sexta-feira, 29 de novembro de 2013

ULTRAMARATONA DE REVEZAMENTO 300 KM - MOSSORÓ X NATAL

Pé no Chão: Rubem Fernandes, Guga Loyde, Marcondes Lyra, Marcelo Victor, Roberto Encarnação

Os dois dias gastos (e intensamente vividos) para cumprir os 300km entre as cidades potiguares de Mossoró e Natal são daqueles que jamais poderão ser esquecidos    por quem esteve presente na 5ª Etapa do Projeto Correndo o Nordeste.

Não se pode dizer que alguém deixe de buscar dar o melhor de si durante a prova; numa corrida feita em equipe a auto-cobrança sempre existirá, porém a maior beleza desta competição é exatamente a pouca influência que isto (a competitividade) tem no resultado geral.

Cheguei a Mossoró sem experiência em provas desse tipo, fizera antes apenas um revezamento da Braskem em 2007 e no ano passado participara, como Juiz, do 1º dia da Etapa Salvador - Aracaju, entretanto levava comigo a certeza de que iria fazer parte de um evento ímpar. Acertei é verdade, mas nem de longe poderia imaginar quanta emoção viveria nesse final de semana.


Houve sim muita ladeira, sol quente, câimbras, suor e cansaço, mas essas coisas serviram apenas para ressaltar os valores pelos quais se pautou a maioria das equipes envolvidas. Nenhuma pedra no caminho jamais será páreo para o companheirismo, a amizade, a solidariedade e a generosidade demonstradas em larga escala nesta Ultramaratona de Revezamento Mossoró - Natal.

Deixei Salvador sabendo que faria 04 trechos de mais ou menos 15km cada (dois a cada dia) e meio que inconscientemente acabamos achando que, cumprida nossa parte, o dia estará terminado. Não, não é assim. Na verdade a coisa toda só terminou para mim (e para a maioria das pessoas) quando a última equipe chegou a Natal.

Vibração da Equipe STI - Runners em sua chegada
A demonstração de felicidade dos derradeiros atletas a chegar aos Três Reis Magos (que pouco se difere da emoção demonstrada pelos vencedores da prova) e a vibração de todos que estavam ali só faz reforçar o caráter peculiar desta corrida que em tudo parece reverberar a luz do seu representante maior: Lula de Holanda.

Lula de Holanda
Correndo seus trechos e prestes a completar 60 anos, não obstante a desgastante responsabilidade de Organizador, o Presidente da ACORJA contagiava a todos com  sua alegria pueril.

"Betinho, olha em meus olhos, diga que me ama", rs

Contraponto perfeito à famosa “hiperatividade” do Presidente, Gilmar Farias, também responsável pela Organização, como sempre deu show de educação e competência toda vez em que foi preciso dirimir dúvidas sobre as regras.

As intervenções de Gigi, sempre marcadas pela firmeza serena de seu caráter, só perdiam em elegância para a forma tecnicamente perfeita usada por ele em seus "voos" pela Caatinga Potiguar.

Gigi gazelando
Na "Pé no Chão", equipe na qual tivemos (Rubem e eu) a honra de competir, o entrosamento com os demais integrantes (Marcelo Victor, Guga Loyde e Marcondes Lira) foi quase que imediato.

Nossa chegada à cidade de Lages (primeiros 150km) merecia um post à parte. É grande a tentação de relatar ponto a ponto todos os detalhes destes, repito, inesquecíveis dias, mas temendo afugentar os queridos leitores com as dezenas de páginas necessárias para tanto, por ora, farei apenas um breve resumo dessa emocionante chegada.

Marcondes

Desde o começo ficara evidente que, entre nós cinco, Marcondes era o corredor com menos experiência. Ele mesmo fazia questão de ressaltar isso. Em seu primeiro trecho, porém, demonstrando uma boa noção de ritmo, ele nos surpreendeu com uma performance bem acima da expectativa geral.

