sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
sábado, 20 de novembro de 2021
OS SURVIVORS ''FILHOS DE MR. RUNNING" NA UAI REVERSE
com Pataro, Manoel e Val- prontos para largada |
Na galeria dos
inesquecíveis. Não há outro destino possível para o fim de semana passado.
Senta que lá vem estória...
Cerca de 200 milhões de
anos atrás, a Pangeia sofreu com muitos terremotos e vulcanismo e começou a se
quebrar e a se mover bem devagar dando origem a dois continentes...
Calma, vamos dar um
pulinho mais pra frente, (rs) e tentar ser breves.
No fim de 2019 traçamos
(Pataro e eu) uma meta de fazer dois anos seguidos de UAI, crescendo a
distância de 135k para 235k.
Para a brincadeira arrastaríamos Val nos 25k e Manoel nos 65k, ou seja, “Os filhos” de Mr. Running estariam todos reunidos em terras mineiras.
Um dos nossos últimos treinos de Dunas (14k0 antes da viagem |
A gente planeja mas é Deus que dirige nossos passos. O homem propõe, Deus dispõe. E sobreveio a Pandemia e, com ela, o adiamento da UAI.
Iniciamos o ano de 2021 com
as mesmas incertezas que havíamos acabado 2020, desta forma, não nos parecendo
razoável subir (ainda mais) o “sarrafo” dos treinos, nos mantivemos inscritos
nas mesmas distâncias.
Após a II edição doSalvador Aracaju correndo, concebemos um Projeto, que poderia ser realizado nos
dias de férias reservados para a viagem de ida e volta a Minas Gerais.
Em maio veio a batida do
martelo: Novo adiamento da UAI.
Para nossos planos (se era pra não ser realizada), não poderia haver momento melhor para acontecer esta divulgação, pois, desta forma, como fechamento simbólico dos dois ciclos específicos de treinamentos, pudemos marcar uma ida ao Caminho da Paz e, na sequência, tirar da manga nosso o plano B: Correr 09 maratonas em nove dias consecutivos nas Capitais Nordestinas, experiência ímpar para nossas vidas, para muito além da corrida propriamente dita.
Como havíamos
“sacrificados” dois anos com treinos que privilegiavam mais volume que
intensidade, para uma prova que não aconteceu, e sonhando ainda com a tentativa
de RP nas maratonas de asfalto (onde 2h 57’ 48 é o tempo a ser batido), optamos
por deixar para retomar o Projeto UAI full em 2023.
É importante ressaltar que
ao longo dos últimos 12 anos, fazemos dois semestres bem distintos. O primeiro
com a busca pelas melhores marcas em maratonas e meias de asfalto e o segundo,
onde buscamos provas de maior volume.
Assim, pra fechar o ano
tão repleto de Projetos e corridas longas, buscamos encontrar uma prova de
distância razoável, antes dos famosos 10 a 14 dias de treinos regenerativos e a
entrada nos treinos de base, visando, tanto as provas de areias no começo do ano, quanto a
Maratona de Porto Alegre em 12 de junho de 2022.
Vínhamos quebrando a
cabeça para achar tal prova, quando nos lembramos da UAI REVERSE, que estivera ali bem debaixo do nosso nariz o tempo todo, já que divulgada no mesmo
dia do anúncio do cancelamento da UAI "normal".
5h e 48 para 42,2 k de areia fofa |
Passagens aéreas e
hospedagem pagas há mais de um ano, inscrições da UAI “normal” que podia ser transferida, a REVERSE era perfeita. De
quebra, o incentivo a Manoel para se juntar a nosotros (Pataro e eu no 100k) e
a Val para fazer sua primeira prova acima dos 42k.
Assim, garantimos mais
alguns dias de treinos longos, com destaque para nossa maratona de areia fofa na
Beach Cross, e o último longo pré-prova onde corremos 64km na montanha russa que é circuito de 8 km do CAB.
A VIAGEM
Aterrissamos em Sampa e
seguimos de carro para Passa Quatro.
Pataro em soltura no Ibirapuera |
No caminho uma paradinha deliciosa no Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida .
Um pouquinho mais de
estrada e estávamos na charmosa Passa Quatro curtindo o característico e gostoso friozinho daquela cidade.
