“Minha vida é andar por este país pra ver
se um dia descanso feliz, guardando as recordações das terras por onde passei,
andando pelos sertões, e dos amigos que lá deixei”.
O caminho é pra ser curtido. Amo estar na
estrada, estar em movimento e vivi plenamente estes 07 dias de viagem, mas
chegar é insuperável. Nenhuma das dificuldades enfrentadas durante a
jornada resiste ao mágico filtro que se instala no momento que se atinge o
objetivo.
Estamos em Exu e Viva ao Rei do Baião!
Às 6:00 da manhã comecei a deixar a cidade
de Serrita. Tenho certeza que não foi
falta de reza dos amigos, mas antes mesmo de passar pelo portal de saída da
cidade notei que o pneu dianteiro estava furado. Enquanto pensava o que iria fazer reparei que
estava em frente a uma borracharia e fui para a primeira troca de câmara-de-ar
do dia.
Saindo de Serrita (1ª tentativa) |
Improvisando um adaptador (perdi o meu
ontem), depois que armei a jante o borracheiro conseguiu encher o pneu e em
meia hora estava de volta à estrada.
Ainda tinha 80km para percorrer e o detalhe
era que agora, além do adaptador também não tinha mais câmara inteira. A
estrada recapeada e irregular só fazia piorar a situação.
Não tinha pedalado nem 10km quando o pneu
tornou a furar. Meio desnorteado comecei a andar pra frente empurrando a
bicicleta. Não queria voltar, não queria desistir depois de chegar tão perto.
No meio da estrada tinha uma casa...
Bati palmas e em seguida dei o prefixo do
sertão: “Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo”. Um homem assomou à porta e,
após explicar-lhe que estava viajando de bicicleta, fui logo pedindo para
deixa-la ali enquanto retornava a Serrita com a jante dianteira. Além da permissão recebi (e aceitei) sua
oferta de carona.
Ainda tinha cartuchos a queimar: remendos a
frio.
Por incrível que pareça nunca usei “cola
fria”. Sempre trago câmaras novas de socorro e geralmente aproveito o tempo
livre nas cidades para mandar colar. O problema é que estas tripas que a gente
coloca no aro 700 não aceitam cola quente.
De volta à Borracharia que fica no posto
onde havia dormido, pedi ao seu proprietário que fizesse a colagem a frio. O
homem balançou a cabeça dizendo que não tinha experiência com aquilo, mas meteu
a mão na massa.
Enquanto ele trabalhava fui acordar a tia
Lalá para que me levasse de volta ao local onde havia deixado a bike. Ela, que já me imaginava longe, não entendeu
nada, mas foi se aprontar.
Ao retornar à Borracharia notei que apesar
da boa vontade o homem não estava se saindo bem com a experiência. A primeira
colagem havia soltado e a segunda não estava com uma cara muito confiável.
Seja o que Deus quiser! Pneu novamente
cheio e montado entrei no carro com a Titia para ir até a bike, mas enquanto
manobrava, quase que totalmente abatido, notei que novamente o pneu havia se
esvaziado.
“– Eu perguntei a Deus do céu ai, por que
tamanha judiação”.
Nem percebi a hora, mas graças a Deus a tia
Lalá ouviu um homem dizendo que lá no centro da cidade havia um borracheiro que
tinha mais experiência com bicicleta.
Eu ainda tinha um remendo. Esperança renovada,
fomos mais uma vez à luta.
Quando recebi das mãos do senhor Dedé o pneu
montado, ainda que vazio por não ter lá o tal do adaptador, tive a sensação de
que dessa vez ia dar certo.
Nova partida |
Após retornar ao velho borracheiro para
encher o pneu, seguir para o local onde estava a bike, montar e recomeçar a
viagem o relógio já passava das 09 da manhã.
A tia Lalá retornou a Serrita para arrumar
as malas e tomar café-da-manhã.
20km à frente os milagres começaram a
aparecer. A estrada, que dava pintas de ser daquele jeito até lá, se
transformara num tapete. Já havia
percebido que mesmo no baticum do recapeamento que vinha enfrentando o ritmo
estava bom e o tráfego bem tranquilo.
Às 10:30 da manhã, minha incrível e
dedicada companheira passou trazendo um delicioso combustível em forma de pão
com queijo coalho e coca-cola e já encontrou um cicloturista muito mais
confiante. Disse-lhe que fosse tranquila para Exu e que provavelmente nos encontraríamos
antes das 13 horas.
A despeito do avançado das horas, aquele
ritmo estava sendo o melhor dos últimos dias, entretanto a coisa ainda ia
esquentar mais.
“Quando olhei a terra ardendo” notei que
atrás de mim vinha um trator puxando uma carroça. Sua velocidade oscilando
entre 30 e 40 km/h era perfeita para eu pegar um bom vácuo e adiantar a viagem.
Quando li o nome “Asa Branca” na carroça
entendi que aquilo só poderia ter sido um presente de Deus, sugerido pelo velho
Lua.
Durante muitos quilômetros segui colado ao
fundo da Asa Branca, mas numa ladeira acabei perdendo seu vácuo e ela “bateu
asas e voou”.
