sexta-feira, 23 de outubro de 2015

12º DESAFIO PRAIAS E TRILHAS - 2015



 
 
A Praias & Trilhas era uma Corrida que há muito fazia parte dos meus sonhos... Depois do monte de escorregões e tombos que sofri nestes dois dias de prova seria até natural que agora ela passasse a fazer parte dos meus pesadelos (#sóquenão rs).
A charmosa prova organizada harmoniosa e eficientemente pela ECO FLORIPA (leia-se Prof. Carlos Duarte e família) costuma enfeitiçar seus participantes e eu, que definitivamente não sou uma exceção, já me encontro cheio de saudades e na torcida para que ela continue acontecendo, nem que seja a cada 2 anos como vem sendo.
Devido à enorme dificuldade enfrentada pelos atletas (mesmo para quem faz a prova em trio) e, creio eu, às assustadoras passagens nos altíssimos morros à beira mar, o número de participantes vem caindo, deixando quase inviável a realização deste desafio, que exige dos seus organizadores uma complicada e dispendiosa logística.
A prova este ano teve como principais destaques o frio (o sol só deu as caras na metade do segundo dia) e o lamaçal, em função das fortes chuvas que castigaram a cidade de Florianópolis nas últimas 03 semanas.
Trazendo na bagagem, entre outras provas do gênero, a experiência de 03 edições do Desafrio Urubici, os 15 graus que tivemos nas largadas do primeiro e segundo dia era algo a se festejar, já a lama...
1º Dia
Às 5:00 da manhã os ônibus da organização deixaram a Praia da Joaquina com destino à Caeira da Barra do Sul, local da largada do primeiro dia.
Após conferência do kit obrigatório (mochila, apito, manta de sobrevivência e atadura) e pesagem (em que a balança acusou 72,6kg), pontualmente, como tudo mais nesta prova, às 7:30 foi dada a largada.
Seguindo a estratégia traçada, corri os 4km iniciais em ritmo moderado, aproveitando um dos poucos trechos de asfalto (e o mais longo deles) de todo final de semana.
Com Rubem nos 4km iniciais
Em menos de 17' a brincadeira começou de fato. Mal entrara na trilha e lá vinha a primeira queda. Assustado, lembrei-me das palavras do Prof. Duarte durante o Congresso Técnico:
"O que vocês irão encontrar não são exatamente trilhas. Deveria existir uma outra categoria para enquadrar aqueles caminhos cheios de pedras. Como ainda não foi criada uma nova nomenclatura, continuamos chamando de trilhas mesmo".
 
 
Alguns escorregões depois e novamente tornava a desabar naquele chão de pedras enlameadas. Neste meio tempo todos começavam a me ultrapassar, inclusive o amigo Rubem, que vinha vindo junto comigo e se encontrava visivelmente mais estável a bordo do seu Asics Nimbus, o que não o salvou de uma espetacular queda, com reação digna de uma narração à la Tadeu Schmidt:
"Como um gato, o cara rolou sobre seu próprio corpo, pondo-se de pé tão rápido que sequer recebeu uma ultrapassagem das pessoas que iam na sua cola".
 Com alívio vi chegar a primeira praia, enfim poderia voltar a correr. Mera ilusão. O trecho era somente uma pequena passagem na areia para voltar a subir e (grrrr) descer os enormes morros à beira-mar.
 
rápida passagem na praia

Todos estavam sofrendo com o lamaçal mas não havia como negar, errara no tênis. Nunca fui tão educado em minha vida, bastava aparecer alguém atrás de mim e eu ia logo dizendo: pode passar, pode passar rs.
Novos escorregões e tombos fizeram-me abandonar por completo os planos mais ambiciosos que carregara comigo desde Salvador. Na verdade estava sentindo um medo jamais experimentado em outra prova e minha maior ambição naquele momento era chegar vivo. Estava apavorado e até mesmo receando antecipadamente, caso sobrevivesse, a maratona do 2º dia.
início de prova e já todo enlameado
 Com ansiedade aguardava a chegada do Km 27. Sabia que a partir daquele ponto até a chegada na Praia de Joaquina  a corrida toda seria pela areia da praia e me agarrava à esperança de que logo voltaria a sentir-me melhor.
Veio enfim o km 27! Quanta felicidade! A previsão se confirmou. Dali por diante meu espírito mudou e nos 15km finais consegui voltar a ser competitivo e recuperar dezenas de posições, chegando na "Joaca", com 5 horas e 05 minutos, à frente ainda da Campeã Geral Feminina, Ana Virgínia Giovanelli, que havia me ultrapassado lá pela metade da prova.
 
