-
Serás feliz em terras fluminenses.
Sexta-Feira
Prontos
(Chico e eu) para a missão para a qual treinamos nos últimos meses e
acompanhados de nossa querida e imprescindível torcida: Márcia, Vítor
(respectivamente esposa e filho do meu amigo) e “tia” Lalá, por voltas das duas
horas da tarde da sexta-feira “aportamos” na belíssima cidade de Armação dos Búzios.
A
fama de Maratona mais difícil do Brasil (título disputado com Bombinhas/SC) recomendava-nos
uma antecipação da viagem, entretanto, por contenção de gastos, deixamos para
chegar apenas na véspera da prova e assim, tão logo nos instalamos, partimos em
busca do kit.
No
Pérola Hotel, a primeira alegria desta prova: reencontrei na fila o amigo e
parceiro de Double Marathon 84 Rio, Júlio Paul.
Com Júlio Paul |
Acontece
que a largada da Maratona seria às 7:00 da manhã, o que nos daria no máximo
4:30 para fechar a prova. Era um elemento a mais no desafio e um jeito de
prestigiar nossos acompanhantes. Aproveitando o preço bastante acessível (R$
30,00 por pessoa) fiz o maior “enxame” para que fechássemos o passeio e Chico,
que não é de “correr do pau”, topou.
Voltando
para “casa” eis que avisto o casal André e Rosália Guarischi. Num ímpeto
atalhei o caminho deles, apresentando-me a Rosália como “o cara” de Salvador
que a havia incomodado bastante nos últimos meses, em busca de dicas para a
prova. Fruto desse mundo de perguntas, no dia seguinte correríamos com o mesmo
modelo de tênis: o Double Track da North Face.
Com Rosália |
Chegou,
enfim, o dia!
Faltando
menos de meia hora para o início da prova, padronizados, partimos (Chico e eu) para
a área de largada.
Após
umas fotos próximo ao pórtico, como gosto mais de aquecer fazendo educativos em
lugares inclinados, resolvi entrar num beco que dava na praia (quem poderia
imaginar o que ali se desenrolaria no final da corrida?) e, entre skippings e anfersens, avistei Carlos Magno fazendo umas acelerações na areia.
No
melhor estilo siga o mestre, desci para a praia e terminei meu aquecimento ao lado
de “Magrinho”. Achei aquela coincidência um bom sinal e, inspirado naquele que
era o principal nome para vencer a prova masculina, optei por correr apenas de
camiseta.
A
execução do Hino Nacional trouxe-me as costumeiras lágrimas aos olhos, mas
também a certeza de que logo me livraria daquela (também já famosa) dorzinha na
barriga. Minha maior ambição era chegar forte e feliz e foi orando neste
sentido (enquanto desejava a Chico e a todos ao redor um bom passeio por Búzios)
e agradecendo a Deus pela oportunidade de estar ali, que enfim comecei a dar
meus primeiros passos.
Aquecendo com Magrinho |
Dentro
de mim, agora, evaporara-se todo vestígio de ansiedade.
Logo
que deixamos a Orla Bardot surgiu a primeira pirambeira que nos levaria ao
Mirante João Fernandes.
Lembrei-me
que na noite anterior o pessoal da organização havia nos avisado que nestes
primeiros 9km de calçamento / paralelepípedo passaríamos por quase todos os
mirantes de Búzios e, extasiado com a paisagem ao redor, ia dizendo pra mim
mesmo: “Se for para sofrer que seja num lugar deste”.
Após
um sobe e desce maravilhoso em que ia alternando de posição com Chico (ele
rendendo mais nas subidas e eu nas descidas) entramos no primeiro trecho de
trilha. Que delícia (e que alívio) pisar naquele chão batido.
Lá
pelo km 11, finalmente emparelhamos com a líder feminina Rosália Guarischi. Há
tempos estávamos acompanhando-a com os olhos e eu estava impressionadíssimo com
a sua capacidade de voar ladeira abaixo.
Na
praia de Geribá (onde no domingo faríamos nosso regenerativo) Chico, que não
chegara 100% para esta prova e vinha sentindo muito as descidas, foi ficando
para trás.
No
km 18 começou o que estava previsto como a pior parte da prova: a passagem pela
praia Tucuns.
Foram
03 quilômetros
de areia fofa e logo depois de passar pela marca da meia-maratona começou uma
insana subida que nos levaria ao Mirante das Emerências, não por acaso local
bastante procurado pelos praticantes de Asa Delta.
Aquele
era um trecho em que todos haviam recomendado caminhar, entretanto estava me
sentindo à vontade e, pisando nas pontas dos pés, mantive-me correndo.
