domingo, 11 de junho de 2023

A MARATONA 10 EM PORTO ALEGRE 2023


Assentada a poeira, vamos passear um pouco pelas estórias de nossa 10ª participação na Maratona de Porto Alegre, ocorrida no último final de semana?

Prof. Marcelo Augusti (Mr. Running) e Vanice

Antes de tudo, é preciso agradecer a Deus, aos amigos dos treinos cotidianos e às boas energias enviadas por todos que genuinamente torcem e vibram por/com nossas vitórias.

Capa do mais novo livro do Mestre Marcelo Augusti - à venda na Editora Viseu e  também no site da Amazon



Não há, porém, como iniciar esse texto sem enfatizar a importância decisiva de ter o suporte do Mestre Marcelo Augusti, algo que vai muito além do seu inquestionável conhecimento téorico, ou da sua singular forma de aplicação prática (é incrível como passado tantos anos, o Professor ainda consegue surpreender, rs), mas como ia dizendo, é muito mais que isso, Marcelo é homem do copo meio cheio sempre, com um incrível dom de nos fazer acreditar.

SEXTA-FEIRA - A VIAGEM

Passava um pouco das 10 horas da sexta-feira quando aterrissamos em solo gaúcho.

Pelo monte de gente usando garmim, tênis e camisa de corrida (eu mesmo iniciara na aeronave a leitura do Correndo com Etíopes do Danilo Balu), parecia que o avião havia sido fretado exclusivamente para "maraturistas" e seus acompanhantes.

Os irmão Araújo - Chico e Reinaldo

Tanto é que, prestes a abrir as portas do avião, sentado que estava na última fileira, fui abordado por uma Comissária querendo saber o nome oficial da prova. Respondi-lhe e alguns segundos depois, daquelas coisas simples que fazem a diferença, no sistema de som, ouvia-se a voz do Comandante desejando boa sorte a todos na Maratona Internacional de Porto Alegre.

À mensagem foi emendada com uma calorosa salva de palmas. É incrível essa energia no ar dos grandes eventos competitivos. Em pouco mais de 06 horas de viagem, quantas estórias e encontros.

Lourenço, Sérgio, eu, Chico, Pataro, Marcondes e Rebeca

Em pouco minutos, nosso time para os 42,2 k, ficaria completo com a chegada do nosso irmão alagoano Marcondes Lyra.

Dali partiríamos para a velha sequência: entrega de kits, almoço, mercado, hospedagem e muito, muiito descanso.


SÁBADO - MEIA DE ALAN E A VELHA E BOA SOLTURA

A fim de que pudéssemos avaliar a temperatura (tão diferente do usual para o período), marcamos nossa soltura para horário próximo ao da largada da competição no dia seguinte.

Por volta das 05H, descemos para dar um incentivo a Alan, que iria correr a meia maratona. À exceção dos 42,2k, todas as outras distâncias existentes no evento, pela primeira vez em Poa, aconteceria no sábado.


Com Alan na hora do embarque para a meia - O motorista do buzu diria "Estão muito amostrados" rs

Por conta do horário excessivamente cedo do último ônibus da organização (a meu ver, único ponto a melhorar), Alan já estava preste a embarcar rumo ao Barra Shopping Sul, onde viria a pulverizar seu antigo recorde pessoal, estabelecendo a nova marca em 1h 32' 41.


Como no ano passado, o ireceense Sandoval, hospedado ali por perto, veio se juntar a nosso treino.

Gosto sempre de repetir que mais que relembrar às nossas queridas pernas o ritmo que precisarão trabalhar no dia seguinte essa meia hora repartida entre aquecimento, desaquecimento e acelerações de 200 metros, servem para descontrair e aliviar a natural TPM (Tensão Pré-Maratona).

A terra batida, o ar puro e a beleza do Parque Farroupilha (Redenção) deixaram nosso passatempo pré-competitivo ainda mais especial.

Sandoval, Marcondes, Rebeca, Sérgio, eu, Pataro e Lourenço

Girando em torno ma de 14 graus, a temperatura, se não era o frio de sempre, tampouco podia ser chamada de quente. Agora era hibernar.

DOMINGO

Contrariando um certo "terrorismo", em poucos minutos de deslocamento (saímos do Master Cidade Baixa por volta das 5h50 da manhã) chegamos ao Barra Shopping Sul .

A previsão do Climatempo se confirmara, e a sensação térmica, bem diferente do ano passado, era extremamente confortável naqueles minutos que antecediam a largada da prova.