Pouquíssimo tempo depois cheguei à cidade
de Moreilândia e resolvi dar uma rápida parada para pegar água e tomar um suco.
Só quando encostei no bar é que reparei que a Asa Branca estava estacionada
próxima e que seus condutor e passageiro estavam lá dentro.
Logo que entrei os caras foram falando pro
povo do bar: “Nunca vi um cara pedalar assim. Nesta bicicleta ele vinha colado
atrás e às vezes emparelhava”.
Aceitando o convite para partilhar da
cajuína que bebiam, completamente empolgado e às pressas para retornar logo à
estrada, expliquei para o pessoal que vinha desde Salvador, os perrengues
daquela manhã e, claro, mais uma vez precisei responder que não se tratava de
promessa, que sou apaixonado pelo Gonzagão.
Houve um engraçado que disse:
“– Eu também sou, mas não tenho coragem nem
de fazer esses 30km daqui pra lá”.
O tratorista me disse que estava indo para
Exu e sugeriu que eu jogasse minha bike em cima. Agradeci o convite e disse a
ele que partiria logo para tentar pegar novo vácuo caso ele me ultrapassasse.
Não deu outra. Os caras chegaram novamente.
Concentrei-me decidido a ir com eles até Exu. Acredito que neste segundo tempo
fizemos pelo menos 20km juntos. Era meio dia e meia quando ele acenou que iria
entrar para uma roça e mostrou-me a cidade de Exu a menos de 2km.
Quando cheguei ao Triângulo Meu Araripe minha
emoção também era tripla: chegava com saúde e paz ao fim de mais um projeto; a
persistência me presenteara com um dos melhores dias de pedalada da minha vida;
estava na cidade do Rei do Baião, do Xote, do Xaxado, da Poesia...
Parabéns ao casal por mais essa conquista. Nem tudo se conquista só com a vontade, mas com determinação, coragem e persistência.
ResponderExcluirParabéns meu amigo! você se superou mais uma vez. Aproveite bem agora o forró com a "Titia Lalá" - "Vem cá cintura fina, cintura de pilão, cintura de menina, vem cá meu coração".....Um abraço, extensivo a sua grande companheira.
ResponderExcluirSamuel e Amâncio!
ResponderExcluirAgradecemos a sintonia.
Agora é aproveitar. Aqui tudo transpira Gonzagão, em todos os lugares só toca música do Rei. Ontem a tarde, aproveitando que as festanças só irão começar hoje, fomos para Juazeiro do Norte para que a Titia Lalá e uma amiga que reencontrei aqui depois de muitos anos (Soiane) conhecessem o Horto do Padre Cícero... agora é deixar a bike descansando e cair no forró junto com a cabroeira.
Abraços!
Roberto,
ResponderExcluirIncrível! Fiquei emocionado ao reconhecer algumas dessas estradas. Tenho uma história de pesquisa no município de Serrita. Nessa terra conheci pessoas fantásticas. Recebemos um tratamento especial de gente que nunca vimos na vida, mas que tem o coração nobre. Coisas do povo do sertão...
Destaco minha admiração por Tia Lalá, que deu um apoio moral e material durante essa aventura.
Parabéns! Aguardo o próximo post contando mais histórias.
Gilmar
Gilmar,
ResponderExcluirApesar dos perrengues passados por lá, adorei a cidade de Serrita. Logo no primeiro momento que fiquei "no prego" no meio da estrada, era difícil passar um carro que não parasse. Todo mundo querendo ajudar... coisas dessa gente do sertão...
A tia Lalá é realmente admirável.
Abraços!
Salve meu irmaozinho
ResponderExcluirCara, novamente completa uma pedalada né?
fico feliz pelo amigo... mas nao chego a ficar surpreso por ja nos conhecermos há mais de dez anos (ahhhh se lapão e irece falassem...heheheheh)
agora oq rola mesmo é uma baita inveja meu irmao... tenho que me engajar novamente com o pedal e o asfalto...
hoje é dia 13... "simbora" sanfoneiro... 100 anos de gonzagao...
felicidades ai meu irmaozinho
abraços em titia lala (heheheh ja é titia mesmo sem os meninos por perto né?)
Rodrigo
Guardando as recordações nas terras por onde passei.... Muito boa a postagem. Parabéns pelo feito.
ResponderExcluirAbraços
Grande Robert,
ResponderExcluirParabéns por mais esse projeto!!
Foi uma aventura e tanro para os dois!!
Abs
Grande Mega Maratonista!
ResponderExcluirParabéns mais uma vez!
Que Deus continue iluminando seus passos e lhe protejendo.
Grande abraço, e que venham novos projetos!
Pataro
Galera,
ResponderExcluirAgradeço muito os pensamentos positivos de todos vocês.
Abraços
Me emocionei com seus relatos.
ResponderExcluirO texto misturado aos trechos das canções do rei do baião deram o toque especial.
Parabéns pela garra e perseverança!!!
Forte abraço
Valeu, Julinana.
ResponderExcluirAbraços!
Roberto que experiência fantástica essa sua amei seus comentários lindas essas vivências na estrada principalmente com tia Lalá muito bom mesmo meus parabéns Deus abençoe vcs, sempre, quem tá com Deus esta com tudo. Um abraço.vanuza lins.
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