sexta-feira, 1 de maio de 2020

NOSSA CORRIDA DO DIA DO TRABALHADOR EM TEMPOS DE CORONA




Desde 2007, quando conhecemos a Raimundo Balthazar da Silveira, uma das corridas mais charmosas do calendário baiano, que o feriado de 1º de maio ganhou sempre aquela expectativa boa de amanhecer na orla da Ribeira, para desfrutar de toda beleza e poesia nos quase 08 quilômetros da prova organizada pela AVAB (Associação de Veteranos de Atletismo da Bahia). 

A partir de meados de março deste ano, porém, o Coronavírus desembarcou no Brasil pra valer, e os cancelamentos/adiamentos de provas começaram a pipocar.  O primeiro deles a  nos rondar e atingir foi a suspensão da Corrida Cidade de Aracaju, a decantada "São Silvestre do Nordeste". 


Por se tratar de uma prova em que a comunidade baiana desce em peso para a capital sergipana, naqueles dias, a angústia pela espera da decisão (a maioria de nós torcia pela manutenção da data)  foi amplamente compartilhada, e tema de assunto de praticamente todas as conversas.

Quando o martelo foi batido, e um súbito desânimo geral podia ser sentido, uma luz amarela se acendeu: era preciso buscar maneiras de manter a motivação em alta, e "de quebra",  os pensamentos numa faixa positiva. "O Amanhã a Deus pertence".

Absolutamente treinados para os 24 km da Corrida de Aracaju, nosso primeira proposta, aceita por toda turma que estava no dia-a-dia da preparação, foi fazer naquele final de semana (data em que seria a competição) e aqui mesmo em Salvador, uma meia-maratona em ritmo o mais próximo possível do competitivo. Ao final da missão, a alegria era geral. Endorfinas não reparam muito em número de peito.
No COE para meia maratona em substituição a Corrida Cidade de Aracaju

À medida que a Covid-19 ia finalmente virando uma Pandemia Mundial (antes era só coisa de gente de longe) e o assunto foi monopolizando todos os veículos de comunicação, e aumentando os temores por aqui, cada um de nós foi buscando aprender formas de viver este momento inusitado para nossa geração.

Assim que foi anunciado o adiamento da Maratona de Porto Alegre ( principal prova do semestre, para qual estávamos treinando, e que aconteceria no dia 31 deste mês), a fim de manter um foco no condicionamento físico e mental, lançamos nova proposta, Vamos treinar para simular na mesma data uma meia-maratona aqui mesmo em Salvador?

Prontos para largada de um 5k rápido
Em nossa opção de convivência em tempos de isolamento, reduzir o treino de 42 para 21 não era mero acaso. A intenção era tornar os treinos menos intenso, mais curtos, e portanto, buscando fugir daquela janela, e conhecida sensação de baixa de imunidade que costuma ocorrer imediatamente após aos treinos longos e extenuantes.

A boa informação nos foi ajudando a moldar hábitos, sobretudo de higiene. Hoje mesmo ao me dirigir para casa após nossa "competição" me peguei pensando que o carnaval fora outro dia, e mesmo já sabendo da situação na China, a gente não podia se imaginar todos mascarados tão pouco tempo depois, e, finalmente entendendo que a cena tão comum, e estranha para nós, nos países asiáticos, sempre fora fruto da educação e do cuidado com o próximo.


Tempos de adaptação: Body Pump dentro de casa com sacos de feijão e arroz, cabo de vassoura etc.
Treinando em média 4 vezes por semana, e buscando juntar (pero no mucho) a turma ao menos num desses treinos, estamos vivendo um dia de cada vez. Aproveitando as horas mortas, os lugares vazios ("As Dunas são uma academia ao ar livre, presente de papai do céu," nunca foi tão verdade essa frase do Prof. Carlinhos). ´Ninguém compartilha nada, ninguém dá carona. ninguém sequer faz aquele cumprimento de pés que viralizou no começo da Pandemia, ninguém guarda nada no veículo do outro. 


Só agradecer a Deus a possibilidade de ter esse "quintal"


Seria ingênuo pensar que essas prevenções nos irá garantir imunidade, afinal, a maioria de nós segue trabalhando na linha de frente, mas acreditamos mesmo que sair para uma corridinha, sem tocar em nada durante o trajeto, cumprindo os rituais de retorno a casa, do tipo tênis que vai para a rua não entra em casa, roupas lavadas durante o banho imediato etc, é muito menos arriscado do que uma ida a mercearia ou padaria, por exemplo.



No fundo, no fundo, nunca foi diferente, e nada garante nada. "O amanhã a Deus pertence". Além disso, não somos melhores do que nenhum irmão, em lugar algum do mundo que está sofrendo doente, ou pela perda de um ente querido. Que seja feita sempre a vontade de Deus!


Com a estratégia de saídas individuais e espaçadas entre si, por um minuto (medidas de adaptação ao novo cenário), nossa versão da corrida "dos Trabalhadores", que teve largada e chegada no Porto dos Mastros, novamente teve o poder de espalhar gotas de suor e felicidade em nosso dia.

Km 3 da prova de hoje

Axé!


"Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente 
E sem desassossegos grandes...

...
... Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, 
E sempre iria ter ao mar"

(trecho de "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - Ricardo Reis (F. Pessoa).








OUTROS MOMENTOS NOS MESES DE MARÇO E ABRIL
Em março, antes da proibição das praias

















OUTRAS MUMUNHAS ...

Feliz dia das mães antecipado (Tia Lourdes)