo há 03 anos. Por conta
das Copas das Confederações (2013) e do Mundo (2014) estava longe da minha
prova preferida desde 2012.
O
bom mesmo era que mais uma vez teria o privilégio de estar alinhado para os
42,2k da capital gaucha ao lado do amigo, e parceiríssimo de treino, Pataro. Exatamente
naquele lugar, quando começava a arriscar meus primeiros passos, o conheci.
Com Pataro , minutos antes da largada |
Senta
que lá vem estória...
No
ano de 2008 viajei com Adhemar (o anjo que me trouxe para o fantástico mundo da
corrida) para Porto Alegre para estrear na Maratona.
Quando
mencionei o tempo com que pretendia fechar a prova (3h e 30), Adhemar me disse
que conhecia uma pessoa que deveria fazer a prova mais ou menos naquele tempo e
iria me apresentá-lo para que corrêssemos juntos.
Vieram
entrega de kit, jantar de massas e nada de me bater com o tal Pataro.
Finalmente chegou o dia inesquecível da primeira maratona, o frio nas ruas e um
ainda maior na barriga (esse me acompanha até hoje) e nada de encontrá-lo / conhecê-lo.
A
sirene indicava que era hora de começar a viagem. A emoção que também me
acompanharia em todas as outras largadas me fazia rir e chorar ao mesmo
tempo...
De
repente, ouvi uma daquelas pessoas que estavam vibrando com a largada gritar um
“vai, Pataro!” e, ato contínuo, um cara ao meu lado devolver com aquele
sorrisão (marca registrada do amigo) palavras de incentivo e agradecimento. Não
me fiz de rogado.
-
O Senhor é caçador? Daqueles que andam atrás do lobo? Ops! estória errada.
-
Você é de Salvador? Parente de Chico do TRE? Sou amigo de Adhemar e ele tinha
me falado para tentar acompanhá-lo.
Fomos
juntos.
* * *
De
volta a 2015...
Ambos
estávamos ali conscientes de que poderíamos brigar para estabelecer novos
recordes pessoais. A temperatura estava ideal. Praticamente fechamos 100% os
treinos propostos por Marcelo Augusti (Mr. Running) e sabíamos que este ano
dificilmente teríamos nova chance nos 42,2. Precisava ser naquele dia.
Pegando o Kit no sábado |
Antes
da largada o encontro com os amigos Joel, Van, Gilmar, Lula e toda a festiva
galera da ACORJA serviu (principalmente para mim que brigo sempre com a
ansiedade nestas horas) como uma forma de fazer o tempo passar com leveza.
Quase não tive aquela sensação de leão enjaulado, louco para ouvir o barulho
dos ferrolhos se abrindo.
Chegada do Presidente Lula de Holanda - |
Começou...
Uma
coisa é certa. Adoro fazer aquilo. É diversão. O tempo, a performance, os
recordes são muito legais, mas não dizem tudo que aquele “poder estar ali de
novo” representa para mim. A emoção de estar a caminho não aguarda a publicação
dos resultados, ela chega ali mesmo, nos primeiros metros, e toma conta de tudo.
A prova ia rolando e, diferentemente da Maratona do Chile, os tempos pretendidos começaram a aparecer no visor do meu garmin a cada soar de quilômetro.
A prova ia rolando e, diferentemente da Maratona do Chile, os tempos pretendidos começaram a aparecer no visor do meu garmin a cada soar de quilômetro.
Lá
pelo oitavo quilômetro ultrapassei um pelotão grande que seguia em passos
consistentes e até pensei em encaixar-me nele mas, lembrando-me que em Santiago
havia pego uma carona num grupo assim e começado, pela comodidade da companhia,
a correr um pouco acima do ritmo que deveria, resolvi seguir em frente.
Um
pouco adiante minha “fuga” foi neutralizada pelo grupo que havia deixado para trás
e neste momento uma coisa chamou muito minha atenção e foi, acredito, crucial
para o recorde que estabeleceria no final daquela prova.
encaixado no bloco |
Se
eu me garantisse até o final da prova pelo menos uns 500 metros atrás daquele
bloco provavelmente teria êxito em meu plano.
Dali por diante a prova, que já estava maravilhosa, tornou-se um verdadeiro passeio. Era impressionante ver como sobrava o Jacques, correu o tempo inteiro chamando os outros para perto, mandando focar, pisar mais leve no chão. O cara não se cansava, acredito que se estivesse correndo para ele sozinho poderia fazer tranquilamente uns 2h48 na prova.
Dali por diante a prova, que já estava maravilhosa, tornou-se um verdadeiro passeio. Era impressionante ver como sobrava o Jacques, correu o tempo inteiro chamando os outros para perto, mandando focar, pisar mais leve no chão. O cara não se cansava, acredito que se estivesse correndo para ele sozinho poderia fazer tranquilamente uns 2h48 na prova.
O
tempo estava perfeito e a frase do Jacques que mais mexia comigo era: Hoje é o
dia! - Hoje é o dia! repetia eu.
Juntos
passamos a marca da meia maratona para 1h29’34 segundos. Já tinha feito o plano
de me desligar do garmim e aquela carona estava ajudando muito.
Na
passagem pelo 28k uma nova olhada e vi que estávamos com 1h e 59 alto.
