Recanto Matista e o Troféu |
Na última sexta-feira, finalmente, chegava a hora de desembarcarmos em Curitiba para correr a principal prova-alvo deste segundo semestre: A Ultra-maratona do Paraná.
Era bom estar em solo curitibano novamente, a última e única vez que ali estivera havia sido numa viagem de bike de Salvador ao Uruguai.
Junto com o amigo Manoel (que estrearia em provas desse tipo correndo 06h), dirigimo-nos ao Recanto Marista, uma propriedade particular que fica na Rodovia dos Minérios, na cidade de Almirante Tamandaré, parte da grande Curitiba.
Quanta paz naquele local! quantos tons de verde! uma festa para os olhos e para o espírito. O coração se aquecia com aquela sensação de havermos cruzado um portal e sabermo-nos privilegiados por fazer parte daquela tribo de corredores que ali iria poder brincar de correr durante o final de semana.
Mal arreamos as malas fomos conhecer a pista, a famosa pista de 750 metros ao redor do lago. A ultra-maratona do Paraná tinha opções para todos os gostos: 48h, 24h, 12h, 6h, 3h e 1h.
Passava um pouco das 15h e àquela altura, os atletas da prova principal (48h), que haviam largado às 08 da manhã, já estavam com 07 horas de corrida, entre eles o amigo e multi-campeão Delino Tomé (65-69). Os bons reencontros já estavam acontecendo.
Muitos outros encontros e reencontros ainda viriam. No fim, esse é o maior legado das ultra-maratonas. A sensação família deste tipo de prova, o respeito pelo esforço do outro, o sorriso de encorajamento, a preocupação com a dor do irmão de viagem são muuito superiores à questão competitiva.
Naquele primeiro momento três coisas me surpreenderam no circuito:
1. O fato de haver duas ladeiras consideráveis (uma subindo e outra descendo);
2. A irregularidade do piso, que mescla barro e grama; e
3. A necessidade de se fazer "manualmente" o registro de cada volta, em vez de um pórtico onde fosse registrada cada passagem do atleta.
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Confesso que essa necessidade de diminuir, quase parar, a cada volta para esfregar uma pulseira num sensor (bem que me agradei das ladeiras / irregularidades rs) foi mais decisiva para a frase que imediatamente disse a Manoel: "Adeus, meta de RP em quilômetros".
O que foi sábia e imediatamente retrucado pelo amigo: "Mas será para todos".
Sexta-feira, 20h - A largada da primeira bateria noturna das 12h
Às 20h seria dada a largada da turma que brincaria de correr 12 horas na primeira noite.
Para variar, cheguei em cima da hora, e meu modelito bermuda e camiseta, contrastante com os dos outros 06 atletas (bem mais agasalhados) foi o assunto antes de soar a buzina de largada. "Tá com coragem, mesmo!"
Partindo em ritmo condizente com a missão, em poucos minutos nada mais importava... a prova finalmente estava acontecendo e eu me sentia incrivelmente feliz por estar ali.
Com o sobe e desce do circuito, logo entendi que não teria como buscar manter um ritmo constante. Melhor para mim, pois meu Garmin, que ameaçara nem ligar, não foi capaz de resistir até o final da prova.
Corri um bom tempo ocupando a quarta colocação. Apesar de às vezes ter que enfrentar "engarrafamento" para registrar a volta, era muito interessante o fato de haver um monitor que dava, instantaneamente, informações do número de voltas concluídas / km percorridos, colocação geral da modalidade e distância em relação aos atletas da sua categoria.
Era bom estar em solo curitibano novamente, a última e única vez que ali estivera havia sido numa viagem de bike de Salvador ao Uruguai.
No shopping Estação |
Junto com o amigo Manoel (que estrearia em provas desse tipo correndo 06h), dirigimo-nos ao Recanto Marista, uma propriedade particular que fica na Rodovia dos Minérios, na cidade de Almirante Tamandaré, parte da grande Curitiba.
Quanta paz naquele local! quantos tons de verde! uma festa para os olhos e para o espírito. O coração se aquecia com aquela sensação de havermos cruzado um portal e sabermo-nos privilegiados por fazer parte daquela tribo de corredores que ali iria poder brincar de correr durante o final de semana.
Mal arreamos as malas fomos conhecer a pista, a famosa pista de 750 metros ao redor do lago. A ultra-maratona do Paraná tinha opções para todos os gostos: 48h, 24h, 12h, 6h, 3h e 1h.