Lu, Bibi, Ed, Marcondes, eu, José Wilson e Pataro  

Palco de estreia em 2008, a maratona de Porto Alegre sempre ocupará lugar de destaque em meu coração., diga-se de passagem, foi exatamente na linha de largada daquele ano, que conheci o amigo/irmão Pataro.

Considerando a primeira maratona como um recorde pessoal, em 08 das nove participações anteriores, havia conseguido estabelecer nova marca nos 42,2 k.

Pela primeira vez, porém, chegava na capital gaúcha com uma chance de pódio. Aliás, essa era uma meta que havia começado a ser traçada no avião de retorno a Salvador em 2022.

Senta que lá vem história...

Habituados a montar calendário competitivo bienal, bem como a dividir cada ano, tendo como prova alvo do primeiro semestre uma maratona de asfalto e, do segundo, provas off road e/ou de distâncias maiores, até o momento em que saiu o resultado da Maratona de Porto Alegre de 2022, estávamos fechado (Pataro e eu) que 2023 seria ano de inverter essa lógica, virando a chave para tentar chegar com chance de briga pela vitória na distância full da UAI survivor.

Ocorre que, assim como acontecera na Corrida Cidade de Aracaju (outra prova de tantas participações, onde não obstante as belas estórias vividas nestas duas capitais, nunca havia passado sequer perto do pódio, o tempo que acabara de obter em Porto Alegre 2022 -2h 56'25, projetado na categoria que entraria em 2023 -55/59, dava pra “descolar um convite" para participar da cerimônia de premiação.

Pataro em  Porto Alegre 2023, conta perdida em relação a quantidade de vezes esteve na prova

Quem me conhece, sabe quão chato sou com mudanças de planos. Resiliente quando imperiosas, mas muito pouco propenso a pular de galho em galho espontaneamente, empurrar nosso Projeto UAI para 2024, por um sonho pessoal, era algo que me vexava um pouco.

O bom é que com amigo de verdade, a gente não precisa ficar muito tempo cismando. Assim, na conexão em São Paulo, comecei a expor para Pataro, o que havia vislumbrado e, de imediato, apresentei-lhe a proposta.

Espírito grandioso, o amigo sem titubear, topou na mesma hora a mudança de curso.

* * *

A PROVA

No caminho para chegar até aquela linha de largada, não só havíamos conseguido o pódio em Aracaju, como a vitória na categoria 55/59 em todas as outras provas em que não subimos no geral, com direito a um inesperado 7º lugar gera, em abril, na Maratona Internacional deJoão Pessoa, com o tempo de 3h07 nos 35 graus vividos na capital paraibana.

Em outras palavras, independente do que viria a acontecer na prova, o plano já dera muito certo. É muito importante agradecer sempre e, por mais competitivo que sejamos, jamais condicionar nossa felicidade única e exclusivamente a números exibidos numa pantalla.

10 x na Maratona de Porto Alegre

Tranquilo, sentia-me razoavelmente confiante para tentar uma nova marca pessoal e assim, aumentar a chance do tão sonhado pódio na Maratona de Porto Alegre.

Aquecimento, alinhamento, desejo de boa prova a todos, contagem regressiva e lá fomos nós...


Após os primeiros metros de euforia típica de largada, ritmo encaixado, passamos a marca do 5k com 20'40, exatamente 1 segundo a menos que no ano passado, o que me trouxe imediatamente a lembrança da velha promessa (nunca cumprida) de tomar uma torre de choppe, em caso de RP mínimo.

A marca dos 10k foi alcançada com 41'06.


Ia mais ou menos com 1h de viagem (14,5 km) quando fui alcançado por um corredor do Branca Sports, que havia me chamado a atenção desde o momento do aquecimento.

- O Mestre Branca está aí?

- Não. Respondeu-me o atleta.

Aquilo foi apenas o start para uma enriquecedora corrida e bate papo com a Lenda Edvaldo Caloi. Enquanto saboreávamos os quilômetros, íamos dividindo causos sobre nossa paixão em comum.

Com Edvaldo Caloi e Fábio Sérgio - 


Edvaldo Pereira de Souza é natural de Itarantim, cidade situada no centro-sul baiano, mas há meio século vive em São Paulo, para onde se mudou quando tinha 14 anos. Ali mesmo naquela prova, já fizera 2h19, ficando então “apenas” na 11ª colocação. É nos anos 80, “o negócio era mais embaixo” rs, como se diz cá na Bahia.

Entre os kms 18 e 19, curtindo folga após a excelente meia maratona no dia anterior, postado como um fotógrafo profissional, lá estava Alan.

Sem se dar conta, num mesmo clique conseguiu pegar o amigo Lourenço, que já vínhamos avistando desde a passagem de volta na área de largada, eu e o Edvaldo Caloi.