No
centro da trilha havia uma enorme erosão (só agora entendia a brincadeira feita
pelo organizador na noite anterior, dizendo que o pessoal estava andando muito
de moto por ali e que havia um enorme buraco) e para subir restava-nos decidir
se corríamos com as pernas abertas com um pé de cada lado do buraco ou se
seguíamos por dentro do buraco.
Inicialmente
fui fazendo a primeira opção, um pé aqui, outro acolá e tome-lhe subida, porém,
havia momentos que o buraco ficava tão largo que mesmo tendo pernas longas era
difícil ficar correndo pelas pontas, optei por pular para dentro dele e seguir
pelo meio como fazia um corredor que ia à minha frente e zás: deslizei por
quase cinquenta metros de costas morro abaixo até conseguir parar e começar a
subir tudo de novo, então pensei: “é
melhor ir por cima” (rs).
Outro
trecho de que me lembro bem foi no quilômetro 29 dentro da Fazendinha. Nessa
hora estava com mais 03 corredores (todos de revezamento) e numa bifurcação
ficamos em dúvida do caminho a seguir. Não havia staff, fitas, setas nem riscos
no chão.
No
momento em que tomamos a decisão de seguir reto, deparamo-nos com um corredor
que vinha saindo da trilha exclamando que o caminho não era por ali: “a trilha
fechou muito lá adiante”.
A
angústia foi geral, por alguns momentos o medo de estarmos fora da rota
aterrorizou a todos, mas não nos restava muito senão tentar o outro caminho,
dobrando à esquerda. Por sorte (e também por absoluta falta de educação de
algum corredor) dali a poucos metros avistei um copinho de isotônico e mais
adiante a placa do Km 30. Estávamos salvos.
Há
uma versão de que eu teria dito também “eu te amo”, mas quando a gente corre
provas longas perde um pouco a consciência, delira mesmo um tantinho e não há
como confirmar, rs. Queria deixar claro pra ela o quanto eu estava feliz, tranquilo
e absolutamente com a prova na mão. É, talvez eu tenha dito... rs
Nos
próximos dois quilômetros a prova começou a alternar areia de praia com uma
passagem pelas Costeiras, com ondas quebrando próximo ao lugar onde tínhamos que
passar.
A essa
altura já estava administrando minha colocação, não tinha por que arriscar uma
queda naquelas pedras escorregadias, sempre que possível olhava para trás nos
trechos de praia e sabia que não havia ninguém da Categoria Solo por perto.
O
oitavo lugar me garantia de todo jeito um pódio na categoria, já que os 05
primeiros iriam para o geral. Já estava de bom tamanho para quem estava
estreando na prova.
Finalmente
encontrei staffs indicando-me a saída da praia com uma pequena nova pirambeira.
Pensei: agora está faltando menos de 5 quilômetros e não
deve aparecer mais nenhuma surpresa. Engano puro.
Quando
saí da Praia da Tartaruga (Km 38) um staff me indicou que devia dobrar à
direita e quando me virei! Uau! Havia uma parede de barro para subir.
A
ladeira era tão íngreme e escorregadia que mesmo diminuindo o ritmo, quando
coloquei o primeiro pé só não dei com a cara no chão porque consegui levar a
mão primeiro. Segunda tentativa, já andando, e nova ida ao chão.
Nessas
horas a gente começa a pensar: “Será que não tá vindo ninguém aí”?
Desesperado,
coloquei-me de quatro buscando alcançar um galho que estava no chão. Consegui e
fui me arrastando, galho a galho até conseguir levantar e começar a subir
andando. Neste passo “arrastado” deparei-me com a placa do Km 39.
Agora
ia começar uma descida de igual inclinação e já estava louco (e preocupado)
para voltar a correr, mas cada vez que tentava, dava umas topadas numas raízes
que por pouco não me fizeram chegar mais rapidamente lá embaixo.
40
km. “Agora não deve ter mais nada. Não é possível”. Havia!
Só
sabia que estava chegando perto por conta das placas, não tinha mais a menor
noção de onde me encontrava, mas para minha surpresa o percurso me levou mais
uma vez à praia.
Desta
vez era a Praia do Canto (onde eu havia aquecido com Magrinho) agora já esta podia relaxar. A qualquer momento seria direcionado para a Rua das Pedras e poderia
ver o pórtico de chegada. Logo, logo poderia dizer sem medo de errar: “Conheço
Búzios de verdade”.
Nunca
me sentira tão bem numa prova, sentia sorridente a alma o tempo inteiro, de
fato era um privilégio estar num lugar tão lindo e conhecê-lo da forma que mais
gostamos de fazer: correndo.
Seguia pensando, agradecido, que grande parte desta sensação devo a Marcelo Augusti e a sua enorme capacidade de adaptação. Afinal de contas, morando em Salvador (cenário bem diferente da corrida), só mesmo com os mirabolantes treinos do Mestre poderia ter chegado tão preparado em Búzios.