 
Depois do beijo de chegada na tia Lalá, a pesagem mostrou que havia perdido 3,6kg, entretanto, provavelmente pela quebra de ritmo nas trilhas, sentia-me razoavelmente bem.
O resto do dia foi só para comer e descansar, menos este que aquele. A chegada do horário verão roubou-nos 1 hora de sono, em compensação, no outro dia estava pesando um pouco mais que na largada do sábado. Nunca havia passado por tal controle e, na ânsia de recuperar o peso, cheguei aos 74kg (rs).
2º Dia
 
Quando o despertador soou, às 5:00, além de estar morrendo de sono sentia-me tão quebrado que (não posso mentir) fiquei na dúvida se conseguiria completar a prova.
 
A largada do segundo dia era na própria praia da Joaquina, o que excluía a viagem de ônibus do dia anterior, então resolvi dar-me mais meia hora de sono. Graças a Deus, assim que levantei e comecei o banho voltei a me sentir pronto para a prova.
Incrivelmente, no dia anterior, alcançara ficar na terceira colocação da minha categoria (45/49), então, logo abaixo do plano principal - FICAR VIVO - coloquei um outro - TENTAR MANTER-ME NO PÓDIO.
                                                       Vídeo largada do segundo dia
Ao lado do amigo Rubem, novamente estava no Pórtico de Largada. Desta vez o começo era bem favorável: dunas. E assim, às 7:00 partimos para o "segundo tempo" da Praias & Trilhas.
 
Ademais de haver uma maior alternância entre areia e trilhas, estas agora já eram mais "normais". Ainda assim em pouco tempo já corria sem a companhia do amigo e as ultrapassagens sofridas iam se amontoando.
 
Próximo ao primeiro posto de hidratação / abastecimento (10,8km) identifiquei na minha cola o atleta que estava em 4º lugar da minha categoria.
No posto reencontrei Rubem repondo as energias. Pressionado pelo adversário de faixa, rapidamente engoli uma paçoca, passei a mão numa garrafa de água de coco e saí novamente junto com ele.
Pela frente teríamos agora 14km de areia e, para defender minha posição, a única opção que restava era dar o máximo naquele trecho, para ter uma "gordura" para queimar quando retornássemos às lamacentas trilhas.
 
 
Foi assim que, vendo a aproximação do "inimigo", acabei deixando Rubem para somente reencontrá-lo após o final da prova.
O trecho grande de areia passou rapidinho e logo me vi às voltas com os temíveis costões.
No meio do caminho tive a felicidade de juntar meus passos com os do experiente e simpático Raulino (11ª vez fazendo a P&T), que acabou se tornando um verdadeiro Anjo para mim, tendo a paciência e o cuidado de ir indicando-me o melhor caminho a seguir por entre as infindáveis pedras.
Ao  lado doo Anjo Raulino num dos trechos de praia
Contudo, nem "São Raulino" foi bastante para evitar novas e violentas quedas e, vira e mexe, lá ia eu de cara no chão, enchendo a mão e as pernas de espinhos cortantes.
Descrever aqueles Costões para nós nordestinos é mesmo uma coisa bem difícil de fazer. É bom que se ressalte que as fotos que irão ver nas publicações nunca revelam o pior de toda a situação, é óbvio que nestes locais não fica nenhum fotógrafo rs.
Houve uma passagem destas que me chamou muito a atenção. Adiante de um pequeno grupo formado há poucos minutos que solidariamente ia escorregando  à beira dos precipícios de beleza indescritível, avistei um soldado do Corpo de Bombeiros que solicitamente explicava o melhor meio para seguir em frente:
"Você tem que pular para esta pedra do centro (uma enorme rocha pontiaguda e estreita em que mal cabiam os dois pés), equilibrar-se e pular para aquela outra lá (essa mais larga)".
"Senhor, isso eu não tenho coragem de fazer não" - respondi, enquanto procurava em volta uma forma de seguir adiante.
Atrás de mim, Ana, a campeã feminina do primeiro dia, foi logo dizendo: "Deixa que eu vou". Unindo fala e ação, num instante já estava equilibrando-se na pedra pontiaguda e no outro já seguia seu caminho rumo à merecida vitória. Que inveja daquela coragem! rs
Raulino também deu uma hesitada, mas seguiu o mesmo traçado e até o final da prova não consegui mais alcança-lo.
Eu? Tenho vergonha não, desculpe-me a expressão, desci ralando a bunda até quando meu pé alcançou outra pedra e, fazendo algumas voltas, segui adiante.
Até o final da corrida ainda viriam muitas outras ralações rs. A prova estava chegando ao fim e o raciocínio era bem simples:
Ainda que fosse ultrapassado pelo 4º lugar da minha faixa, dificilmente ele conseguiria tirar os 15 minutos de frente que eu havia colocado no dia anterior. Já se eu caísse feio e não pudesse seguir adiante...
 
