| Com Renato em frente ao Hotel Scala em Sta. Rita de Cássia/BA |
Finalmente chegou a sexta-feira e com ela a hora de voltar para casa.
Os dias aqui em Santa Rita de Cássia foram excelentes tanto no desenrolar do trabalho quanto nos treinos para a Maratona de Salvador.
Logo mais estarei embarcando levando novas amizades e um pouco desta cidade no coração.
Foram dezenas de treinos de qualidade executados por estas bandas, mas o último deles (o único off road) merece com toda a certeza a expressão "fechar com chave de ouro".
Senta que lá vem estória...
Renato é o nome de um amigo que fiz aqui nesta cidade. O cara é uma figuraça que trabalha no Hotel Scala, onde fiquei hospedado.
Saindo para correr sempre ao amanhecer, todos os dias era obrigado a acordá-lo para que abrisse a porta principal do Hotel.
Com pouco tempo começou a me provocar:
- Quando vem de lá você passa é a camisa dentro do rio não é?
Ele não acreditava que aquilo era suor.
Sorrindo e levando na esportiva, assentia.
Com o passar dos dias fui lhe contando algumas das minhas corridas de longa distância, mas ao que tudo indica, não estava me fazendo crer, pois ele num certo momento perguntou:
- Então você pode ir daqui até o lugar onde moro?
- Quantos quilômetros? Perguntei.
- 33. Respondeu-me.
- Sim.
- Mas é tudo na estrada de barro e com algumas faixas de areia.
- Aí é melhor ainda. Disse-lhe.
Sempre em tom de ironia, ele sentenciou:
- Ninguém nunca fez isso e você entraria para a história de Santa Rita se conseguisse.
- Ninguém nunca fez isso e você entraria para a história de Santa Rita se conseguisse.
Deixei o incrédulo e fui para o trabalho já maquinando que dia poderia fazer o tal longão. Faltavam dois finais de semana, mas neste já estaria (estarei) em Salvador e no da semana passada tinha compromisso em Goiânia.
Aliás, abro aqui um parêntese para falar da Track and Field do Shopping Flamboyant na cidade de Goiânia.
Com a planilha indicando um tempo run de 10k e embalado por um 18'20 conseguido no treino de 5k da semana anterior, dei uma pesquisada para achar uma corrida onde pudesse fazer a prova "valendo 3 pontos".
Com ônibus diário para Goiânia (para Salvador só há na segunda e no sábado), a TF ficou ainda mais atrativa quando conferi os resultados do ano anterior. Se fizesse meu trabalho direito, poderia ficar entre os cinco do pódio geral.
| 11º lugar geral na TF Goiânia (se estivesse em Recife ficaria com o 3º lugar..rs) |
Tudo bem, naquele mesmo domingo em Salvador, Pataro e Carlinhos estiveram frequentando os pódios de categoria e em Recife (também numa TF), Lu Bastos vingou-me por completo ficando no 5º lugar geral.
Voltando à estória...
Retornei do trabalho já com a planilha rearrumada e contei para Renato que faria o treino na quarta-feira. Havia decidido que para não atrapalhar muito no trabalho faria a corrida no sentido contrário: Das Pedras até o hotel.
Precisava de alguém para me deixar lá antes do dia amanhecer e falei com Renato.
- Renilton, meu irmão, pode levá-lo em minha moto.
- Ótimo, eu posso colocar gasolina e acertar um valor com ele para que ele me deixe lá e volte.
- Mas aí depois você pode pegar uma ó ó - e gesticulava com o dedo polegar apontado para o lado (como a indicar que eu poderia vir de carona).
- Então ele me leva e vem comigo pra garantir. - Falei em tom de brincadeira.
- Eu venho. Disse-me o próprio (e igualmente cético) Renilton, que estava presente no momento da conversa.
Naquele momento entendi que havia concebido o que viria a ser o meu melhor treino em terras santarritenses. De uma só tacada conseguira transporte, condutor, segurança, fotógrafo, staff (minha hidratação viria na moto), uma testemunha e, quem sabe, um futuro corredor.
| Renilton, Staff, fotógrafo, testemunha, etc... |
Às 6h, após um gole do café oferecido por D. Clarilene e Sr. Adelino, comecei a fazer o caminho de volta.
Carregando uma garrafa d'água dei a meu staff uma folga de 30 minutos para que tomasse o café da manhã com seus pais antes de ir atrás de mim.
A fome ou a saudade, não sei o que estava maior, retiveram Renilton por mais tempo e quando ele me alcançou já estava chegando na marca de 20k.
Pouco tempo depois já havia passado a barreira dos 30km e gritei:
- Falta pouco para você se livrar de mim!
- Falta pouco para você se livrar de mim!
- Aqui já é o aeroporto, as casinhas, você já pode dizer que está em Santa Rita! Ouvi-lo dizendo.
E com sinceridade acrescentou:
- Eu não acreditava que você iria conseguir não, mas por mim eu ficava era o dia todo, era só você aguentar.
Àquela altura, completamente tomado pela felicidade de ter corrido todo o tempo em meio à natureza, e profundamente agradecido, contei para ele, enquanto aumentava a velocidade:
- Graças a Deus isto aqui foi só um passeio pra mim. Um dia desses você mesmo poderá fazer esse percurso. Qualquer pessoa pode fazer isso, é só começar aos poucos.
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| Passando em frente ao Fórum |
Com 2h e 40' completava os 33,8km que me separavam da eternidade. Agora, pelo menos para Renato, sua família e a maioria dos seus amigos, eu fazia parte da história de Santa Rita de Cássia. :)













