Lá se vão quinze dias desde a Ultramaratona de Revezamento Natal x Mossoró (300km), momento importante para reorganizar o corpo, recarregar as baterias, etc., mas, sinceramente, sabe qual o melhor mesmo de acabar o ano competitivo e tirar férias da corrida (leia-se das planilhas)?
É ter mais tempo para... correr com os amigos (rs).
Com Bruno e Rubem/ desfilando a bela camisa da Ultra da ACORJA |
Pode até ser engraçado, mas isso não é exclusividade da nossa tribo. Basta reparar nos jogadores de futebol que, mal terminado o campeonato brasileiro já começam a programar seus famosos “babas” (peladas) de fim de ano.
Sábado – Barro
Wine Run, Maratona de Búzios e Curitiba, Ultra de Revezamento da ACORJA, Pampulha, etc. O encontro deste sábado reuniu um grupo em que a maioria havia retornado de alguma corrida recente, ou seja, o combustível para o famoso blá-blá-blá dos nossos treinos festivos estava garantido.
Treino do Barro: Everton, Valdir, Rubem, Lu Bastos, Vanuza, Bruno, Cristiana, Carlinhos, Adrian, Moésio, Pataro, Deja e Gil |
Com a missão de enfrentar o belo, mas duro percurso entre Cajazeiras e a Estrada do Cia (17,5km com forte predominância de ladeiras e estrada de barro) esse detalhe vinha bem a calhar.
A meu ver, aliás, essa troca de figurinhas é o que faz a magia desses nossos encontros. As estórias distraem o espírito e suavizam o caminho e, em meio às passadas, amizades vão sendo construídas e reforçadas.
Pró-maratonistas dos melhores |
Uma semana atrás reencontrara-me com Mário, um amigo que há muito não via.
Conversando com ele fiquei sabendo que por causa de contusões frequentes, acabara deixando o Basquete um pouco de lado e, recentemente, acompanhado de sua esposa (Viviane), começara a participar de algumas provas de 10km.
“Estou de ‘férias’ das corridas esses dias (das planilhas... rs) e posso lhes dar uma força”.
Quando ele me disse que estava morando em Stella, pensei: “Pão ensopado no mel”.
- Tenho um treino bom para vocês. Menos de 10km lá mesmo.
A brincadeira, que inicialmente seria feita apenas com eles dois, acabou atraindo mais corredores. Destaque maior para o carioca Luiz Alfredo, que mesmo tendo o vôo de volta marcado para as 10:00 da manhã, não resistiu e foi dar uma conferida no tal treino cinematográfico decantado por seu amigo Éverton.
Everton e o carioca Luiz Alfredo |
O pequeno trecho (há quem discorde deste juízo de valor) de passagem nas Dunas com certeza foi o ponto alto tanto de dor quanto de delícia e foi justamente foi por ali que Éverton, a meu pedido, começou a nos brindar com sua bela história.
Sei que esse negócio de biografia não autorizada tá dando o maior problema, mas não resistirei à tentação de dividi-la com vocês.
SENTA QUE LÁ VEM ESTÓRIA
Numa quinta-feira de carnaval, há cerca de 05 anos, Éverton realizava umas inspeções numa plataforma de eventos, quando sofreu um acidente caindo de uma altura de três metros.
“E tropeçou no céu como se fosse um bêbado.
E flutuou no ar como se fosse um pássaro.
E se acabou no chão feito um pacote flácido.
Agonizou no meio do passeio público.
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.”
Felizmente, a semelhança com o texto do Chico não se estendeu até o último parágrafo e com a eficiência de costume a SAMU chegou para prestar socorro.
Éverton, que em momento algum perdeu a consciência, mas não conseguia se mexer, esperava ser atendido / removido pela ambulância da VITALMED, que tem convênio com a empresa onde trabalha e porque recebera uma ligação tranquilizadora de um amigo seu (que é médico naquela Instituição), informando-lhe que já havia uma equipe de prontidão à sua espera.
Entretanto, o procedimento padrão da SAMU exigia que ele fosse levado a um hospital público e o socorrido foi deixado no Hospital Salvador, onde viria a ficar por mais várias semanas.
Uma bacia fraturada havia sido o saldo da queda e, quatro dias após o acidente, nosso amigo já estava sendo encaminhado um procedimento cirúrgico que o encheria de Platina.
Na véspera da cirurgia, eis que reaparece, numa visita de rotina, o médico que o atendeu no primeiro dia (ao que tudo indica havia saído de férias para brincar o carnaval) e que, veementemente, insurgiu-se contra a decisão dos seus colegas.
Além de ortopedista o médico era especialista em terapia ortomolecular e, para evitar a operação, propôs a Éverton um tratamento alternativo, no qual ele precisaria ficar pelo menos 30 dias com as pernas imobilizadas e tomando o que ele chamava de “suas bombinhas”.
Houve até outro médico que em tom sarcástico profetizou-lhe um arrependimento futuro, mas Éverton resolveu fechar os olhos e agarrar-se àquela oportunidade aparecida tão em cima da hora.
Seguindo à risca tudo que lhe era prescrito, além das “mezinhas”, todos os dias encarava sessão de fisioterapia e assim que os profissionais iam embora, por conta própria e sozinho, recomeçava uma nova sessão.
Os amigos que iam visitá-los (muitos temerosos com sua decisão) encontravam-no sempre de bom humor:
- Aqui no Hospital estou ótimo. Há quanto tempo não tinha um descanso deste e ainda mais com essa janela para o futuro.
Espanto era a reação mais comum dos amigos que iam visitá-lo quando se davam conta de que a vista da “janela para o futuro” era o Cemitério Campo Santo.