O
grupo foi se esfacelando e teve até uma hora em que o Jacques me disse que voltaria
um pouco para pegar alguém que havia ficado um pouco para trás e me incumbiu de
segurar o ritmo na ponta.
Honrado
com a missão (que durou poucos minutos), estufei o peito, cantando a pleno
pulmões Alegria, Alegria.
Note lá atrás de branco e preto o Jacques... Logo iria embora e eu asó o acompanharia com os olhos |
Lá
pelo 35k Jacques começava a distanciar-se e a maioria do grupo estava sentindo
mais do que eu. Dizia para mim mesmo. Quando estarei nesta posição novamente?
Quando estarei tão “inteiro” numa prova com condição de estabelecer RP? Agora é
fazer a força que praticamente não havia feito durante toda a viagem.
Minha
última olhada estava programada para o km 40 e somente quando vi que estava com
2h e 51 (não visualizei os segundos) é que me dei conta que talvez pudesse até
fazer o tão sonhado sub -3.
Apertei.
Naquele momento os corredores que estavam na mesma batida faziam-se a mesma
pergunta: Será que ainda dá?
Fechei
o km 41 com 4’09 e, já seguro do RP, arrisquei-me a subir ainda mais o ritmo. O
km 42 foi percorrido em 3’ 57,
mas os 200 metros... Ah, aqueles duzentos metros! rs Consumiram mais alguns
segundos e, absolutamente voando, para os padrões de chegada de uma Maratona,
olhos fixos no cronômetro oficial, cruzei a linha com o tempo bruto marcando
ainda 3h00.
Sub-3?!
Não sabia, mas pelo tempo que havia deixado o cronômetro rolar (esquecido de
trava-lo imediatamente), desconfiava que não, afinal meu relógio estava
marcando 3h e 09 segundos.
Note do lado dieito da foto Jacques e seu hipnotizante 2:59 |
O
confirmadíssimo Recorde Pessoal obtido, a conclusão de mais uma maratona, a
chegada forte que havia feito, era luminosidade demais para aquela sombra de
dúvida, e imensamente feliz, cumpri uma promessa que me havia feito no meio da
prova...
Inspirado
em Carlinhos, o nosso queniano-baiano, que toda vez que chega se ajoelha, abre
os braços, reza, depois se levanta e vai apertar a mão de cada um ali por perto
(engraçado é que, com aquelas canelas finas, não raro alguém o toma como campeão
da prova rs) prostrei-me de joelhos para agradecer a Deus por tudo.
No
mesmo instante ouvi um “Oooh!” ou seria “Aaah!” atrás de mim. De olhos fechados,
imaginei que talvez fossem as pessoas achando bonito o gesto. Quando dei por
mim, tinha um cara me estendendo a mão e gritando para eu sair dali:
Chegada de Carlinhos em Curitiba 2011 |
-
Um corredor que chegou um pouco antes de você acabou de vomitar neste mesmo
lugar. Argh!
Dei
uma olhada para o chão e realmente pude reconhecer a marca do gel colocado para
fora ali (rs). Ao cara que me estendeu a mão, fiz questão de dizer: Tudo bem. O
importante é que estou aqui e a prova foi ótima. Comigo mesmo pensava: Ainda
bem que no ritual de Carlinhos não tinha beijo no chão (rs).
Nada
que uns copinhos d’água não resolvessem. Ali reencontrei o Jacques, de quem
virei fã, e o abracei dizendo: Muito do que consegui nesta prova hoje, devo a
você! Obrigado!
Depois
chegou Pataro controlando uma ameaça de cãibra, mas correndo o suficiente para
diminuir em 1 minuto o antigo recorde. Não posso deixar de dizer: Nada mal para
um cinqüentão. Parabéns, amigo!
03h 17' 38 - Novo Recorde Pessoal de Pataro |
Quem
andou travando o cronômetro muito bem (inclusive antes de Pataro) foi o amigo
Regis Leal, outro cinqüentão arretado que mandou um 03h14.
Chegada de Regis Leal |
Peguei
o avião sem saber do resultado oficial e nunca temi tanto que ele caísse. Como
seria morrer na dúvida se fui ou não sub-3. Provavelmente iria me transformar
em assombração que perguntava: Fuuuuuui? Fuuuuuuuui?
Já
em Salvador descobri meu tempo líquido oficial 3h 00 minutos e 05 (cinco) segundos. Centésimo lugar entre 1.658 homens que concluíram a prova.
Confesso
que levei uns dias para digerir estes (grrrrr) 06 segundos (a gente sempre fica
pensando, se tivesse apertado 200 metros antes, etc). Mas no final tudo é
bobagem, mesmo porque, não irá mudar, e se eu tivesse baixado apenas um
segundo, já voltaria de lá comemorando RP, então como achar ruim ter eliminado
mais 1’ e
45 segundos no meu tempo oficial?
Agradeço
a todos que torceram/vibraram positivamente, peço desculpas ao maravilhoso treinador
e orientador Marcelo Augusti - Mr Running, (ele não tem culpa dos 5 segundos rs)
e agora é festejar o Recorde Pessoal curtindo as festas juninas, logo, se Deus
continuar nos permitindo, outros desafios baterão à porta.
Bom
São João!
Van |
Gilmar Farias RP também 3h 34' 43 |
Edésio - 2h e 35 |
AQUECENDO NO SÁBADO (7 DA MANHÃ - 8 GRAUS) |
Fernando Péricles - 2h 31 |