MARATONA DE PORTO ALEGRE 2019

Usina do Gasômetro - iniciando o tradicional treino de soltura na véspera da maratona

No último domingo aconteceu a 36ª edição daquela que considero conter os melhores 42,2 km do país: a Maratona de Porto Alegre.

E foi com um sentimento de muita gratidão a Deus pela oportunidade de novamente fazer parte dessa festa, que embarquei para a capital gaúcha ao lado dos amigos (e parceiros de treinos) Pataro, Rebeca e Val.

Logo de cara, na conexão em São Paulo, um excelente augúrio. De repente tinha ao meu lado, perguntando-me se estava indo para a Maratona, nada mais nada menos que o multi-campeão Fredison da Costa.

Com o baiano Fredison Costa, atleta da New Balance e atual heptacampeão da Maratona da Disney

Foi muito bom poder contar para o ídolo que no dia do meu RP em meia maratona (obtido em São Paulo numa prova em que inclusive ele foi o vencedor) eu estava usando um tênis marca/modelo inspirado nele e, ainda melhor, ver em seus olhos a satisfação por essa lembrança.

Esse clima que antecede as grandes maratonas é diferente de tudo o que se vê noutro tipo de prova. Val (a única de nós quatro que não ia para os 42 km), que pela primeira vez iria fazer uma prova fora da Bahia, não disfarçava o seu espanto em ver tantos corredores juntos. Era como se todos os assentos houvessem sido destinados a atletas, facilmente reconhecidos por seus cronômetros de pulso, suas camisetas de prova e os coloridos tênis.

Nossa tribo é nômade e agora o ponto de convergência para os guerreiros de todos os recantos do país era o paralelo 30.


E haja encontros e reencontros. Na entrega do kit os abraços se multiplicavam e uma sensação inebriante, e ao mesmo tempo realista, trazia aquela gostosa sensação de ficha caída: estávamos há poucas horas de pôr à prova o treino de meses e meses, mas, independentemente de resultados, estar ali por si só já fazia tudo valer a pena.


SÁBADO E A VELHA SOLTURA

corridinha pré-prova à beira do Guaíba

Nosso tradicional treino de soltura da véspera tinha uma preocupação diferente dos anos anteriores em Poá. Será que vai esquentar muito? A previsão do tempo andara meio louca durante toda a semana, ora vaticinando chuva, ora sol. O fato é que nunca antes na estória daquela maratona eu havia encontrado Porto Alegre com temperatura tão alta.

O DIA DA PROVA

Rebeca desfilando na bela Poá

"Rompeu-se o Natal porém barra não veio, e o sol bem vremeio nasceu muito além" - Patativa do Assaré

O dia amanheceu com temperatura amena, algo em torno de 15 graus. Acredito que ficou assim até o final da manhã daquele domingo. Se não era o frio dos anos anteriores, tampouco podia ser chamado de calor para "Pataxós" acostumados a treinar com, no mínimo, o dobro.

Pra ser sincero, acho até que a temperatura esteve ideal para uma corrida perfeita (Xii, acho que acabo de descartar uma possível desculpa para meu rendimento apenas razoável no domingo - rs) e, como que para convencer-me, de repente, outro encontro dos bons. Ali à minha frente um dos expoentes da tribo capixaba e da ultramaratona nacional: o amigo Carlos Gusmão que, só para adiantar um pouco a estória, conseguiria naquele dia o seu primeiro e tão perseguido sub 3.

Foto de Arquivo - Com Gusmão, o mais novo sub -3 do time, nas 12 h Nigth Run do E. Santo

Logo mais partiria para minha 8ª Maratona de Porto Alegre. Em todos as participações anteriores havia estabelecido nova marca pessoal. Não obstante o tempo obtido na Meia Maratona de Feira (que me apontava uma chance, ainda que remota), chegara desconfiado de que desta vez não iria conseguir manter a escrita.
Estreara ali em 2008, quando conheci Pataro nos primeiros 500 metros da corrida. Na hora em que trocávamos nosso tradicional desejo de diversão mútua, pensava exatamente nisso: "brincando, brincando, lá se vão 11 anos de treinos e irmandade".

Pataro decolando em Porto Alegre 

Chegar desconfiado também não era algo que inviabilizasse a tentativa, afinal já chegara ali em anos anteriores com a confiança bem mais abalada e depois de "aberta a jaula", partia selva de pedra afora até o feliz destino.
É claro que o inverso já aconteceu também, são tantas provas (rs), mas prefiro mentalizar o copo meio cheio.

