sábado, 20 de novembro de 2021

OS SURVIVORS ''FILHOS DE MR. RUNNING" NA UAI REVERSE

 

com Pataro, Manoel e Val- prontos para largada

Na galeria dos inesquecíveis. Não há outro destino possível para o fim de semana passado. Senta que lá vem estória...

Cerca de 200 milhões de anos atrás, a Pangeia sofreu com muitos terremotos e vulcanismo e começou a se quebrar e a se mover bem devagar dando origem a dois continentes...

Calma, vamos dar um pulinho mais pra frente, (rs) e tentar ser breves.

No fim de 2019 traçamos (Pataro e eu) uma meta de fazer dois anos seguidos de UAI, crescendo a distância de 135k para 235k.

Para a brincadeira arrastaríamos Val nos 25k e Manoel nos 65k, ou seja, “Os filhos” de Mr. Running estariam todos reunidos em terras mineiras.                                                                                        

Um dos nossos últimos treinos de Dunas (14k0 antes da viagem

A gente planeja mas é Deus que dirige nossos passos. O homem propõe, Deus dispõe. E sobreveio a Pandemia e, com ela, o adiamento da UAI.

Iniciamos o ano de 2021 com as mesmas incertezas que havíamos acabado 2020, desta forma, não nos parecendo razoável subir (ainda mais) o “sarrafo” dos treinos, nos mantivemos inscritos nas mesmas distâncias.

Após a II edição doSalvador Aracaju correndo, concebemos um Projeto, que poderia ser realizado nos dias de férias reservados para a viagem de ida e volta a Minas Gerais.

Em maio veio a batida do martelo: Novo adiamento da UAI.

Para nossos planos (se era pra não ser realizada), não poderia haver momento melhor para acontecer esta divulgação, pois, desta forma, como fechamento simbólico dos dois ciclos específicos de treinamentos, pudemos marcar uma ida ao Caminho da Paz  e, na sequência, tirar da manga nosso o plano B: Correr 09 maratonas em nove dias consecutivos nas Capitais Nordestinas, experiência ímpar para nossas vidas, para muito além da corrida propriamente dita.

Como havíamos “sacrificados” dois anos com treinos que privilegiavam mais volume que intensidade, para uma prova que não aconteceu, e sonhando ainda com a tentativa de RP nas maratonas de asfalto (onde 2h 57’ 48 é o tempo a ser batido), optamos por deixar para retomar o Projeto UAI full em 2023.

É importante ressaltar que ao longo dos últimos 12 anos, fazemos dois semestres bem distintos. O primeiro com a busca pelas melhores marcas em maratonas e meias de asfalto e o segundo, onde buscamos provas de maior volume.

Assim, pra fechar o ano tão repleto de Projetos e corridas longas, buscamos encontrar uma prova de distância razoável, antes dos famosos 10 a 14 dias de treinos regenerativos e a entrada nos treinos de base, visando, tanto as provas de areias no começo do ano, quanto  a Maratona de Porto Alegre em 12 de junho de 2022.

Vínhamos quebrando a cabeça para achar tal prova, quando nos lembramos da UAI REVERSE, que estivera ali bem debaixo do nosso nariz o tempo todo, já que divulgada no mesmo dia do anúncio do cancelamento da UAI "normal".

5h e 48 para 42,2 k de areia fofa 

Passagens aéreas e hospedagem pagas há mais de um ano, inscrições da UAI “normal” que podia  ser transferida, a REVERSE era perfeita. De quebra, o incentivo a Manoel para se juntar a nosotros (Pataro e eu no 100k) e a Val para fazer sua primeira prova acima dos 42k.



Assim, garantimos mais alguns dias de treinos longos, com destaque para nossa maratona de areia fofa na Beach Cross, e o último longo pré-prova onde corremos 64km na montanha russa que é circuito de 8 km do CAB.

 

A VIAGEM

Aterrissamos em Sampa e seguimos de carro para Passa Quatro.

Pataro em soltura no Ibirapuera

No caminho uma paradinha deliciosa no Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida .



Um pouquinho mais de estrada e estávamos na charmosa Passa Quatro curtindo o característico e gostoso friozinho daquela cidade.



Saber que em breve meus amigos iriam poder desfrutar "um pouquinho" das maravilhas da Serra da Mantiqueira (na UAI, quem corre 100k, nunca pode esquecer de adicionar o “só”, afinal a distância full tem 235k), como eu havia desejado desde 2018 quando ali estivera,  deixava meu coração em festa.

A SOLTURA



Mantendo a tradição, na véspera da prova fomos fazer 25 minutinhos de soltura num ponto da primeira serra que pegaríamos no dia seguinte.

Apesar de sairmos com uma chuvinha fina e persistente, logo todos os filhos de Mr. Running estavam bem à vontade em relação à temperatura.

A LARGADA

Desta vez não houve hino nacional (economizei umas lágrimas rs) e em seu lugar um texto bem longe de ser um exemplo de “politicamente correto”  trouxe uma descontração geral e muito bem vinda ao ambiente.



