“É hoje o dia da alegria!”
Ainda de olhos semicerrados, curtindo a preguiça de uma deliciosa noite de sono, o refrão da música do Caetano Veloso invadia minha cabeça.
Com os termômetros marcando 6º C, o dia amanhecera e chegara a hora de ir ao baile. A bordo da “carruagem” da Tele Táxi Cidade, Manoel, Val e Pataro. Hospedados noutro canto, naquele mesmo horário, Jacson e Lourenço também se deslocavam para a festa.
Com Pataro, Val e Manoel indo para o "jantar de massas" na noite anterior |
Aliás, naquele domingo parecia que todos os caminhos levavam à Avenida Diário de Notícias, em frente ao Barra Shopping Sul, na zona sul da capital gaúcha. Os números noticiavam 15.000 inscritos de 16 países diferentes (nas três distâncias da prova).
Então, o inevitável engarrafamento…
A cerca de um quilômetro do nosso destino, nosso táxi “ancorou na passarela” e após “desembarque fascinante”, no trote, fomos experimentando a diminuição da sensação térmica provocada pelo cortante vento frio que vinha do Guaíba.
Pataro festejando o RP e sub -4 de Manoel |
Após meses de preparação, e tendo entregue praticamente 100% dos treinos propostos pelo Mestre Marcelo Augusti, seguíamos conscientes de que estávamos aptos a tentar nosso melhor na Maratona Internacional de Porto Alegre. Exceção apenas para o amigo Pataro que, prejudicado por alguns contratempos, teria a nobre missão de “puxar” Manoel em sua corrida pelo sub-4.
O AQUECIMENTO
Depois de um providencial aquecimento dentro do shopping, restando apenas 10 minutos até a largada, ingressei no fundo do Pelotão A, ali reencontrando o amigo Sandoval, que também participara do nosso treino soltura no dia anterior.
Com Sandoval aguardando a largada |
Lamentável sempre, o início da prova seria retardado em 10 minutos. Lembro-me, num instante, enquanto buscava movimentos para manter a temperatura, de observar o tanto de tênis de placa que estava ao meu redor. Depois, a contagem regressiva: 5, 4, 3, 2, 1! Um abraço desejando boa prova ao amigo e, “cheios de euforia para desfilar”, partimos.
A MARATONAMesmo saindo em ritmo tranquilo (para evitar quaisquer dos típicos acidentes de largada), passamos o primeiro quilômetro com 4’12.
Aumentando gradativamente o ritmo, a prova foi se desenrolando e os tempos pretendidos começaram a aparecer no visor do meu Garmin a cada soar de quilômetro.
Com tranquilidade, alcancei o km 5 com 20’41 e o km 10 com 41’15. 55 segundos depois o alarme programado para soar a cada 42’10, me faria lembrar que começara bem o caminho para a tentativa de quebrar o recorde pessoal, cuja marca era 2h57’48.
Foi justamente nessa altura da prova que fui ultrapassado por uma mocinha que corria de forma tão consistente quanto elegante (mais tarde viria a saber que estava na meia-maratona) a quem, imediatamente, elegi como marcadora de ritmo.
O gaúcho Lourenço Del Ponte estreando em grande estilo em POA (3h07) |
Por volta do km 12,5 retornávamos na arena. Com a inversão do sentido da largada (que nesta 37ª edição saiu na direção do Mercado Municipal / Usina do Gasômetro) agora iríamos fazer o que eram tradicionalmente os 8,5 km iniciais.
Somente pelo 19º quilômetro foi que comecei a perceber o enorme pelotão que seguia alguns metros à minha frente.
Deixando minha coelha (Ana Clise) que chegaria em 13º geral com pódio de categoria |
A partir dali, desejando um bom final de prova à minha coelha, aumentei o ritmo para ver se conseguiria entrar no bonde.
O incremento na velocidade levou-me a fazer o próximo quilômetro, que viria a ser o mais rápido de toda a maratona, em 3’56.
Bonde Sub -3 com Mari Luchezi em destaque |
A passagem pela marca da meia maratona com o tempo de 1h27'15” (tempo idêntico ao da Meia em Feira de Santana na semana anterior), somada à sensação de estar me sentindo bem inteiro, trouxeram-me a esperança de estar no caminho certo para a quebra do recorde pessoal.
Entretanto, com planos de A a Z (sempre! rs), este último consistindo em chegar com saúde para próxima e com qualquer tempo, mesmo que não conseguisse superar a antiga marca, sentia que o plano B - correr a maratona abaixo de 03 horas – já começava a delinear-se possível.
E então, por volta do km 22, veio o encaixe no Pelotão…
“No meio de uma gente tão modesta”
Nas provas grandes, correr em pelotão não chega a ser uma novidade para mim. Ali mesmo na Maratona de Porto Alegre (onde estava fazendo minha nona participação) já o fizera várias vezes, mas preciso registrar que nunca antes vivera uma emoção tão grande.
Desconhecidos entre nós em sua maioria, seguíamos, cerca de 40 pessoas, mastigando os quilômetros enquanto nos ajudávamos e motivávamos mutuamente. Éramos como se fôssemos um organismo vivo!
Na altura do km 25, um rápido momento de tensão quando 03 corredores se embolaram e foram ao chão. “Como uns gatos” (assim diria o Tadeu Schmidt) a turma levantou-se e tratou de reencaixar-se no bonde.
