segunda-feira, 18 de julho de 2011

AS DUAS METADES DA DOUBLE MARATHON 84 KM

A Maratona do Rio foi uma festa maravilhosa, mas o Desafio de corrê-la em dobro superou todas as expectativas!

Parte 1 - A "volta"
O relógio marcava 02 da manhã quando deixei o quarto para ir ao encontro dos ultramaratonistas Cristiano Marcelino e Nilton Amaral. Havia conseguido dormir apenas por três horas, mas me sentia extremamente descansado. Apesar da proximidade do Hotel Inglês com o Pórtico de chegada (local programado para nosso encontro), preferi seguir de táxi para o local da largada, um tanto para economizar as pernas para o "passeio" que viria logo a seguir, outro tanto visando ganhar algum tempo para conhecer os parceiros naquela viagem.

Ainda dentro do carro pude "reconhecê-los" por causa dos coletes refletivos em forma de X que haviam sido definidos em conversas telefônicas como um dos ítens de segurança. Junto aos Ultras estavam o filhinho de Marcelino (super animado àquela hora da madrugada) e sua esposa, que além de estar ali registrando a largada com filmagens e fotos, às 2:45 foi responsável por soar a buzina da largada da Double Marathon 84km.

O caminho de "ida" começara e em poucos minutos, finalmente, estava conseguindo me livrar daquele friozinho na barriga (junto com uma segunda pele que usei por 02km). A galera era boa de papo e logo conversávamos animadamente como se já nos conhecêssemos há muito tempo.

À altura de Copacabana havia um posto de Powerade sendo guardado por pessoas da organização, aproximei-me para pedir um isotônico e enquanto um rapaz dizia que ainda não podia entregar nada, outro que leu (e entendeu) o que estava escrito em minha camisa foi logo atalhando o amigo dizendo: "Pode pegar o que quiser". Peguei uma garrafa e acelerei o passo para voltar ao ritmo dos companheiros.

Nos bares espalhados pela orla, a turma da "night" (muitos sem saber realmente o que significava aqueles três homens correndo de coletes e lanternas) raramente ficava indiferente à nossa passagem e ouvimos de tudo: indagações em voz alta, aplausos, o famoso "lá vão os malucos" e, quando umas mulheres meio chapadas atropelaram um cone, que ajudamos a retirar de baixo do carro, até cantada recebemos.

A lua branca e enorme ainda boiava no céu quando vimos à frente um corredor solitário. Quando estávamos a ponto de alcançá-lo reparamos que ele tirou uma máquina digital e, aparentemente sem notar nossa presença, começou a filmar a si próprio enquanto corria e falava algo. Quando emparelhamos ele automaticamente nos perguntou numa voz alta (levava um mp3): estão fazendo a double? Respondemos que sim e ele nos contou que ficara sabendo e, inspirado nisso, tinha saído de sua casa (que era próxima ao pórtico da meia-maratona) e estava indo no sentido da largada da maratona para depois retornar junto com o povo também.

Apesar de ser apenas o convidado daquele Desafio, não fiquei muito à vontade quando após aquele breve papo fomos deixando "nosso" corredor para trás e reduzi o ritmo para explicar-lhe que teria muito prazer em seguir junto com ele, mas não poderíamos fazê-lo porque havia pouco tempo para cumprir os quilômetros que faltavam antes de ser dada a largada (o que não era problema para ele já que não instava inscrito) da maratona.

Às 7:15 da manhã, com 4h28 cumprimos a primeira meta. O corre-corre agora era para encontrar Pataro (com quem eu estava hospedado desde o sábado à tarde) e pegar uma sacola repleta de coisas (óculos, maltodextrina, proteína, etc) que lhe pedi para trazer.

Enquanto eu fazia a troca de figurino (sai colete refletivo, entra protetor solar) Pataro se mandava para um rápido aquecimento. Ao sair do guarda- volumes para uma padaria onde estavam Amaral e Marcelino ainda deu pra ver que ele foi se alinhar nas primeiras fileiras e desejei-lhe mentalmente sucesso em sua busca pelo sub 3:20.

Parte 2 – A “Ida”
Dez minutos após a largada, devidamente abastecidos (em meu caso, sanduiche de queijo com coca e uma xícara de café-com-leite), tomamos o caminho da "volta".