Faltando
menos de um quilômetro para o final fui despertado destes devaneios por um
corredor com quem havia tido uma breve conversa durante seu trecho no
revezamento.
- “Baiano,
você ainda passa aquele cara ali na frente”.
- “O
que?! Ele é solo?”
Sem
esperar direito pela resposta, apertei o passo na areia e rapidamente colei no
corredor da frente (mais tarde ficaria sabendo que se tratava de Leonardo
Maciel, da Equipe Carioca Runners), que assim que percebeu a aproximação de um
corredor solo, sem se fazer de rogado, engatou uma quinta e partiu.
Deixei
que seguisse na aceleração e quando ele deu uma pequena diminuída, com passos
leves para não chamar atenção (apesar de estar na areia), apertei também o
ritmo, optando por seguir pelo seu flanco direito, para que não fosse detectada
logo minha aproximação.
Assim
que ele percebeu minha presença ao seu lado apertou novamente o ritmo. Agora a
“briga” era declarada.
De
repente os staffs estavam ali na frente indicando que teríamos que entrar num
beco. Reconheci o local e ainda tive tempo de pensar que não iria perder aquela
parada justamente no lugarl onde havia feito meus educativos.
Subi
a pequena rampinha colado em meu adversário, mas sabendo que teria menos de 100 metros depois que
saíssemos do beco, pulei na frente dele exatamente na hora de entrar na Rua das
Pedras e disparei.
Sei
lá a quanto estava, mas me senti naquele momento alguém capaz de vencer o
próprio Usain Bolt. Coordenação, pulmão e força. Se o Leonardo me passasse
seria mérito dele, mas iria fazer a minha parte.
Empolgamos
com nossa chegada emocionante o povo todo ao redor. Demorou uma eternidade, mas
consegui o sétimo lugar que me rendeu o título da Categoria 45/49.
Olhei
para trás e abracei o valente corredor. Era notório que ele era mais jovem e
não estávamos disputando categoria.
- “Valeu
apenas como motivação para chegarmos mais fortes”. Disse-lhe.
Abraçados
fomos até o local onde recebemos nossas medalhas de finisher e o kit
alimentação.
Pódio 45/49 (respectivamente 7º, 10º e 14º no geral) |
Pronto, agora era hora de seguir direto com a
família para nosso passeio.
Enquanto
relaxava na escuna, ocorreu-me um pensamento: Quase sem querer, havia chegado
exatamente da forma que tinha pedido a Deus. “Ninguém foge do destino”.
Até
a próxima!
Pódio Geral Feminino: 1- Rosália Camargo Guarishi; 2- Maria José Nascimento - 3-Andréa Carloni; 4- Tatiana Ribeiro; 5- Maria Wickert |
Pódio Geral Masculino: 1- Eduardo de Brito - 2-Carlos Magno - 3- Márcio Souza - 4- Alexander Souza - 5-Roberto Tadao |
Congresso técnico |
Cristiano Marcelino (pco de double da Maratona do Rio também) 3º lugar da cat/ 30/34 |
Chegada de Chico |
Puxada de Rede - Estátua |
Adicionar legenda |
Chico e Vítor com Brigite na Orla Bardot |
O tal beco que levava à largada/chegada |
Corredores vistos a partir da embarcação (+ 2 horas depois de nossa chegada) |
Do barco em vários momentos avistávamos pessoas correndo ainda |
Chico relaxando em família |
Vítor na Bolha |
Banho gelado para relax pós-maratona |
Foto pra Rafinha |
Brincando de "Salão" |
Com a Tia Lalá em Geribá |
30 minutos de regenerativo em família no Domingo em Geribá |
Roberto, como sempre é muito lindo os relatos. Muito bom estar com vocês. A coragem, força de vontade, determinação e disciplina são pontos chaves para vocês corredores e campeões. Sou felizarda por ter exemplo em casa [meu amado Francisco] e amigo próximo assim , como você. Que Deus abençoe sempre vocês.
ResponderExcluirAté a próxima aventura!
Sucesso nessa próxima corrida em Recife estaremos orando por você.
obrigada por tudo.
Abraços,
Marcia, Francisco, , Vitor.
Até a próxima aventura!
Obrigado, Família.
ExcluirNós também gostamos muito de estar com vocês e nessa amizade que vem se estreitando tenho tido a oportunidade de aprender muito principalmente com "nosso amado Chico, rs".
Breve nos reencontraremos, se não antes, no dia 29 de dezembro teremos a nossa corrida-confraternização.