Pontualmente, como costuma ser todos os eventos da Ultrarunner , foi dada a largada. Aos irmãos, como a mim mesmo, soprei a sentença, que graças a Deus, realmente viria a ser “cumprida” por todos:  “Vamos nos divertir”.

A PROVA


O dia amanhecera mais quentinho...

Por tudo que atravessamos nos últimos anos, aquele momento de retorno da UAI (ainda que em sentido contrário da usual) trazia para todos uma esperança, uma energia.

Pataro


Ainda não passou, mas é inegável que já existe uma luz no fim do túnel.

Em ritmo confortável fomos deixando Passa Quatro...

Logo as paisagens da Serra da Mantiqueira estariam tomando conta de nossos espíritos.

Val e Manu

A beleza daquele lugar ficará gravada pra sempre em todo ser que por ali passou. “Nunca nos esqueceremos desse acontecimento na vida de nossas retinas tão fatigadas”.

No sobe e desce da prova que prometia ser planinha rs, seguimos conhecendo pessoas, estórias, causos.

Esses momentos são únicos e a gente precisa aproveitá-los, pois, naturalmente, com o desenrolar das horas e dos quilômetros, os atletas tendem a correr na solidão (principalmente os que estão sem carro de apoio) , o que, não raro, nos proporciona também uma rica experiência.

Durante a viagem, sem prejuízo da parte competitiva, todos buscam se motivar, se ajudar. Afinal é um sonho que se está dividindo e a única coisa possível de se desejar ali é que todos cheguem em paz aos múltiplos destinos da prova.

Turma boa, entre eles o catarinense Cleverson  com  o baiano Edvaldo puxando a turma

Sem mandar Dropbox para o primeiro Ponto de Controle, passei batido pelo Bar de Zé Maria em Vírginia.

Acabáramos de pegar cerca de 400 metros de asfalto para cruzar uma rodovia, único de toda a prova do 100k e o Garmin marcava apenas 30km (4 a menos do que havia sido divulgado para aquele PC).

César Rosado com o apoio de sua esposa

De volta às estradas de terra, passamos a casa do 42k com o relógio marcando 4h 06’. Nesse momento reencontramos o César Rosado, com quem havíamos trocado uma ideia logo no início da prova. Ambos na prova do 100k, estávamos divididos pela modalidade com e sem apoio.

Survivor fora a opção de todos os “filhos” de Mr. Running, essa modalidade se caracteriza por não ter nenhum apoio, podendo contar somente com o que se leva nas mochilas, o que se compra pelas eventuais aparição de vendinhas no caminho e o que é disponibilizado pela Organização.



Às 13h30 da tarde (com 5h30 de prova), junto com um atleta da prova do 55k que já estava comemorando sua vitoriosa participação, alcançamos São Lourenço.

Recepcionados por Paola e os demais staffs do PC2, tratei de “destruir” minha Drop Box, sardinha (com requintes de salmão àquela altura do campeonato), queijim mineiro, salame, azeitona e agua, carbogel, etc.

12 minutos depois já estavámos de volta ao caminho.

Para não perder o costume, acabamos perdendo (por pouco tempo é verdade), as setas dentro da desenvolvida cidade.



Importante abrir aqui um parênteses: Mesmo para um ser que se perde em todas as provas de trilha (na jungle marathon, por exemplo, tive que voltar trechos  em 06 dos 07 dias, rs), a marcação da Uai, pelo menos até onde corri, esteve perfeita.

 Logo estaríamos deixando mais uma vez a civilização e nos divertindo no sobe e desce da Mantiqueira.


Em alguns momentos, talvez por causa do calor intenso,  quem passasse poderia ver um cara rindo sozinho, mas não conseguíamos nos conter quando nos lembrávamos da figura que divulgara a altimetria, e a frase ecoando na cabeça: “Até o 100k a prova é toda plana”.

O percurso englobado entre os km 56 e 67 coincidiram (ou não rs) com nosso pior momento na prova. Não por acaso, nesse interim, fui ultrapassado por Osiris (que viria a ser o segundo lugar geral da nossa prova).

Osiris

A notícia boa é que em breve estaríamos chegando ao fim da tarde.

Recuperados, passamos a marca dos 70 km com 7h e 30 de prova, com a decisão tomada de não comer a sardinha enviada para o drop box do PC3 em Caxambu.


No km 73, a bordo de sua supermáquina, o sempre atencioso Fernando Nogueira, diminuiu a velocidade ao emparelhar conosco perguntando se estava tudo bem, ao que, bem empolgados pelo retorno a corrida de forma mais confortável, respondemos afirmativamente.

Pouco tempo depois desta conversa mandamos para dentro o último golinho d’agua. Em nossa cabeça estávamos a 2 km da próxima parada, que pretendíamos bem breve (muito diferente do que realmente aconteceria).



Entretanto o PC prometido para o km 75 só foi surgir à nossa frente no km 80. Por volta do km 78 avistáramos uma fonte à beira da estrada (fortuna menos  provável para os que passassem naquele trecho já no escuro.