Por volta do 6° km (ou 48), vi os meus companheiros trocar cumprimentos com uma mulher a quem educadamente também cumprimentei com um balançar de cabeça e só depois disso é que li o nome dela na camisa e vi que se tratava da Ultra Sandrinha. Alegre com a surpresa, falei com ela mais efusivamente chamando-a pelo nome e ela, por sua vez, retribuiu-me um sorriso "xoxo" até que me perguntou num tom ultra entusiasmado "você que é Roberto?” (acho que ela também leu na minha camisa, rs), aí sim, entre risos, nos abraçamos de verdade. Até que enfim nos conhecíamos pessoalmente e o lugar do encontro não poderia ser melhor. Fiquei um pouco ao lado dela enquanto os meninos se afastavam e ela me disse que eu seguisse, pois não estava podendo ir mais forte do que já estava. Lá pelo final da prova ainda voltaria a encontrá-la.

Algum tempo após este encontro foi a vez de rever o corredor da madrugada que nos fez várias reverências enquanto passávamos, contando ao pessoal que estava ao lado dele sobre o nosso Desafio. Fiquei bem feliz em revê-lo e, como ele estava acompanhado, desta vez segui adiante mais tranquilo.

Por volta do km 12/54 o Amaral foi ficando um pouco para trás e todos tivemos que diminuir o pace para nos manter próximos. Após alguns quilômetros nesse novo ritmo, Marcelino, com a alegação que temia, neste ritmo menos fluido para ele, sofrer com algum tipo de cãibra ou dor que pudesse atrapalhá-lo no final da corrida, acertou com o parceiro que seguiria na frente comigo e que, caso mantivéssemos a frente, o aguardaríamos a 1 km do final para fazermos a chegada juntos.

Junto com Marcelino beiramos por muito tempo a casa dos 6’/Km. Isso enquanto não chegávamos num posto de hidratação, onde geralmente pegávamos vários copos d'água que dividíamos entre beber e jogar na cabeça. Também muitas vezes catávamos gelo para colocar num recipiente onde tomávamos coca-cola. Essas paradas fizeram com que várias vezes reencontrássemos corredores que havíamos passado antes, então criamos uma adversária "virtual" (uma menina que corria de saia junto ao seu namorado) e toda vez que ela voltava a nos passar eu dizia: “temos que ir, ela tá na frente” rs.

Na passagem do Túnel do Joá a Light fez umas animações com luzes que simulavam pessoas correndo e aplaudindo que ficaram muito legais.

Na Niemayer reencontrei Eduardo (que havia conhecido na corrida 02 de julho) e ele também fez uma senhora divulgação do nosso Desafio; gritava para o povo o que nós estávamos fazendo e isto aconteceu várias vezes durante o percurso já que, apesar de estarmos num ritmo um pouco mais forte, gastávamos mais tempo nas paradas para reidratação. No mesmo tom de incentivo do Eduardo houve também um homem (se não estiver errado, de Niterói) de barba, que toda vez que tornávamos a encontrar pedia aos expectadores que batessem palmas dobrado, pois estávamos fazendo a Maratona pela segunda vez naquele dia. Retribuía estes carinhos com aplausos para o público e nossos MC’s.

Também na Niemayer o Marcelino enfrentou uma queda de pressão, mas por sorte estávamos perto de uma mesa de hidratação cheia de gelo derretido e ele, valendo-se dos ensinamentos do Dean Karnazes (tática de Bad Water) sentou-se enquanto eu jogava o líquido mega gelado em sua cabeça. Após este banho, que foi seguido da ingestão de duas barras de proteína, tudo voltou ao normal e começamos a descida em direção ao Leblon.

Agora era só curtir a movimentação do povo, que é bem maior a partir dali, enquanto reabastecíamos em pleno vôo: batata-frita em Ipanema; banana e sequilho em Copacabana.

Deixamos a orla pegando a tão sonhada Av. Princesa Isabel. O cansaço era muito menor que o prazer de estar vendo a numeração subir tão rapidamente. Na enseada de Botafogo reencontrei a Ultra Sandrinha, que pediu que a esperasse após o final, mas acabamos nos perdendo.

Alguns minutos depois, recebi a ligação de Pataro me perguntando se eu já havia chegado. Respondi-lhe que estava no Km 40 e que estava tudo tranquilo no "longão". Como grande amigo que é, audivelmente eufórico pelo sucesso do nosso Desafio, só depois de muitos elogios é que foi me dizer que já estava indo para o Aeroporto e que a prova dele tinha sido RP (3h18).

A 1km do final, a esposa do Marcelino entregou-nos a faixa com a qual avançamos para a linha de chegada. Entre vários fotógrafos vi Tião fazendo o registro de nossa chegada e me mandando um sinal de ok. 
Com 4h48 de retorno, num total de 09h17, sob muitos flashs e aplausos cruzamos o pórtico.