Nos "perde e ganha" da competição, Marcondes assumiu o último trecho do dia na segunda colocação. Há muito tempo que não enxergávamos ninguém atrás da gente e foi com certo assombro que pouco depois de nosso atleta passar pelo km 137, vimos a aproximação da Van da Equipe Papa Léguas.

A ameaça tirou-nos a tranquilidade. Ao que parecia, tentavam nos pressionar psicologicamente, pois apesar das várias aparições da Van (algumas delas estacionando exatamente à frente do nosso atleta, ocupando todo acostamento e obrigando-lhe a usar a BR) em momento algum avistávamos o corredor da Papa Léguas.

Convenci Marcelo Victor a voltar para que averiguássemos a exata distância que nos separava do terceiro lugar. Feita a manobra, constatamos que tínhamos apenas 2,5km de vantagem. Apenas?!

"Caminhando contra o vento"
Depois de uma breve discussão a respeito de ser aquela uma vantagem administrável ou não, o líder de nossa Equipe "jogara a toalha", mas mesmo sabendo do enorme potencial do corredor que vinha em nosso encalço (de manhã ele havia nos ultrapassado e colocado considerável frente), resolvi descer do carro e apostar em Marcondes e, por tabela, na Pé no Chão.

Correndo ao lado de Marcondes pude notar o enorme esforço que ele estava fazendo para defender o time. Evitando passar informações erradas de distância, a todo momento pedia calma ao nosso "Dartagnan" e a toda hora repetia-lhe uma ladainha: "ainda que ele nos ultrapasse não abrirá grande distância".

Guga molhando Marcondes

A cidade de Lages foi se aproximando, Marcondes muitas vezes esteve a ponto de desistir da fuga. "Eu não consigo". O restante da Equipe uniu-se ainda mais para realizar a hidratação/suplementação e, principalmente, derramar água gelada na cabeça do seu representante na pista.

Passando em frente à entrada da cidade de Lages para ir fazer o retorno

Sabia que estávamos nos aproximando também de um ponto crítico. Passamos em frente à entrada da Cidade, mas para completar os 150km tínhamos que seguir ainda na BR por 01 quilômetro, fazer o retorno e finalmente entrar em Lages.

"Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento". 

Entoando algumas canções para distrair o valente Marcondes, enfim alcançamos o retorno. "Agora ele não vai mais 'nos' pegar!" - gritei-lhe, acrescentando:
- Daqui até a chegada na Igreja está faltando 1,5km. Tudo que eu não te cobrei até agora (durante o trajeto havia insistido para que mantivesse um pace confortável) vou te pedir agora. Vamos fazer um fartlek 1 minuto forte por um fraco?

Sorri com a resposta desesperada de Marcondes:

- A gente começa pelo 1 fraco.

- Tá bom. Aquiesci.

Antes de entrar na cidade cruzamos com nosso perseguidor, que parecia estar sofrendo muito também. A Van "inimiga" deu-nos pela primeira vez uma buzinada que aos meus ouvidos soou como: "Parabéns, vocês venceram".

Faltavam 700 metros, Rubem agora também seguia ao nosso lado. Marcondes implorava por uma andada e nós, para que ele seguisse mais um pouquinho.

- Lá está a Igreja.


Sem conseguir conter a ansiedade, Rubem ia literalmente rebocando Marcondes. Estava feito. Vencemos. Ali estávamos mais Equipe do que nunca. Por trás de todo sofrimento era possível enxergar no rosto de nosso herói a felicidade pelo dever cumprido.

Celebramos nossa chegada com um emocionante pai-nosso puxado por Marcelo Victor.
Marcondes Rubem, Marcelo Víctor, Guga e eu agradecendo a Deus dentro da Igreja Matriz
No outro dia Marcondes mais uma vez voltaria a ser a estrela do nosso time. Após passar maus bocados pela manhã e ter falado até em desistência, demonstrando enorme recuperação encarou seus fantasmas interiores e cumpriu a missão de fazer a chegada da Pé de Vento em Natal.

Nesse último dia sucumbiríamos à força (e às manobras) da Equipe Papa Léguas e cairíamos para terceiro lugar, mas aquela vitória (ainda que parcial) que nos foi dada por Marcondes no dia anterior foi uma das mais emocionantes que já tive nesta vida de corredor.

