segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

BICICLETANDO DE SALVADOR A MACEIÓ


E mais uma vez, graças a Deus, a estória se repetiu...

Mal acabara de parabenizar-me pelo resultado nas 12 horas da Night Run do Espírito Santo, o alagoano Marcondes Lyra, foi logo atacando:

"Agora já tá na hora da gente fazer uma viagem de bike novamente. Vamos discutir logo qual trecho e período?".

Não sem alguns choramingos, alegando que precisava de uns 10 dias de descanso para depois começar a base para 2019 (período em que a bike é sempre bem-vinda), acabamos nos decidindo por encaixar entre Natal e o Ano Novo, os 600 km que separam as cidades de Salvador e Maceió

A opção pela viagem entre as cidades onde vivemos, não era uma mera coincidência, Marcondes comprara a ideia de buscar fechar todo o NE nestas nossas pedaladas de férias, e uma vez que já havíamos pedalado de Maceió a João Pessoa, e de Salvador a Porto Seguro, precisávamos “tapar este buraco” na programação Nordeste Sobre Duas Rodas.

Apesar do pouco tempo que dispúnhamos, saber que voltaria a estar novamente numa viagem de bike com o “irmão de estrada”, encheu-me daquela boa expectativa de dias agradáveis pela frente.

E olha que o trecho não tem muita novidade para mim, pois desde o começo dos anos 90, muitas vezes já fui (ou passei)­­­ pedalando por Maceió. Aliás a respeito disso, outro diz respondi a um amigo:

“Adoro apresentar. Pedalo em estrada há mais de 30 anos, e muitas vezes, a grande motivação para voltar a fazer o mesmo trecho, está exatamente em poder contribuir com a realização do sonho de outras pessoas. Assemelha-se a ler um conto, um poema ou um livro que você gosta muito para outrem. Enquanto se corre o risco de contaminar o outro com o mesmo encantamento vivido na sua primeira leitura, durante a viagem, poderá você mesmo, descobrir novos sentidos não captados anteriormente naquela obra."


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Com Marcondes, em Stella Maris, poucas horas depois de sua chegada em Salvador
Por volta de 11 horas do dia 25 de dezembro, após uma desgastante viagem de ônibus, Marcondes chegava em Salvador.

Mais uma vez fomos rápidos no gatilho. Decidindo, de última hora, pelo início da viagem, com um pequeno deslocamento no meio da tarde.


25/12 – O PEDAL BAIANO
DE SALVADOR A PRAIA DO FORTE – 60KM
No aeroporto...

Após fazermos nossos registros, por volta volta das 15h 30 deixamos Salvador com destino a Praia do Forte.

O vento forte e contra do final de tarde, fez com que o amigo deixasse escapar um pensamento:

“Deveria ter traçado Salvador a Maceió”.




Relaxe, respondi. Daqui pra lá, ou de lá pra cá, a viagem sempre se assemelhará à vida, há dias de vento contra, e outros de ladeira abaixo, rs.

Em Praia do Forte
Meu maior desejo era que o amigo pudesse estar em Praia do Forte antes do anoitecer, então nos concentrando ao máximo no pedal, e utilizando, tacitamente, a técnica de revezamento, vencemos a ventania, chegando a tempo de contemplar a beleza daquele lugar ainda com alguma claridade.

26/12 – O PEDAL BAHIA/SERGIPE
DE PRAIA DO FORTE A INDIAROBA – 150 KM


Antes de clarear, como viria a ser em toda nossos dias de viagem, deixamos Praia do Forte. Ao mesmo tempo, o amigo Joel, que resolveu se juntar à expedição, saía de sua casa em Salvador.

Parada rápida em Massarandupió

Sabíamos que teríamos um dia bem duro pela frente, quem já pedalou pela Linha Verde sabe bem do que estou falando, são ladeiras, ladeiras, ladeiras e mais ladeiras, com um detalhe bem interessante, cada vez mais elas vão se tornando piores, rs.




Existe um padrão de ladeira entre Praia do Forte e Porto de Sauípe, outro de Sauípe a Baixios, e assim por diante, até chegar na divisa BA/SE.


Por volta das 10 e meia da manhã, chegamos ao Conde (Km 153 da Linha Verde). Após registros, com a intenção de sair de lá quando o sol estivesse menos quente, seguimos para Restaurante Tempero Meu (km 157 -  parada obrigatória há décadas.