Tudo que era escorregadio era andando, arrastando, segurando.
 
O lado bom disso era que a quebra de ritmo não deixava o cansaço chegar nas pernas e assim, meio tranquilo apesar do enorme tempo de corrida, cheguei à última praia. O fotógrafo foi logo me gritando: "Acabou, agora é só areia".
 
 
Eu era só felicidade. Ao longe avistei a chegada tantas vezes assistida nos filmes sobre a Praias & Trilhas. Lá em meio a toda a festa que acontecia, divisei a tia Lalá. Quase 06 horas de corrida. Imaginava-a enfim aliviada, pois tinha certeza que ela também já havia me reconhecido e de cá mandei-lhe um beijo e o melhor sorriso que me restava.

 A prova estava chegando ao fim e apesar da relativa facilidade da tarefa (ficar entre os 03 da minha categoria), uma vez que nela havia apenas 06 atletas concluíram a prova; apesar de gastar (por baixo) pelo menos uma hora a mais   no cômputo geral dos dois dias de prova (fechei com 11h e 05m em 23º Geral), encontrava-me imerso num mar de alegria por ter cumprido a Praias & Trilhas e ainda, de quebra, assegurado o "ingresso" na emocionante cerimônia de premiação.
Ao lado do Campeão Sergio Akyo ( Eduardo o vice-campeão precisou viajar mais cedo e não ficou para cerimônia
 
Se Deus me permitir ainda volto lá!
 
1º DIA


























2º DIA
































Com Sr. Antônio Carlos - atleta mais velho da prova e mais querido

pódio Geral feminino

Pódio Geral Masculino - Campeao - Manoel Lago, Vice, Daniel Meier


Com Raulino e o Prof. Carlos Duarte

 

8 comentários:

  1. Parabéns pelo brilhante relato e por mais está prova de determinação e superação.

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  2. Parabéns Roberto por mais essa, e obrigado por dividir com a gente essas alegrias!

    Marcondes Lyra

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  3. Parabéns Roberto e também ao nosso amigo Rubem por essa dificílima prova, mostrando a determinação de ambos. Um abraço.
    Mário.

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  4. Parabéns por enfrentar e vencer mais esse desafio. Coisa pra gente grande. Parabéns.

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  5. Parabéns campeão! Você é d+! Cada dIa admiro mais sua coragem!

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  6. parabéns! Roberto e Rubem, por esse desafio difícil e maravilhoso, e lindo percurso, e perigoso, parabéns! também pelo seu brilhante relato vocês são uns heróis. Vanuza lins.

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  7. Obrigado turma. A Praias e Trilhas é uma corrida muito bem elaborada. Pensada por gente que corre, para gente que corre e é o tipo de prova que desejaria que todos amigos queridos pudessem vivenciá-la um dia. A dificuldade existe e, graças a Deus, era algo para qual estava preparado, só não contava passar tanto perrengue por causa do meu tênis, que diga-se de passagem gosto muito dele...rs - e tanto acabei perdendo a competitividade - não havia como já que não me sentia seguro - quanto também gastei uma boa parte do tempo em preocupações com minha integridade física e com isso acabando não conseguindo por alguns largos momentos fazer o que mais importa em toda e qualquer prova, divertir-me plenamente. Não que eu não tenha feito isso durante a prova, mas o medo acabou roubando o espaço da diversão e por essas e outras é que desejo muito retornar lá um dia para curtir ainda mais esta prova maravilhosa. Obrigado pelos pensamentos positivos.

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