Lá pelo 27, a tensão agora era toda minha. O cadarço molhado do KR5 desamarrou. Importante ressaltar que calço e descalço todos meus tênis sem tirar os nós.
Acelerei um pouco mais e busquei um lugar mais alto para fazer a amarração, mas os dedos enrijecidos pelo frio (além de ter dois deles quebrados) não me deixavam tracionar direito os cadarços. Abortei a tentativa e tornei a entrar no bonde.
Jacson estreando com 3h31 |
Há muito que havia notado que o rapaz que parecia ser o principal responsável pelo bonde não estava inscrito. Com a facilidade que ele estava correndo, já havia julgado que certamente deveria correr os 42 para casa de 2h40.
Acelerando para ficar ao seu lado, contei-lhe os detalhes da minha tentativa frustrada de amarrar o tênis.
O simpático Gilberto Castilhos mostrou-se logo disposto a ajudar. Disse-lhe que daria outro “tiro” para fazermos o pit stop na frente do bonde. Assim que emparelhamos ele pediu que eu escolhesse a hora de fazermos a operação e, aproveitando-me de uma pequena elevação próxima, parei de imediato. Rapidamente estávamos de volta ao jogo.
Graças ao Giba, pude voltar a concentração inteiramente para a prova que, passado aquele sufoco, ocorreu sem grandes sustos. Corria encaixado e sem fazer muitos cálculos em relação ao Recorde Pessoal.
Com exatas 2h passava a marca do Km 29, chegando ao 32 com o Garmin acusando 2h13.
Sentindo-me confiante, pouco tempo depois deixaria o bonde, no que acabei sendo acompanhado por Giba, Eduardo Wust e a impressionante Mari Luchezi. Todos eles chegariam levemente à minha frente.
Com Giba e Eduardo nos quilômetros finais da prova |
Na passagem pelo km 40, mesmo já sabendo que a marca cairia, busquei na base do “haja caretas” aumentar um pouco mais o ritmo.
Com as turbinas em potência máxima, voei para a linha de chegada e, com a sensação de não haver “na avenida alguém mais feliz que eu”, pude conferir no cronômetro a nova marca pessoal estabelecida: 2h56'25".
Antes, ainda busquei, esperançoso (oh, inocência! rs), e consegui descobri minha colocação na categoria: 11º, bem longe do pódio. (rs). Nada que abalasse a moral rs. Afinal de contas, não é todo dia que se consegue baixar tempo quando se tem 54 anos de idade.
Com o Prof. Marcelo Augusti |
Minha primeira mensagem, como não poderia deixar de ser, foi para o Professor Marcelo Augusti (Mr. Running), que tem o dom de sempre me fazer acreditar.
Com Dr. Douglas Hora e Ivan Luz na Clinica Larmonie nos ajustes pré-competição |
A Deus, a todas as pessoas que vibram positivamente, aos parceiros e amigos dos treinos cotidianos, agradecer, agradecer, agradecer.
Falando nos amigo, em breve confirmaria que todos da turma haviam atingido sua meta.
"Diga espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz que eu?" |
Destaque especialíssimo para Val que treinando para maratonas desde 2019 (tendo inclusive sido vice-campeã geral na Runners 42k e terceiro lugar geral nos 55k da UAI Reverse) finalmente pode fazer sua estreia numa prova oficial, com a invejável marca de 03h56'51
Pódio Geral Masculino - Campeão - o baiano Geilson dos Santos |
Acabada a diversão, chegara a hora de voar de volta para Salvador.
Parabéns meu amigo!! Você é referência!! Idade não diz nada!! Eu, com 57 anos, fiz meu RP nos 42 anos! Imagine você? Haverá novos RPs . 2023 tô em POA!! Parabéns a todos do grupo!@ 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirRP merecido. Pessoa dedicada, disciplinada e incentivadora de todos que dividimos os treinos. Muito emocionante seu relato da prova, organismo vivo o pelotão, que massa. Parabéns Roberto! Vc merece e a todos pelas suas conquistas, Val, Manu, Lourenço e Jacson. Vamos que vamos!
ResponderExcluirPataro
Eu vim descendo a serra cheio de euforia para desfilar... Desfilei junto de vcs e nenhum de nós deu chances para o riso chorar! Será que fomos por instantes donos dessa festa? Tenho certeza que em cada chegada fomos sim! E seguiremos juntos na eterna luta do rochedo contra o mar! Muito obrigado por fazer parte desse desfile desde os preparativos!
ResponderExcluirParabéns campeão 🏆. Sua dedicação é empenho na busca de seus objetivos sempre é recompensada.
ResponderExcluirMaravilha...
ResponderExcluirEm breve estare de volta as competições !
Parabéns, Grande Robert! Vocês são incríveis! A alegria que demonstras é mesmo inspiradora ! Abracão de seu amigo Guga! 🙏🤝
ResponderExcluirVcs são realmente incríveis e brilhantes e alegria de vencedores, equipe se preparou bem, treinou unida, com consciência e constancia. Cada treino e prova são obras que ficaram para a vida!!!! Parabéns e meu respeito a cada um que por merecimento conseguiu realizar essa prova com muito sucesso e êxito, alguns de quebra com RP👏👏👏👏👏👏
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