A pretensão era se deliciar com o caseiro almoço, e tirar um cochilo numa sombra enquanto esperávamos Joel, entretanto, o impagável Sr. Alfeu, resolveu sacar sua viola e, esquecidos que chegamos lá razoavelmente cansados, fizemos uma festança das boas até a hora de irmos embora, com direito inclusive, a solicitação de música de clientes de outras mesas.

Com "Seu" Alfeu, prontos para voltar à estrada
Neste clima, por volta das 13h 30, o trio finalmente ficou completo com a chegada de um cansado Joel (pudera, o cara, de uma vez só, pedalara o que havíamos dividido em 02 dias) e as 15:30, após muita descontração com Sr. Alfeu e família, voltávamos para a estrada.


O trecho a cumprir naquele final de tarde, coincidia exatamente com o quarto dia do meu Desafio SalvadorAracaju Correndo, portanto, cumpria-me prevenir os amigos, que apesar de tudo que já havíamos enfrentados, as 02 piores ladeiras da linha verde ainda estavam por vir.



Lentamente readquirimos o ritmo de viagem, e logo o frescor da tarde, tornaria mais fácil a missão de seguir e em frente pelos 42 km restantes daquele dia.

Divisa BA/SE
Na passagem pela Divisa BA/SE, fizemos uma rápida parada para celebrar a primeira vez que Joel estaria saindo do Estado com a bike.




  Alcançamos Indiaroba e, repetindo viagens anteriores, a Pousada Pereira foi nosso ponto de apoio.

27/12 – O PEDAL SERGIPANO
DE INDIAROBA A PIRAMBU – 140 KM


O dia estava amanhecendo enquanto deixávamos Indiaroba.

Durante a noite havíamos abortado a ideia de passar em Mangue Seco (evitando ter que voltar pelo mesmo caminho para seguir viagem) e o destino do pedal daquele dia estava meio em aberto.


Nossa primeira “tacada”, novamente coincidiu com um trecho do Desafio Salvador Aracaju Correndo, e com 51km rodados paramos em Caueiras para repor “combustível”.

Reabastecidos, alcançamos a capital sergipana, por volta das 10 horas, e acatando sugestão de Marcondes, resolvemos atravessar logo a ponte para irmos a Barra de Coqueiros, onde pretendíamos almoçar e encerrar a pedalada do dia.


Almoçamos e chegamos mesmo a nos instalar em Barra dos Coqueiros, inclusive, já havia gente dormindo, malas desfeitas, coisas espalhadas pelo chão, etc, quando Marcondes, notou que Pirambu estava muito mais perto do que pensávamos.

Houve um breve momento de lamentação por não havermos percebido isso antes, contudo no minuto seguinte, sob o olhar meio incrédulo da turma, dizendo que levantaríamos acampamento, pulei do chão para ir negociar com o dono da pousada.



Eram quase 04 da tarde, mas sentia que para a logística da viagem, sair de Pirambu no outro dia de manhã iria fazer uma grande diferença. Além disso, tratava-se de uma cidade que sempre achara bonita, mas que nunca havia ficado.





Nos 05 quilômetros finais, os faróis precisaram ser acionados. No caminho, a visão do Parque Eólico (provavelmente passaríamos ali antes de amanhecer, no plano anterior), trouxe-nos uma pequena compensação por haver chegado em Pirambu à noite, e sem poder contemplar toda aquela belezura de barcos em seu porto.


O bom é que havia uma feira em pleno funcionamento, onde conseguimos fazer uma bela alimentação e na pousada Praia do Sol (em que 03 ciclistas que passaram por nós na direção contrária haviam se hospedado no dia anterior) fomos super bem recepcionados.

26/12 – O PEDAL SERGIPE/ALAGOAS
DE INDIAROBA A CORURIPE (Lagoa do Pau) – 125 KM

Traçara a rota, buscando realizar antigo desejo de conhecer o lado sergipano do Delta do São Francisco, e naquele dia nosso caminho nos levaria a cidade de Brejo Grande.


Foram apenas 05 quilômetros na estrada que leva a Japaratuba. Ainda no escuro, reconhecemos a tartaruga descrita nas informações tomadas e a parti dali iniciaríamos a parte mais divertida/complicada da viagem.