Às 7h02 partimos para nossa viagem. Meu Deus, como gosto disso! Era o que agradecido pensava enquanto os pés tocavam o tapete de largada e os dedos acionavam o garmin.

Corredores de todos os tons de pele, deixávamos o Joquei Clube e íamos enchendo de cores as ruas e avenidas gaúchas.

O novo circuito da Maratona de Poá mostrou-se um pouco travado na primeira metade (que concidia com o trajeto da meia maratona), e ouvi muita gente reclamando da informação “prova plana”.

Val que passou os km 21, sem nenhum chororô, rs

Mesmo não totalmente encaixado, atingi a metade da prova com exatos 1h30’, já bem distante para quem precisava superar os atuais 2h57'48”, mas com uma pequena possibilidade, caso conseguisse um split negativo, de comemorar um novo sub 3h.

Lá pelo km 25 o garmin teimava em me mostrar a cada km um ritmo de 4'22. Àquela altura da prova estava ao lado do Prof. Renato Maia (parceria que já havia sido feita noutras provas e na preparação), que estava mais ou menos com os mesmos planos A e B.

"Voando"  na passagem pelo Monumento aos Açorianos

Foi até engraçado como, quase que ao mesmo tempo, olhamos um para o outro e falamos "parece que já foi" (rs). Tudo bem, faríamos o melhor para o dia.

Dali a pouco Maia me deixaria, pra fechar sua prova cerca de 04 minutos antes da minha chegada ao pórtico, onde nos reencontraríamos para um abraço de parabéns por mais uma prova conquistada.

Com Renato Maia

De certa forma aliviado por abandonar a luta contra o relógio, dali por diante deixei o corpo ditar o ritmo. Afinal, quem é maratonista sabe, a conquista do tempo almejado só vale mesmo quando se segue encaixado, quando flui naturalmente. Não me canso de dizer que após os planos A, B, C... o Z sempre será chegar vivo e feliz (rs).

Com a sobra de oxigênio, passei a cumprimentar mais as pessoas, dando parabéns antecipado pela viagem que estava chegando ao fim, dirigindo palavras de incentivo tanto aos que se apresentavam mais desgastados pelos quilômetros, quanto aos que iam me deixando para trás.

Em algum momento cheguei até a cogitar a ideia de aguardar o amigo Pataro no km 40 para tentar puxá-lo nos kms finais, na hipótese de que ele ali chegasse com chance de RP.

Entretanto, exatamente na marca dos 40, soou o alarme das 3h. Até achava que já estava mais acima, tal a tranquilidade que vinha seguindo. Então, sabendo que faltavam 2,2 km, criei naquele momento uma nova meta: Sub 3h10’.


Lá ia eu me concentrar no relógio de novo (rs), mas era por pouco tempo, e por uma boa causa. Lembrava-me de umas palavras de Vicent Sobrinho, e chegando mais ou menos no ritmo que deveria ter corrido a prova toda, com 3h 09' 52 segundos, cruzava o pórtico, estabelecendo, por assim dizer, o meu novo RP após os primeiros 50 anos de vida (mas não entendam isso como um jogar a toalha, a meta é seguir treinando para, quem sabe, superar a marca alcançada na primeira metade do século).

Após o famoso abraço com Maia, segui cumprimentando tods os companheiros que haviam chegado embolados comigo.

Logo mais surgiria Pataro, com excelente tempo (oitavo na categoria 55/59), mas também sem conseguir seu RP. Ele que esteve bem mais perto do objetivo, não obstante não ter conseguido, exibia (até porque os dentes não cabem dentro da boca) o sorriso jovial de sempre.

Havíamos vencido mais uma vez a distância mágica. 

Mas quem foi que disse que não houve RP de verdade?

As meninas mandaram ver nas ruas de Poá, emplacando novas marcas pessoais nas duas provas.


Val, que havia chegado em Porto Alegre para o que é apenas sua terceira meia maratona, e tinha a missão de conseguir um sub 2, com a impressionante média de 5'22/km fechou a prova em 1h 54' 04”. 

Val correndo leve para o RP zaço

Rebeca (em sua quarta maratona), detonou o antigo recorde em mais de 7 minutos, cruzando o pórtico com o tempo de 4h 24' 51”.

Rebeca a caminho do novo recorde pessoal

E desse jeito, missões cumpridas, fomos todos alegres em Porto.

Até a próxima!