Roberto, como sempre é muito lindo os relatos. Muito bom estar com vocês. A coragem, força de vontade, determinação e disciplina são pontos chaves para vocês corredores e campeões. Sou felizarda por ter exemplo em casa [meu amado Francisco] e amigo próximo assim , como você. Que Deus abençoe sempre vocês.
ResponderExcluirAté a próxima aventura!
Sucesso nessa próxima corrida em Recife estaremos orando por você.
obrigada por tudo.
Abraços,
Marcia, Francisco, , Vitor.
Até a próxima aventura!
Muito bacana Roberto!tinha esquecido do hino do Brasil na largada.... também fiquei com lágrimas nos olhos!!!
ResponderExcluirAdorei as fotos do passeio pós prova :)
bons treinos e espero te encontrar em breve em outra competição !
Rosália,
ExcluirObrigado por toda sua atenção e simpatia. Breve irei, se Deus quiser, participar de um destes X terra e, claro..rs, irei encher sua paciência pedindo dicas. Ossos do ofício. Quem manda ser supercampeã?..rs
Tem mais uma coisa depois que fiquei sabendo do seu "treino" diário. Inspirei-me e tenho inserido umas idas ou voltas do trabalho a pé e de bike. Como diria minha mãe o que é bom é que se pode copiar.
ABraços e felicidades em seu próximo desafio.
Roberto, bom saber do seu sucesso e que seus planos mais uma vez deram certo.
ResponderExcluirExpresso o meu orgulho por sua vitória pessoal, além da imensa alegria de saber que vc vai participar da Equipe Pé no Chão, na ULTRA de 300 km Mossoró x Natal.
As fotos estão excelentes, principalmente aquelas dos passeios.
Parabéns!
Gilmar
Gigi,
ExcluirVinha hoje pedalando e pensando que foi uma decisão tão rápida: A ligação de Lula, o convite e a busca por passagem e já cheguei em casa pronto para ir ficar com vocês. Mas parece que somente hoje é que a ficha caiu. Meu Deus estarei com essa turma super do bem e participando de uma prova que me atraiu desde a primeira vez que ouvi falar (mesmo antes de conhecer vocês). Tô querendo falar com você mas como tenho perdido vários celulares estou sem seu número. Se puder me liga. 71 8228-2209.
Abraços!
Nossa! Teu texto nos transportou para Búzios... Você deveria publicar um livro!
ResponderExcluirPARABÉNS, mais uma vez, pela linda vitória!!!
Já sabe, né? Quando crescer, quero ser igual a você! ;-)
Dani
Dani,
ExcluirObrigado pelas palavras. Adoro saber que consegui levar alguém para dentro da corrida via texto.
Abraços!
Grande Roberto,
ResponderExcluirParabéns mais uma vez pela corrida e pelo belo texto. Você é campeão nas duas coisas: correr e relatar! d+! As fotos também estão ótimas. Maravilha!
Amâncio,
ExcluirImagino o quanto você iria se divertir numa prova como esta.
Abraços!
Mega, parabéns!
ResponderExcluirMuito bonito o relato, as fotos e imagino o trajeto!
E não me surpreende a vitória!
Um abraço
Pataro
Patarão,
ResponderExcluirVocê sabe o quanto queria que você estivesse lá conosco.
Na próxima não quero desculpa. E olha aí, separa logo o dia 29 de dezembro para fazermos aquela nossa confraternização (Valdir, Adautro, Chico, Carlinhos, etc..etc.. ) que mais parece uma corrida....
Abraços!
Que relato maravilhoso e que corrida fantástica!!! Não há palavras para descrever a emoção que vc transmite ao contar suas histórias. Me senti em Búzios, correndo com vocês. Parabéns!!!
ResponderExcluirVal
Val,
ResponderExcluirOuvi de uma amiga corredora outro dia em "resposta" a um comentário que eu havia feito que a prova havia sido duríssima e maravilhosa":
"Maravilhosa só se for quando acaba né?".
Fiquei até surpreso mas precisei explicar-lhe que se a gente passasse toda uma corrida esperando somente o final para poder comemorá-la, nunca seríamos tão felizes.
Tal qual a vida, a corrida (e nestas XC então..rs) tem que ser vivida com todas suas dores e delícias desde o primeiro minuto, afinal de contas quem sabe ao certo onde esta estrada nos levará?
Quantas vezes me encontro em plena competição e imaginando um monte de gente que adoraria que estivesse ali comigo?
Parte deste amor que me enche o peito quando estou em movimento é o que respinga nestes textos e, não custa repetir, é muito bom saber que levei de alguma forma outras pessoas comigo.
Obrigado!
Amei as fotos e o relato simplesmente lindo. Parabéns!
ResponderExcluirSaudades!
Pataro, muitas saudades de vc tb viu!
Bjs e bfs