Após uma enorme subida e alguns quilômetros numa estrada novinha em folha, começamos a enfrentar grandes trechos de piçarra, com muita areia fofa por cima, trazida das dunas das vizinhanças.


O piso de chão se alternava com pequenas extensões de asfalto. Com 03 horas de viagem, não havíamos feito nem 40 quilômetro ainda (nossa maratona não seria sub -3, rs). Joel já dava claras amostras de não concordar com o caminho tomado. Buscava animá-lo, dizendo que uma hora chegaríamos em nosso destino.

Fízéramos uma previsão de almoço em Piaçabuçu para seguir adiante no final da tarde, mas naquele momento, tinha certeza de que se todo o cerca dos 30 quilômetros restantes, fossem naquele piso, precisaríamos refazer o plano de viagem.


Havia também o medo de toda aquela força empregada para vencer as subidas de areia, comprometer algum componente essencial de nossas bikes, tipo corrente, câmbio, etc...

Paciência, com a desistência de passar em Mangue Seco, havíamos diminuído um dia em nosso de viagem, e desta forma, tínhamos saldo. Aquelas seriam nossas dunas e restingas a contemplar. Mais vale viver e agradecer o dia de hoje do que se angustiar pelo que virá amanhã.


Depois de uma parada na beira da estrada para comer um cuscuz com ovo, seguimos adiante, sabendo que restava pouco menos de 15 quilômetro para alcançarmos o ponto donde o asfalto nos faria companhia até Brejo Grande.


Nunca um retorno ao asfalto fora tão festejado. E não é que apesar de tudo, às 11 horas estávamos na margem sergipana do Rio São Francisco? Valera a pena ter saído as 4H 15 da manhã de Pirambu. Mais que isso, fora fundamental ter deixado Barra dos Coqueiros na tarde do dia anterior. Já imaginaram, como seria se enfrentássemos aquele trecho chegando nele mais tarde?


Enquanto esperávamos a balsa que nos levaria para o outro lado da margem (Piaçabuçu), lavando toda a poeira do caminho, gastamos o rio.

Por volta das 12 e 30, já esquecidos da manhã dura, na pousada e restaurante Santiago, outro lugar que fico habitualmente em minhas passagens por Piaçabuçu, traçávamos uma deliciosa moqueca de dourado.



Conversando sobre nossa viagem de bike, após o almoço, conseguimos a cortesia de um quarto para tomar banho e descansar até o sol baixar um pouco. O plano original estava mantido.


Deixando Piaçabuçu

Renovados, por volta das 15h 30, botamos as magrelas na estrada. Àquela altura da viagem, rapidamente encontrávamos uma boa marcha para prosseguir, e não obstante o vento que estava jogando contra, avançávamos com determinação.


Em Feliz Deserto fizemos uma rápida parada para reabastecimento.

Chegamos em Coruripe ainda com  dia claro, mas Marcondes convidou-nos a seguir alguns quilômetros a frente para ficarmos na Lagoa do Pau, onde seu irmão e cunhada, tem uma casa de veraneio.



Novamente precisamos acionar nossos faróis, mas foi uma decisão muito boa, pois lá no Condomínio conseguimos encontrar café da noite, e ainda marcar um repeteco para as 4h 30 do dia posterior.


29/12 – O PEDAL ALAGOANO
DE CORURIPE (Lagoa do Pau) a MACEIÓ – 80KM.

Às 5 horas da manhã, bem alimentados (suco de pitanga, ovos, cuscuz, café), deixamos a Lagoa do Pau.



Depois de 10 km, em bom ritmo, começamos a enfrentar o tobogã que nos levaria até o Mirante da Praia do Gunga, onde fizemos uma rápida parada para apreciar o visual.

Com 40 quilômetros atingimos Barra de São Miguel, e fizemos nova parada, desta vez para reabastecimento.



Daqui a pouco seria o Francês...



A saudade já começava a dar...













                                                          Clique na seta para assistir

Massagueira, já se iniciara a contagem regressiva, e logo estávamos, graças a Deus realizando mais um sonho.


Na orla da cidade, uma empolgada Sandra Lyra, festejava a chegada do seu esposo e todo o restante da tripulação.


Maceió, aqui estamos nós!.


Missão cumrpida!!!
Até a próxima!

Feliz Ano Novo!!!







Outras fotos da viagem...

Dia 1 - 


Dia 2 








DIA 3 









DIA 4 







DIA 5