Éramos esperados por Lucas Loos, repórter do Globoesporte.com, que logo começou a entrevistar-nos dizendo que não poderia aguardar a chegada de Amaral, pois precisava ir embora para publicar as matérias. O negócio começou a girar muito em torno de tempo e horários, então comecei a falar-lhe do caso do rapaz da madrugada e ele logo demonstrou interesse e passou a me perguntar coisas, inclusive, para minha surpresa, quando lhe disse meu nome ele deu um sorriso dizendo: “Ah! Você é o Roberto Encarnação, eu conheço seu blog” (claro que fiquei envaidecido com o reconhecimento).

Enquanto nos dirigíamos de volta ao km 41 para esperar o Amaral, percebi que o cara de barba acabara de chegar, fui parabenizá-lo e agradecer-lhe o incentivo durante a prova e dele ouvi a seguinte frase: "Parabéns a vocês! O que vocês fizeram é que é um grande incentivo para todos nós!". Obrigado por mais isso. Da mesma forma havia agradecido o Eduardo, que completou a prova enquanto ainda estávamos na área de chegada.

Aguardávamos o Amaral quando o Jorge Ultramaratonista apareceu e realmente pude comprovar o quão carismático é o cara. Atencioso com todos, em poucos minutos o vi incentivando dezenas de pessoas. Conhecer o Jorge foi outra coisa muito boa dessa viagem ao Rio.
Jorge e eu aguardando Amaral
Alguns minutos depois, eis que surge o Amaral. Com as pernas já meio travadas levanto-me junto com o Marcelino para fazer nova chegada (acho que vou mudar o nome para Double 85) com a faixa sendo carregada, desta feita, a seis mãos.

Vibrei com a chegada do companheiro que certamente enfrentou momentos difíceis na prova, mas teve a garra de ir até o fim. O mais importante certamente acontecera: além das novas amizades, estávamos todos de volta e com saúde.

No apagar das luzes, em meio às despedidas, o Organizador da Maratona (Spiridon) determinou que nos fosse entregue mais uma medalha para cada um e então finalmente tomei o caminho de volta para o Hotel com duas medalhas tilintando ao pescoço.

Assim que conseguir reunir as fotos colocarei um post ilustrando este magnífico dia. Valeu Ultras Nilton e Marcelino! Por enquanto deixarei aqui um link para a matéria que saiu no Globo Esporte.

Gostaria de agradecer a Samuel (www.correrebom.blogspot.com) pelo gentil telefonema que me deu no sábado à noite. Às vezes um pequeno gesto pode ter uma força que a gente nem imagina. Acabara de comer uma pizza e caminhava de volta para o Hotel, meio inseguro de como seria a "double marathon" e suas palavras de incentivo produziram em mim imediatamente uma assustadora auto-confiança.

A pedido dos meus amigos ciclistas, o bike-doação que seria amanhã foi adiado para a primeira terça-feira de agosto (dia 02). Então ainda temos uns dias para quem as pessoas que tenham interesse em participar doando roupa e/ou pedalando entrar em contato.
 
Boa semana!

12 comentários:

  1. Grande Roberto,

    Parabéns pela Double que foi uma empreitada e tanto, a cada frase lida me fazia imaginar as situações vividas por vocês.

    E com todo esse incentivo de anônimos acredito que a prova ficou melhor ainda!

    É a primeira vez que vejo uma organizadora de corrida se preocupar com atletas, gostei muito de saber da iniciativa deles.


    Um forte abraço!!

    Ótima semana!

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  2. Nossa que sensacional Roberto...pelo seu relato foi um passeio e tanto. Uso a mesma expressão que utilizou lá em cima. PASSEIO!!!

    Demais! E sair de SSA para conhecer Sandrinha no RJ??kkkk...tb esta daí só quer correr fora, nos abandonou.

    E o Jorge que pessoa hem...
    PARABÉNS pelo seu ultra e double marathon.
    DEMAIS!!!

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  3. Outra coisa quanto ao telefone de Samuel, nem se explica a gratidão que tenho por ele.

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  4. Parabéns! Adorei a empreitada e o relato dela. Incrível! Abraços.

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  5. Grande Roberto.