Até a próxima!


Adicionar legenda








A velha agonia que só acaba quando ouço o "Vai" do tiro de largada




Equipe Loucos do Asfalto

Chegada da Equipe Relâmpago

Almir (os Ultras) voando baixo

A campeã equipe Jaguar liderada pelo amigo Edílson 


final de um dos meus trechos: Caiçaras do Rio dos Ventos/Pedra Pichada


Equipe Vice-campeã: Papa Léguas

 Rubem fechando um trecho dele após incentivo para um tiro final

Lula acompanhando nossa chegada em Natal




passagem da pulseira
Emoção transbordando

Mais uma chegada puxando Rubem no tiro



Marcelo e o Frade

Três Reis Magos

Árbitro do 1º dia 




Antes da largada em Mossoró




Brito passando pulseira






o espírito é esse. Gilmar aplaudindo a passagem de atleta de outra equipe

A inesquecível São Paulo do Potengi

A Rainha Pâmela


Quase chegando em Natal. Daqui não tinha mais volta

Baianos no pódium


Líder da Equipe dos Fuzileiros Navais














não tava fácil pra ninguém

enquanto outros atletas nos representavam confraternização entre Ultras e Pé no Chão


O Piloto da Van dos Ultras - Givaldo (Giva)








Juliana




Rubem dando uma força para Marconde







19 comentários:

  1. Parabéns a todos. Deve ter sido uma experiência e tanto participar de um desafio desse. Ano que vem quem sabe participar com uma equipe de Salvador.

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    1. Samuel,
      Trouxe uma boa noção da logística necessária para a prova e espero influenciar os corredores da nossa cidade a levar pelo menos uma equipe para representar a Bahia no próximo ano, 6ª e última etapa deste Projeto Correndo o Nordeste. E algo que só vivendo mesmo para entender. Mosorró x Fortaleza nos aguarde.

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  2. Meu amigo,
    Como não me emocionar com o seu texto. As lembranças boas me deixou nostálgico, com saudades de um fim de semana perfeito e com muita corrida para ampliar a felicidade.
    Ao lado de todas as equipes pudemos celebrar a atividade física que mais gostamos de fazer. Pudemos construir o nosso destino e produzir histórias para contar. Aqui, no seu blog, ficou o registro de histórias fantásticas sobre a ULTRAMARATONA DE 300 km. Imagino as pessoas contando sobre os desafios e as vitórias de ter enfrentado o calor e as ladeiras da caatinga potiguar. Imagino os olhos dos filhos, brilhando, orgulhosos, felizes por ter um herói/heroína em casa.
    Aqui fica o meu agradecimento pelas palavras gentis (necessárias) e a sua fantástica participação. A equipe PÉ NO CHÃO sempre foi uma das nossas parceiras, mas esse ano ela passou ao status de equipe irmã. Adoro Marcelo Victor e todos os amigos de Maceió que sempre nos prestigiam, correm com seriedade e, ao mesmo tempo, com muita alegria. Parabéns pelo texto! Parabéns por ser essa pessoa maravilhosa.
    Gilmar

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    1. Gigi,
      A corrida nos traz muita coisa boa e conhecer e construir uma amizade com uma pessoa tão especial como você certamente está entre as melhores.
      A corrida como ja disse no texto superou absurdamente a minha expectativa que já era excelente. Farei de tudo para estar na etapa Mossoró x Fortaleza.
      Uma vez mais agradeço a acolhida desta família chamada ACORJA.

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  3. Amor,
    é realmente admirável a forma como você vive cada corrida! e principalmente como consegue transmitir essa emoção para "o papel" fazendo a gente se sentir um pouquinho lá também.
    As fotos ficaram muito lindas!
    Parabéns! Te amo!!!