Passava um pouco das 15h e àquela altura, os atletas da prova principal (48h), que haviam largado às 08 da manhã, já estavam com 07 horas de corrida, entre eles o amigo e multi-campeão Delino Tomé (65-69). Os bons reencontros já estavam acontecendo.
Karine e Delino |
Muitos outros encontros e reencontros ainda viriam. No fim, esse é o maior legado das ultra-maratonas. A sensação família deste tipo de prova, o respeito pelo esforço do outro, o sorriso de encorajamento, a preocupação com a dor do irmão de viagem são muuito superiores à questão competitiva.
Naquele primeiro momento três coisas me surpreenderam no circuito:
1. O fato de haver duas ladeiras consideráveis (uma subindo e outra descendo);
2. A irregularidade do piso, que mescla barro e grama; e
3. A necessidade de se fazer "manualmente" o registro de cada volta, em vez de um pórtico onde fosse registrada cada passagem do atleta.
Confesso que essa necessidade de diminuir, quase parar, a cada volta para esfregar uma pulseira num sensor (bem que me agradei das ladeiras / irregularidades rs) foi mais decisiva para a frase que imediatamente disse a Manoel: "Adeus, meta de RP em quilômetros".
O que foi sábia e imediatamente retrucado pelo amigo: "Mas será para todos".
Sexta-feira, 20h - A largada da primeira bateria noturna das 12h
Às 20h seria dada a largada da turma que brincaria de correr 12 horas na primeira noite.
Para variar, cheguei em cima da hora, e meu modelito bermuda e camiseta, contrastante com os dos outros 06 atletas (bem mais agasalhados) foi o assunto antes de soar a buzina de largada. "Tá com coragem, mesmo!"
Partindo em ritmo condizente com a missão, em poucos minutos nada mais importava... a prova finalmente estava acontecendo e eu me sentia incrivelmente feliz por estar ali.
Com o sobe e desce do circuito, logo entendi que não teria como buscar manter um ritmo constante. Melhor para mim, pois meu Garmin, que ameaçara nem ligar, não foi capaz de resistir até o final da prova.
Corri um bom tempo ocupando a quarta colocação. Apesar de às vezes ter que enfrentar "engarrafamento" para registrar a volta, era muito interessante o fato de haver um monitor que dava, instantaneamente, informações do número de voltas concluídas / km percorridos, colocação geral da modalidade e distância em relação aos atletas da sua categoria.
Neblina pairando sobre o lago (temperatura foi a 10º durante a madrugada |
Com aproximadamente 1 hora de prova, passei direto a ocupar o segundo lugar. Provavelmente ultrapassara os dois corredores à minha frente numa mesma volta. Naquele momento, Marcos Roberto, o Caveira, então líder da prova, já ia com 03 voltas de vantagem.
Paulatinamente fui retirando estas voltas, e exatamente no momento em que ia completar 30km tomei a dianteira.
Aquilo era apenas parte do plano, pois sabia que o grosso dos corredores largaria na noite seguinte (na segunda bateria noturna), com a presença de grandes atletas, um deles ninguém menos que Raphael Bonatto.
Era preciso, portanto, foco total e, sinceramente, nesse aspecto, posso dizer que saí com a consciência tranquila, pois apesar de já ter uma distância segura do meu oponente direto daquela noite, mantive-me o tempo inteiro em movimento
E assim, às 08h da manhã, após 12 horas ininterruptas de corrida, sem nenhuma caminhada, fechamos a missão com a marca de 111,75 quilômetros. Um resultado impossível de ser alcançado sem o carinho e o apoio, durante toda a prova, do amigo Manoel.
Amanhã seria a vez dele correr, e tudo o que eu queria era poder retribuir à altura.
Sábado
Na mesma hora em que deixávamos a pista, os atletas que iriam fazer 24h começavam sua jornada, passando a ser os novos companheiros dos "meninos" que estavam correndo as 48h.
Entre essas crianças, o mais acarinhado e admirado era sem dúvida seu Antônio. Não era pra menos, 79 anos e ali fazendo cálculos o tempo todo para atingir novas marcas pessoais.
Após uma noite inteira sem dormir, o silêncio do Recanto Marista soava como uma melodiosa cantiga de ninar. O resultado não é difícil de imaginar não é?
Lá para as 15h pegamos um Uber para a cidade, a fim de arriscar um lanche diferente do que nos era oferecido na forma delivery na pousada.