    Não sei se para muitos, mas pelo ao menos para mim você tem uma representação muito grande na corrida. Sempre vemos e ouvimos pessoas que correm distâncias maiores que as maratonas, porém elas são distantes de nós e ai fica aquela sensação... Não que se duvide, mas quando conhecemos pessoalmente uma pessoa capaz de fazer isso é diferente. Embora você seja um atleta diferenciado da forma com que você trata os demais nos deixa a sensação de que todos nós somos iguais embora saibamos que cada um tem o seu limite.
    Fico, ou melhor, ficamos todos felizes por mais esse objetivo conquistado e que não tinha dúvidas de que conseguiria. Acredito esta aqui falando por muitos amigos corredores e bloqueiros.
    Todos nós estamos orgulhosos de você, pois nesses 84 km foi como se você ali estivesse correndo por nós que certamente teríamos a vontade de também poder participar, mas como falei dos limites, cada um tem o seu.
    Parabéns a vocês três, mas em especial a você por mais essa brilhante conquista.
    Não sei se você havia percebido mais como comentário num desses seus post coloquei a sugestão de que como aqui ainda não temos uma maratona você poderia encabeçar esse desafio dos 42 km em uma dessas meias maratona que ocorrerão aqui em Salvador e se fazer algo parecido com esse que você participou. Sugiro a do Iguatemi.
    Em tempo parabenizo o Pataro pelo seu RP.
    Grande abraço e que venham os novos desafios.
    Quanto ao telefonema, foi apenas uma forma de retribuir a dedicação que você tem para com os demais atletas corredores.

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  6. Samuel!
    Uma das melhores coisas de ter entrado para o mundo da corrida são as amizades que vão sendo construídas. E o fato de já se ter uma paixão em comum como ponto de partida torna este processo bem mais tranquilo.
    Obrigado pela força!
    Estou arquitetando já a double na Meia do Iguatemi e espero transforma-la numa festa repleta de amigos, com direito a camisa, apoio, etc. a exemplo dos nossos longões.

    É muito bom encontrá-la por aqui! Quando iremos dar umas pedaladas e/ou corridinhas?
    Dart!
    Obrigado pelo comentário...e quanto ao Samuel já viu ele aí novamente né? rs
    Lucas
    O lance lá no Rio é que a organização através do Marcelino já estava sabendo de nossa "aventura" inclusive havia prometido algum tipo de apoio, quando nos encontrou vivos na chegada resolveu fazer algo diferente e nos entregar uma segunda medalha!

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  7. ---------\\\\|/---------
    --------(@@)-------
    --ooO--(_)--Ooo--
    Roberto meu camarada, adorei te conhecer aqui no Rio, cada passada que eu dava eu pensava em vcs na Double, foi difícil para vcs, mas posso falar que com certeza no final valeu a pena a conquista, seja bem vindo ao time de Ultramaratonistas e quem sabe ano que vem eu não faço este desafio com vcs, vc também é um cara muito legal e atencioso muito obrigado por me citar aqui, o relato de sua experiência aqui no blog ficou excelente cara e com certeza vc não fizeram 84Km e sim 85Km, muito nobre a sua atitude e do Marcelino em esperar o amigo AMARAL para terminar os 3 juntos é por isso que amo correr Ultras pq nós somos solidários a um ao outro. Legal saber que vc e a Sandrinha se conheceram durante o percurso ela é gente bonissima... Meu camarada que Deus te abençoe e te ilumine que ele possa te abençoar com muita saúde para continuar correndo muitas e muitas Ultras.

    Um forte abraço,

    Jorge Ultramaratonista
    www.jmaratona.com

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  8. Valeu mano, grande saúde rsrsrsrs... Abraços!!!

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  9. Parabéns por mais esta empreitada.
    Logo estará dobrando o Ultraman!
    Bons treinos!

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  10. Robert! vc e um maluco beleza,legal quando eu crescer quero ser igual a vc,parabèns um grande abraço!!!

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  11. Salve meu irmaozinho!!!

    Muito legal o seu relato... uma aventura bem legal mesmo... quanto ao sucesso,como ja falei antes, nao restava qualquer duvida, ja que voce é bem disciplinado quanto aos treinos e preparativos.
    Globo Esporte, Revistas, Jornais... oq mais falta agora? novelas, cinema, o oscar...
    como diria aquele apresentador, o ceu é o limite...

    abraços fraternais

    Rodrigo

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  12. Vamos no bike-doação? Não aceito resposta negativa.
    Caso esteja com roupa para doar e sem magrela, tenho uma bike para emprestar.
    Se for o caso de estar de bike mas sem roupa para doar tenho aqui sacos para levar e ainda tem o saco de pão e as jarras de café.
    Domingo tem pedal cedo vê se entra em contato.
    Galera o convite vale pra todo mundo aí e muito obrigado pelos comentários.

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