Em Guarulhos com Pataro, a caminho de Santiago |
Após meses de treino chegou o dia de embarcar para Santiago.
Sexta-feira
Com vôos diferentes e cheios de conexões loucas (agora temos certeza que certas economias não valem a pena), Pataro e eu chegamos ao Hotel Ibis na última sexta-feira, onde já se encontrava o Casal Lyra (Marcondes e Sandra).
Sábado
Sandra Lyra, Marcondes Lyra e Pataro |
Tencionando retirar o cansaço instalado nas pernas com as horas de avião do dia anterior e, também, sentir o clima que nos esperaria no dia seguinte, às 8h da manhã fizemos uma corridinha com algumas solturas de 200 metros no final.
O cão mais fiel do treino |
Para variar, os mundialmente conhecidos "perros callejeros" da capital chilena fizeram-se presentes em todo o percurso, entretanto, um dos "totós" ganhou o prêmio de fidelidade, ficando conosco do início ao fim do treino.
Após o café-da-manhã puxando o grupo que engrossou com a entrada de Eliana ( irmã de Sandra, que não foi para correr) e os Maratonistas Alexandre (Mangaratiba-RJ) e Luciano (São Paulo- SP) fomos em busca do Kit.
No metrô com Marcondes, Sandra e Eliana |
A expo estava repleta de novidades mas mantive-me o mais longe possível para evitar mais gastos, a desvalorização do real frente ao dólar, andou se refletindo em relação ao peso chileno.
Domingo
Sandra, eu, Marcondes, Alexandre Andrade, Luciano Amaral e Pataro |
O amanhecer do Domingo fez despertar aquele conhecido frio na barriga. Não tem jeito, se a Maratona é daquelas “pra valer” nunca estou de todo tranquilo. A única coisa que dá um jeito naquela sensação é o “apito do juiz” dando início à partida.
Novamente ciceroneando o grupo do dia anterior, chegamos à Estación La Moneda meia hora antes da largada e com o céu totalmente às escuras ainda.
Mal havíamos chegado, encontramos os amigos Rodrigo e Roberto (do Peralva Team) e tão logo fizemos alguns registros começamos a buscar lugar na largada dos 42k. Não queria passar o sufoco de 2012 quando consegui entrar na baía apenas no momento da largada.
A Prova
Contagem regressiva, tiro de canhão, “Chi, chi, chi, le, le, le – Viva Chile!”, desejos de boa sorte aos amigos Pataro e Marcondes que estavam ao meu lado, e lá fomos nós.
A maratona contava com 6.000 inscritos, havíamos nos postado um pouco atrás e acabei passando o primeiro quilômetro em 4'33. Alto para meu padrão de largada e para minhas pretensões de ritmo.
Os últimos treinos não tinham me injetado a confiança necessária para tentar um pace condizente com o sub-3, mas esperava ainda poder tentar um RP e quem sabe (num milagre), alcançar o sonho perseguido há tanto tempo.
42'56 era o que marcava meu cronômetro na passagem dos 10k, e isso estava mais ou menos de acordo com o Plano A (correr um pouco abaixo de 3h01'46'').
Completei os 14k (1/3 do percurso) em 1h00'08''.
Maratona com muita gente é bem legal. Em prova com menor número de participantes a tendência é fazer a viagem mais solitariamente. Em Santiago a coisa estava bem diferente. De repente, à minha frente surgiu um pelotão (num ritmo que se encaixava com o meu) composto de uns 10 corredores e resolvi seguir embolado com eles.
Em alguns momentos vi que estávamos passando a 4'19 / 4'20. Sabia que precisava andar abaixo do 4'18, mas toda vez que tentava desgarrar do grupo, logo depois era engolido por ele e aí fui ficando com a galera.
A passagem pelo pórtico da meia-maratona em 1h 30'46'' já dava uma ideia de que dificilmente poderia seguir com o plano A até o fim, principalmente porque, apesar de ser "vendida" pelos "12km finais em ligeiro declive", a maior parte do tempo a Maratona de Santiago é em ligeiro aclive, que se torna mais claro entre os kms 22 e 30.