Como caiu bem aquele açaí na pequena Almirante Tamandaré...
Sábado, 20h - A largada da segunda bateria noturna das 12h
Como era de se esperar, o número de concorrentes era bem maior que na noite anterior. O formato da prova, permitindo que as pessoas corressem as 12h em dias diferentes, estava me fazendo viver pela primeira vez a incômoda experiência de ter que "ligar o secador".
Após umas voltas, quando me pareceu que todos iriam superar os quilômetros por mim percorridos na noite anterior, resolvi chamar Manoel para ir embora para casa. Além de angustiante demais aquela situação, precisávamos dormir um pouco antes da entrada do amigo na pista, às 02h da manhã.
Domingo, 02h da manhã
Pontualmente, como em todas as outras modalidades, a turma das 06 horas entrou em campo, injetando sangue novo na corrida. Isso, com certeza (olha o choro aí gente rs), foi algo que fez falta na primeira noite.
Para que se tenha uma ideia, no período em que estive fora do meu melhor ritmo na prova, andei pegando o vácuo de um corredor que estava fazendo as 48h, então certamente, ter uma turma entrando às 02 da manhã era uma coisa bem positiva para quem já estava lá há mais tempo.
Dividido entre dar suporte a Manoel e avaliar como estava a turma das 12 horas, postei-me ao lado do monitor. Para meu desespero (rs), àquela altura os ponteiros já iam com mais de 60km. A lista dos possíveis nomes a superar minha quilometragem, porém, havia diminuído para 02: Maicon Scheuer e Raphael Bonatto.
Enquanto isso, Manoel esbanjava alegria, confirmando o que sempre dissemos a ele: "Você tem o verdadeiro espírito do ultramaratonista".
Resolvi só voltar a olhar novamente o monitor às 5h da manhã, momento em que a turma das 3h entraria na pista, e aí, pelos meus cálculos, a "luta" pela vitória já estava polarizada.
Na verdade, ali de fora, lamentava muito o fato de não estar correndo naquela mesma bateria. Não que isso fosse uma certeza de mudar o resultado que se confirmou depois, mas pela emoção que certamente propiciaríamos à competição. Maicon dava show de manutenção de ritmo.
Com menos de 4 horas e meia, Manoel completou a maratona. Pronto! agora tudo seria lucro. Restava ainda 90 minutos, e como ele mesmo costuma cantarolar, tava tudo "tranquilo e favorável".
Às 07 horas da manhã, todos, inclusive o simpaticíssimo Tibes, locutor da prova, que, não obstante as horas acumuladas de trabalho, manteve inabalado o seu alto astral, já sabíamos que em breve "o baiano" deixaria o primeiro lugar, posto que ocupava desde a sexta à noite. "Pelo menos você será o atleta que mais tempo liderou a prova", brincava o incansável Tibes.
Exatamente às 07:53 Maicon cruzava o pórtico assumindo a liderança. Apesar de até então não ter dado mostras de saber quem era "o cara que fez 111km na noite anterior", seu primeiro gesto foi de abraçar-me. Fiquei feliz com aquilo. Como não poderia deixar de ser, a vitória estava em boas mãos.
M. Scheuer ainda viria a fazer mais uma volta, completando 113,25km.
Quase no mesmo instante, Bonatto, superando a quilometragem de Caveira na noite anterior, assumia a terceira colocação geral.
Roberto Magagnin, outro atleta a correr na segunda noite, na quinta colocação geral, completava enfim o pódio geral masculino das 12h.
E Manoel?
Manu deu show de simpatia como sempre. E, ao que parece, as noites perdidas em nossos treinos específicos para a prova foram muito bem assimiladas. Com 54,75km percorridos, Manu entrou de vez para o mundo das ultras. Bem vindo ao time!
Pataro que no mesmo sábado mandou 101 km na UltraOne em Salvador
Na mesma hora em que deixávamos a pista, os atletas que iriam fazer 24h começavam sua jornada, passando a ser os novos companheiros dos "meninos" que estavam correndo as 48h.
Entre essas crianças, o mais acarinhado e admirado era sem dúvida seu Antônio. Não era pra menos, 79 anos e ali fazendo cálculos o tempo todo para atingir novas marcas pessoais.