No PC, a gentileza dos Staffs contornava com maestria a reclamação geral de falta d’água de todos que ali chegavam.



Com o dobro do tempo gasto no PC 2 (24’),  partimos de Caxambu, deixando a sugestão de que se avisasse ao pessoal do PC anterior, a fim de que, principalmente os survivors,  estivessem preparados para aquele estirão.

Dali em diante, seguimos já com o coração começando a apertar de saudade, para a conclusão da prova.



Por volta do km 91, a escuridão começou a tomar conta das estradas. É necessário contar a grande dificuldade para colocar o obrigatório colete refletivo (deveria ter treinado isso antes, pensei rs).

Os mata-burros resolveram aparecer todos na parte final dos 100k, justamente quando estávamos (ou deveríamos estar todos os survivors) apenas guiados pelas luzes de nossas lanternas.

No km 95, com ótima sensação de frescor, ultrapassamos dois atletas que seguiam juntos.

Bruno Rota

Alcançamos o  km 100  com o relógio marcando pouco mais de 12 horas de prova

400 metros depois, uma cabana acesa no meio do mato e a voz do impagável Bruno Rota anunciavam um Bem vindo a Espraiado do Gamarra – Km 100 da UAI REVERSE, deliciosa surpresa para quem, por conta do que acontecera no PC anterior, havia se preparado para quem sabe correr até o km 105.

Classificado inicialmente como terceiro lugar geral, um dia depois uma nova lista de classificação me fez cair para 4 colocação .

Engraçado, como apenas naquele momento. é que nos demos conta que estávamos chegando no mesmo lugar que findaríamos caso estivéssemos fazendo a UAI 135 no sentido tradicional. Seria aquilo um tipo de escrita certa por tortuosas linhas?

Eufóricos  com  o final "repentino" fomos encaminhado por alguns staffs para registrar a famosa foto das asas, enquanto Bruno, solícito providenciava encontrar nossa Drop Box. 

Sem pressa, demos início ao processo de recuperação. Na caixa enviada ao PC final, proteína, vitamina C, bepantol, sandálias havaiana, meias, luvas, corta vento  e uma  muda de roupa. Tudo pensado para um conforto pós prova enquanto aguardássemos o primeiro ônibus de retorno a Passa Quatro programado para a meia-noite.

Banhar-se era fundamental, mas também, praticamente, uma competição à parte, dada a enorme, inclinada e irregular escada que levava até o banheiro que ficava em cima da vendinha. 

Espírito renovado, logo estávamos provando de um deliciosos e reconfortante caldo de feijão. 

Alic na batida para entregar seus 100 km com a vitória no feminino survivor

Pouco tempo depois chegaria Alic Viana, com quem havia conversado um pouco no posto de Caxambu, para sagrar-se a campeã feminina survivor dos 100 km.

Paulatinamente o PC 4, misturados os que ali fechavam sua participação com os que ainda seguiriam adiante, virava uma verdadeira tribo de celebração da amizade, solidariedade e irmandade.

Camilo Alves, campeão masculino do 100m  survivor


Olhos sempre atentos na escuridão, gritávamos palavras de incentivos a qualquer luzinha que se aproximasse (sobrou até para vagalumes). 

Williams Fernando

Lá pelas 21h30 chegaria Pataro comboiando o atleta Willians Fernando que ameaçara parar para dormir um pouco no km 99 (rs). Estas e outras tantas histórias foram enchendo a noite e nossos corações.


Pataro que com o efeito cascata lista de resultado definitiva acabou ficando em sétimo lugar

A falta de conexão daquele ermo lugar era mais um elo a nos ligar.

Manu com Pedro Luiz, parceiros de jornada
Por volta das 23h,após vários "agora é ele" equivocados,  com o rosto sorridente de sempre  finalmente chegaria Manoel. E o melhor de tudo, como um arranjo divino para saber que realmente já podíamos dar início a nossa festa pessoal, nosso amigo, trouxera-nos a notícia que estava com Val, quando ela chegou em São Lourenço completando sua missão na quarta colocação geral.

Val comemorando sua chegada no km 55

Enquanto Manu distraído mexia nas coisas de sua drop box, Pataro e eu íamos falando das possibilidades gastronômicas do local, bem como do chuveiro de água  quentinha.

De repente, já de toalha, sabonete e roupas na mão, os olhos do nosso amigo pousaram na gigantesca escada, quase que ao mesmo tempo em que o informávamos do preço do banho.

Não ficamos sabendo se mais por isso ou por aquilo, o fato é que estancando no meio do terreiro, em meio a toda turma que estava ali aguardando o buzu da meia noite, Manu soltou a melhor frase da noite.



"Vou tomar banho, não. Eu nem suei".

O povo caiu na gargalhada.... 

As 2h e 30 da manhã, com uma enorme sensação de família retorando de viagem, estávamos de volta a Passa Quatro.


Logo mais amanheceria o dia e os filhos de Mr. Running voltariam a estar reunidos. Graças a Deus.



De volta a Salvador


a

Treino-festa pra por os papos em dias no reotrno a Salvador . 






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