Completei os 28k (2/3 do percurso) com 02h'02'19'', o que já representava dois minutos acima do projetado. O negócio era fazer força até o momento que se iniciaria (há divergências: alguns dizem que é no km 30, outros, no 32), o tão esperado "ligeiro declive".
Cheguei ao 30 sem notar (pelo menos nas passagens registradas pelo meu garmin) a ladeira que em sonhos me levaria a um novo RP.
No 32 pareceu-me que realmente a coisa era pra valer. Ele (o declive) estava ali. É seguro que não foi dali até a chegada fazendo-me rolar como uma gigantesca bola de neve, entretanto não podia reclamar, se não baixava, tampouco subia, e a maior parte do tempo estávamos protegidos do sol pelas sombras das árvores no caminho.
Ou seja, não posso responsabilizar os quilômetros finais da corrida de Santiago pela substituição que tive que efetuar: Sai plano A, entra plano...
Apesar de não correr mais nenhum risco de vencer a mim mesmo naquela prova, sondava-me e sentia que estava praticamente inteiro. Somente meu pé acusava o fato de eu ter usado um tênis muito baixo para a Maratona, levando-me a, de vez em quando, prestar atenção na passada para evitar dores na sola.
Lá pelo km 35, já estava evidente que não poderia ir tão rápido quanto precisava, então fiz o que me restava a fazer. É bem interessante este negócio de "perder a luta" antes da chegada. Não dá mais para "fazer tempo"? Ok. Vou seguir desfrutando desta coisa que me define: Maratonar curtindo ainda mais a prova, as pessoas que estão na rua incentivando, os amigos de "viagem" enfrentando as naturais dificuldades que se apresentam no final desta prova tão singular. Sai o relógio entra a saudade que já começa a aparecer com a proximidade do fim e a emoção vai tomando conta.
Quem nunca ouviu falar que tudo tem um lado positivo?
Lá pelo km 39/40 seguia, como já disse antes, tranquilo para a conclusão da prova e eis que surge à minha frente a seguinte situação:
Um corredor, que parecia ter uns dois metros de altura, cambaleava para trás, visivelmente esgotado e desorientado. O cara que ia à minha frente desviou-se dele e num relance percebi que não havia ninguém partindo para ajudá-lo.
Amparei o "gigante" pelas costas e busquei retirá-lo da pista para entregá-lo a algum dos expectadores que estavam na calçada. Acontece que enquanto eu tentava "livrar-me" do homem (que parecia que ia desmaiar a qualquer momento), as pessoas com quem tentava deixá-lo iam se esquivando. Foi aí que ouvi alguém dizer que havia um posto médico logo adiante e ao olhar para frente avistei a tenda de socorro a menos de 100 metros.
Levei o irmão até lá e, feliz comigo mesmo pela boa ação, segui minha viagem. Acredito que perdi (ou ganhei) algo em torno de dois minutos com isso. E para ser sincero, não sei se o teria feito caso houvesse passado ali uns 08 minutos mais cedo... (rs)
De todo jeito, sorte nossa, ele agora estava em boas mãos e, eu certo que o Plano Z já estava garantido (chegar vivo), criei para mim uma nova meta (Plano X rs): fechar a prova antes de 3h10, o que consegui por pouco: 03h09'18''.
Restava aguardar a chegada de Pataro, que àquela altura já deveria estar chegando, e foram exatos 10 minutos de espera. O cara chegou forte e a primeira coisa que fez foi lamentar (coisas de quem perdeu a briga nos instantes finais) e me mostrar o relógio 03h19'26''.
Pataro chegando |
Foi por muito pouco, coisa de segundos, que o cinquentão Pataro não estabeleceu uma nova marca. Qualquer corredor entende como é isso. A gente fica pensando: se tivesse saído mais forte, se tivesse isso, se tivesse aquilo... rs
Logo estávamos festejando nossa prova e agradecendo a Deus por mais esta oportunidade.
Agora é pensar em Porto Alegre e pedir a Deus que continue nos dando saúde para novos voos.
clique na seta
Até a próxima!
Marcondes com novo RP |
Sandra comemorando a meia-maratona |