Seu Antonio que mesmo enfrentando dificuldades com o Ciatico fecharia 166 km |
Lá para as 15h pegamos um Uber para a cidade, a fim de arriscar um lanche diferente do que nos era oferecido na forma delivery na pousada.
Como caiu bem aquele açaí na pequena Almirante Tamandaré...
Sábado, 20h - A largada da segunda bateria noturna das 12h
O prédio onde ficava a hospedagem estava a cerca de 1km do local propriamente dito da corrida, entretanto perto da hora de entrar a nova turma das 12h, não resistindo à curiosidade, fomos ver a largada.
Como era de se esperar, o número de concorrentes era bem maior que na noite anterior. O formato da prova, permitindo que as pessoas corressem as 12h em dias diferentes, estava me fazendo viver pela primeira vez a incômoda experiência de ter que "ligar o secador".
À esquerdam Bonatto |
Domingo, 02h da manhã
Pontualmente, como em todas as outras modalidades, a turma das 06 horas entrou em campo, injetando sangue novo na corrida. Isso, com certeza (olha o choro aí gente rs), foi algo que fez falta na primeira noite.
Para que se tenha uma ideia, no período em que estive fora do meu melhor ritmo na prova, andei pegando o vácuo de um corredor que estava fazendo as 48h, então certamente, ter uma turma entrando às 02 da manhã era uma coisa bem positiva para quem já estava lá há mais tempo.
Manoel : Tranquilo e Favorável |
Enquanto isso, Manoel esbanjava alegria, confirmando o que sempre dissemos a ele: "Você tem o verdadeiro espírito do ultramaratonista".
Maicon Scheuer |
Na verdade, ali de fora, lamentava muito o fato de não estar correndo naquela mesma bateria. Não que isso fosse uma certeza de mudar o resultado que se confirmou depois, mas pela emoção que certamente propiciaríamos à competição. Maicon dava show de manutenção de ritmo.
Com menos de 4 horas e meia, Manoel completou a maratona. Pronto! agora tudo seria lucro. Restava ainda 90 minutos, e como ele mesmo costuma cantarolar, tava tudo "tranquilo e favorável".
Às 07 horas da manhã, todos, inclusive o simpaticíssimo Tibes, locutor da prova, que, não obstante as horas acumuladas de trabalho, manteve inabalado o seu alto astral, já sabíamos que em breve "o baiano" deixaria o primeiro lugar, posto que ocupava desde a sexta à noite. "Pelo menos você será o atleta que mais tempo liderou a prova", brincava o incansável Tibes.
Tibes |
M. Scheuer ainda viria a fazer mais uma volta, completando 113,25km.
Quase no mesmo instante, Bonatto, superando a quilometragem de Caveira na noite anterior, assumia a terceira colocação geral.
Maicon, Bonato, Encarnação (Caveira não foi na premiação) e Roberto Magagnin |
E Manoel?
Manoel: Campeão da Categoria 45/49 nas 6hs |
Manu deu show de simpatia como sempre. E, ao que parece, as noites perdidas em nossos treinos específicos para a prova foram muito bem assimiladas. Com 54,75km percorridos, Manu entrou de vez para o mundo das ultras. Bem vindo ao time!
Rondinelli e Karine campeões das 48h do Paraná - 264 e 255 km respectivamente |
Professor Marcelo Augusti |
Missões cumpridas |
Regenerando em Salvador |
Passagem por Curitiba no ano de 2.000 |
Pataro que no mesmo sábado mandou 101 km na UltraOne em Salvador
Karine e Delino recebendo as medalhas do organizador Edgard |
Com Seu Antonio no Aeroporto |
Com Karine no aeroporto |
Pódio Geral das 48h |
Você é SHOW
ResponderExcluirParabéns Roberto! Você e Manuel! Fizeram bonito , e em um lugar lindo com essa galera maravilhosa, que são os ultramaratonista. Deus te abençoe e possamos nos manter assim, fazendo o que gostamos muito. Um forte abraço
ResponderExcluirPataro
Excelente referência para a prova, por aqui podemos ter uma ideia "real " e a sensação de estarmos correndo junto de ti, a cada passada. Parabéns
ResponderExcluirBruno Fraga
Bravos!
ResponderExcluirParabéns, Roberto e Manorl. Vocês deram show e aumentaram pela admiração por esse mundo lindo e louco das corridas. Feliz por ter tido a oportunidade de acompanhar um pouco do processo que os levaram até esse grande momento. Vamos que vamos que 2020 ainda terá muito mais!
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