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    1. Tia Lalá
      Essa foi uma das melhores coisas que já fiz em minha vida em termo de corrida. Quando estou nestas coisas, vc sabe, fico desejando que todos que amo estivesse lá também, então quando vou transferir estas emoções para o papel carrego comigo esta vingança.rs - se Maomé não pode ser levado a montanha (custos altos..rs) trarei um pouco da Montanha para as centenas de Maomés que gostariam que estivessem ali.
      Por outro lado devo boa parte do meu texto a sua paciente ajuda na revisão dele e quanto às fotos, desta vez o crédito é da galera toda, não levei máquina, aproveito para agradecer a todos que me "emprestaram" seus olhares, em especial a Rubem, Gigi, Guga, Marcelo Victor e Marcondes.

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  4. Parabéns campeao! O relato mais uma vez está emocionante. Abr

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    1. Amâncio.
      Obrigado. Você é uma das pessoas que imagino compondo uma equipe lá no ano que vem. Topa? Mossoró x Fortaleza (300km) - Cabe 60 km para cada integrante. 15 + 15 no primeiro dia - 15 + 15 no segundo? e aí?

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  5. Parabéns !!!
    Deve ser uma experiência única e ímpar realmente.
    O seu relato nos transporta e nos faz imaginar da sensação de superação e força que o ser humano pode ter, além da união e integração de todos voces que estavam vivendo a mesma experiência, onde nos mostra que tudo é possivel basta querermos e acreditar.
    Parabéns a toda equipe!!!
    Abraços.

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  6. Obrigado pelo comentário. Sr. (Sra) Anônimo (a).
    Da próxima vez deixa seu nome no corpo da mensagem..rs.
    É isso mesmo. O primeiro passo para qualquer grande caminhada é acreditar.
    Abraços!

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  7. Parabéns vcs são exemplos de superação sempre! me emociono cada vez que vejo este blog palmas para tds!!!! alzenirmendonca@hotmail.com valeuuuuuu!!

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    1. Valeu, Alzenir.
      Você virá para o treino do barro no próximo sábado (07/12)?

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  8. não conheço um meio melhor de motivar uma pessoa a se exercitar por sua saúde do que um apelo ao respeito por seu corpo. parabéns a todos. Vanuza Lins.

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  9. Já li o texto umas 10 vezes e em todas elas me arrepio ao relembrar aqueles dias... apesar de muito sofrido, foi muito BOM!!! De quebra conheci dois caras boa praça... Valeu Roberto!!!

    Um Grande Abraço!

    Marcondes Lyra

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  10. Marcondes,
    Nós também (Rubem e eu) ganhamos este "de quebra" e estamos seguros que a vitória pessoal daqueles dias irá lhe fortalecer para voos mais altos num futuro bem próximo.
    Abraços!

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  11. Roberto,

    Sensacional a sua narrativa, emoção à flor da pele o tempo todo, parecia que eu estava correndo novamente com essa galera maravilhosa da ACORJA - Pernambuco.

    Esse ano não foi possível à Equipe Bsb Parque, participar dos 300 Km Mossoró x Natal. Seria a nossa terceira participação.

    Pelas imagens vejo que o evento vem crescendo ano após ano. Parabéns a todos os gladiadores do asfalto que se lançaram ao "Desafio Correndo o Nordeste". Show!!!

    A propósito, já estou lhe seguindo e vou relacionar a sua URL à minha lista "Blog de Corredores".

    Ultra abraço e bons treinos!!!

    Dionisio Silvestre
    http://correrpurapaixao.blogspot.com.br/

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  12. Dionísio,
    Espero que vocês possam voltar a estar presente na etapa de encerramento deste Projeto tão maravilhoso idealizado e conduzido pela ACORJA.
    Muito obrigado pelo destaque dado ao nosso blog.
    Abraços!

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  13. Parabéns pela narrativa, realmente foi um momento único esse desafio. Agora quero deixar bem claro que não concordo com suas palavras quando se refere a nossa equipe, pois em momento algum usamos de manobras como você insinuou. O que usamos foi o regulamento, uma atleta nossa sentiu o joelho no seu ultimo trecho e optamos por dividir o restante pelos os atletas que estavam mais inteiros e isso foi feito por várias equipes. Portanto essa palavra manobra no sentido perjoativo não houve.

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