Lourenço, eu, Caloi e Paulo, no que seria o maior pelotão do qual participaria em toda maratona


Foi muito engraçado o espanto. Na mesma hora que o amigo gritava, “um vumbora, Lourenço”, emendou com um “vumbora, Beto”.

Juntos passamos a marca da meia maratona para 1h 27’04.



Diferentemente da maratona em 2022, este ano corri a maior parte do tempo sozinho. Naquele momento estava encaixado no maior “pelotão” que teria durante toda a prova.

Na passagem pelo km 22, Calói se espantou de termos passado a marca da meia sem que houvesse notado. O “converseiro” seguia em alta, rs. “Como se estivessem numa mesa de bar”, diria o amigo Lourenço mais tarde em seus relatos sobre a prova.

Do alto dos seus 64 anos, Edvaldo estava com tanta sobra, que num determinado momento parou para perguntar a um grupo de pessoas que estavam assistindo a prova o nome de um certo prédio. Aos nos alcançar novamente revelou o motivo da sua curiosidade: “É que esse prédio aparece num troféu que tenho daqui” rs.

No km 25, foi minha vez de se espantar: Já?



Uma conferida no relógio, avisei que buscaria uma concentração maior para buscar a passagem do km 29 antes das 2h. Missão cumprida quase que na conta: 1h 59’57.

Do km 30 em diante, as ultrapassagens passaram a ser mais frequentes, aos poucos ia alcançando os atletas e ganhando posição.

Comemorando com Roque a conquista do seu sub -3

Por volta do km 32 alcancei o amigo Roque Jorge que seguia concentrado (e bem) em sua busca pelo sub -3, missão alcançada com sucesso que viríamos a comemorar mais tarde na área de chegada.

Lá pelo km 34 e 35, alcancei a amiga Ediane Pires (que viria a ser top 10 geral feminino com o excelente tempo de 2h57) e na passagem aproveitei para deixar meu incentivo e reafirmar minha condição de fã.

Ediane Pires

No km 38, o “Oswald Souza”em mim, já chegara a conclusão que “apenas” mantendo o ritmo que vinha fazendo (4’10/km) iria poder comemorar novamente um Recorde Pessoal na Maratona Internacional de Porto Alegre.

Menino, não é que bem nessa hora, fui acordado dos meus devaneios por um “todo serelepe”, Edvaldo Caloi?

- Encarnação, encarna aí um 3’40 (por km) e  vamos simbora.


Vou mentir não, acho que nem que eu quisesse iria poder ladeá-lo. Já me senti muito feliz em acompanhá-lo com os olhos e vê-lo emplacar um sub -2h55. Como não se inspirar?

Vôo controlado, feliz da vida, cruzei a linha de chegada estabelecendo nova marca pessoal nos 42,2km: 2h’55’45.

Havia feito o que entendia como o dever de casa na busca pelo pódio, agora era torcer e esperar para ver.

Falando em esperar...

Pataro e Marcondes festejando mais uma maratona para conta

Após encontrar-me com um vibrante Alan na área de largada, deixei-me por ali confraternizando com os atletas que iam chegando.

Por si só, cruzar uma linha de chegada de 42,2k, sempre será uma vitória.

Rebeca estabelecendo novo RP nos 42,2

Em breve a confirmação de que todos havíamos atingido a meta.

Enquanto aguardávamos a divulgação da lista de resultados, curtíamos as tradicionais resenhas de pós prova de uma maratona. 42,2k é sempre muito diferente e especial.

Sérgio Dórea

E  finalmente a lista afixada numa tenda próxima ao palco de premiação...

Soltaria fogos de artifícios (caso os tivesse em mão rs), com qualquer lugar que houvesse conquistado, mas confesso que o tanque de "contenteza"  transbordou quando pude ler meu nome e o do Professor Marcelo Augusti, a quem dedico essa singela vitória, como campeão da categoria 55/59. 

Não era condição sine qua non para ser feliz. Repito nunca deverá ser. A corrida nos ensina sempre muitas coisas que podemos levar para outras áreas da vida.  

Aquele resultado surgia da soma de tudo que fizemos de certo e/ou errado nesses 15 anos de maratonista, mas  a semente  da  alegria daquele momento havia sido plantada 1 ano antes, num projeto que deu 100% certo, afinal estamos falando de corridas com alto grau de competitividade que corro desde 2007, no caso da Corrida Cidade de Aracaju, 2008, Porto Alegre.

Sem "ter a vergonha de ser feliz" parti para ocupar o lugar conquistado.

Até a próxima!

.
Reencontro em Salvador em treino beneficente nas Dunas no feriado de Corpus Christi