- E existe futuro mais garantido que este? Divertia-se o convalescente Éverton.
Ainda impossibilitado de se mexer, vinte dias depois sua velha cama passaria a substituir o leito do hospital.
A recuperação foi extremamente lenta (mas não é verdade que existem males que vêm para o bem?). Cadeira de rodas, andador, muletas. O tempo gasto nesta evolução foi decisivo para uma mudança no espírito do Éverton.
Neste processo de reaprendizagem, nosso amigo certamente resgatou o prazer sentido em seus primeiros passos quando criança. Sabe aquelas coisas que muitas vezes só valorizamos ao perdê-las? Éverton conhecia agora o valor de cada movimento.
Foi assim que, sem nunca ter praticado esporte antes e com o peso na casa dos três dígitos, o homem iniciou um programa de dieta e caminhada.
Oito meses depois já estava fazendo provas de 10km e resolveu ir contar a boa nova ao seu médico salvador.
Exultante de felicidade pelo resultado do seu trabalho, o médico mandou fazer um raio X do quadril do seu antigo paciente e mostrou aos seus pares, desafiando-os:
- Este paciente esteve aqui prestes a ser operado e eu não deixei. Algum de vocês pode me dizer qual é o lado intacto e qual é o lado que foi calcificado?
Ninguém conseguiu afirmar com exatidão.
- Se você houvesse operado naquela época, hoje estaria somente andando e, ainda por cima, mancando. Afirmou o Ortopedista.
Everton 42km - eu 84km na Maratona do Rio 2012 |
De la pra cá o Éverton já virou até Maratonista (aliás nos conhecemos ano passado na Maratona do Rio). Sorte a nossa, que pudemos contar com sua presença e sua estória para alegrar o treino deste domingo.
SÁBADO (NOVAS FOTOS SERÃO ADICIONADA AMANHA)
Adrian na Estrada da Barragem |
Orgulho de usar a camisa da ACORJA |
Preparados para a largada na Casa do Pão |
Rubem festejando a passagem em frente a sua casa |
CT Pinicão - com mato alto |
E a aceleração virou tiro |
DOMINGO
Entrando nas Dunas |
Trabalho de posterior de coxa |
Isso sim podemos denominar de viver! correr com amigos, compartilhar o saquinho de água, puxar atrás do outro no tiro, valorizar o feito de cada um, tomar água de coco reunidos, e o melhor de tudo. Vê no semblante de cada a expressão da frase. Eu sou vencedor!!!
ResponderExcluirRubem Fernandes.
A gente que corre ali toda semana não se cansa de exaltar a beleza e a sensação de prazer que é correr por aquelas bandas: chão batido e ares rurais. Poder dividir isso com amigos de mais longe e observar, apesar da dureza, a felicidade dos participantes, não tem preço.
ExcluirSeu engajamento e o rápido entendimento da jeito de fazer acontecer no SALVADOR PRÓ-MARATONA é algo muito bom de presenciar.
Obrigado!
¨Quem viveu sempre verá que a festa comecou e nao vai parar...¨ só tenho a agradecer o convite, e sempre que possivel estaremos juntos, como falei no final daquele passeio especial. Nada explica acordarmos antes das 05 para isso, e o isso pode ser entendido como: morrer, sofrer, viver, reviver, aprender, desfrutar, conhecer, auto-conhecer, celebrar, e acima de tudo fortalecer amizades, Como surgem as amizades?? Apenas por um momento, um hobby, uma obrigacao, um destino, uma paixao comum... Agora imagina, se por tudo isto e muito mais juntos!!! Obrigado mais uma vez pelo convite, e parabens por nos fazer acreditar cada dia mais.
ResponderExcluirDestaque tambem para Carlinhos, que estava encerrando seu treino, e desviou para seguir conosco. Vamos que vamos
Vocês são pessoas muito especiais, todos... Como bem disse Rubem, somos vencedores!!! Betão, show de bola o texto!!!!
ResponderExcluirForte abraço,
Everton
Everton,
ExcluirParabéns mais uma vez pela vitória pessoal e muito obrigado por ter salvado meu dia com essa bela história.
Abraço!
Bruno,
ResponderExcluirVocê é um dos nossos e isso muito nos orgulha.
Carlinhos realmente é o cara, mas vou ter que discordar do destaque dado ao desvio dele. Quem de nós conseguiria resistir a uma massa daquela passando para treinar junto em local tão agradável?
Abraços!
Roberto,
ResponderExcluirA Viviane e eu temos muito a agradecê-lo pelo convite, foi, realmente, um domingo inesquecível para nós. Eu que sempre pratiquei o basquete, e agora impossibilitado de jogar por problemas de saúde, descobrir na corrida uma nova alegria em minha vida. Mais uma vez obrigado por nos permitir dividir essa alegria com você e a turma de novos amigos que conhecemos no domingo e aqueles que conheceremos nos próximos encontros. E engraçado que há tempos não nos víamos e em um encontro inesperado após tantos anos surgiu esse convite. Um abraço.
Mário e Viviane.
Mário e Viviane,
ResponderExcluirTambém para nós foi muito bom ter a presença de vocês neste Domingo e, Deus nos permitindo, esse será apenas o primeiro de muitos encontros.
Abraços!
O treino deve ter sido muito legal, mas o que gostei mais foi da "estória" do Everton.
ResponderExcluirAdoro esses encontros, pena não poder participar.
Bjs e boa semana.
O corredor, na sua característica de plenitude, não há decisões em frações de segundo como nos outros esportes. Enquanto se está correndo, não se precisa pensar em coisa alguma. PARABÉNS A TODOS QUE CORRE. VANUZA LINS.
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