Saber que em breve meus amigos iriam poder desfrutar "um pouquinho" das maravilhas da Serra da Mantiqueira (na UAI, quem corre 100k, nunca pode esquecer de adicionar o “só”, afinal a distância full tem 235k), como eu havia desejado desde 2018 quando ali estivera, deixava meu coração em festa.
A SOLTURA
Mantendo a tradição, na véspera
da prova fomos fazer 25 minutinhos de soltura num ponto da primeira serra que
pegaríamos no dia seguinte.
Apesar de sairmos com uma
chuvinha fina e persistente, logo todos os filhos de Mr. Running estavam bem à
vontade em relação à temperatura.
A LARGADA
Desta vez não houve hino nacional (economizei umas lágrimas rs) e em seu lugar um texto bem longe de ser um exemplo de “politicamente correto” trouxe uma descontração geral e muito bem vinda ao ambiente.
Pontualmente, como costuma
ser todos os eventos da Ultrarunner , foi dada a largada. Aos irmãos, como a
mim mesmo, soprei a sentença, que graças a Deus, realmente viria a ser “cumprida” por todos: “Vamos nos divertir”.
A PROVA
Por tudo que atravessamos
nos últimos anos, aquele momento de retorno da UAI (ainda que em sentido
contrário da usual) trazia para todos uma esperança, uma energia.
Pataro |
Ainda não passou, mas é
inegável que já existe uma luz no fim do túnel.
Em ritmo confortável fomos
deixando Passa Quatro...
Logo as paisagens da Serra
da Mantiqueira estariam tomando conta de nossos espíritos.
Val e Manu |
A beleza daquele lugar
ficará gravada pra sempre em todo ser que por ali passou. “Nunca nos
esqueceremos desse acontecimento na vida de nossas retinas tão fatigadas”.
No sobe e desce da prova
que prometia ser planinha rs, seguimos conhecendo pessoas, estórias, causos.
Esses momentos são únicos
e a gente precisa aproveitá-los, pois, naturalmente, com o desenrolar das horas
e dos quilômetros, os atletas tendem a correr na solidão (principalmente os que
estão sem carro de apoio) , o que, não raro, nos proporciona também uma rica
experiência.
Durante a viagem, sem
prejuízo da parte competitiva, todos buscam se motivar, se ajudar. Afinal é um
sonho que se está dividindo e a única coisa possível de se desejar ali é que
todos cheguem em paz aos múltiplos destinos da prova.
Turma boa, entre eles o catarinense Cleverson com o baiano Edvaldo puxando a turma |
Sem mandar Dropbox para o
primeiro Ponto de Controle, passei batido pelo Bar de Zé Maria em Vírginia.
Acabáramos de pegar cerca
de 400 metros de asfalto para cruzar uma rodovia, único de toda a prova do 100k
e o Garmin marcava apenas 30km (4 a menos do que havia sido divulgado para
aquele PC).
César Rosado com o apoio de sua esposa |
De volta às estradas de terra, passamos a casa do 42k com o relógio marcando 4h 06’. Nesse momento reencontramos o César Rosado, com quem havíamos trocado uma ideia logo no início da prova. Ambos na prova do 100k, estávamos divididos pela modalidade com e sem apoio.
Survivor fora a opção de
todos os “filhos” de Mr. Running, essa modalidade se caracteriza por não ter
nenhum apoio, podendo contar somente com o que se leva nas mochilas, o que se
compra pelas eventuais aparição de vendinhas no caminho e o que é
disponibilizado pela Organização.
Às 13h30 da tarde (com
5h30 de prova), junto com um atleta da prova do 55k que já estava comemorando sua
vitoriosa participação, alcançamos São Lourenço.
Recepcionados por Paola e
os demais staffs do PC2, tratei de “destruir” minha Drop Box, sardinha (com
requintes de salmão àquela altura do campeonato), queijim mineiro, salame,
azeitona e agua, carbogel, etc.
12 minutos depois já
estavámos de volta ao caminho.
Para não perder o costume,
acabamos perdendo (por pouco tempo é verdade), as setas dentro da desenvolvida cidade.
Importante abrir aqui um
parênteses: Mesmo para um ser que se perde em todas as provas de trilha (na jungle marathon, por exemplo, tive que voltar trechos em 06 dos 07 dias, rs), a marcação da Uai,
pelo menos até onde corri, esteve perfeita.
Logo estaríamos deixando mais uma vez a
civilização e nos divertindo no sobe e desce da Mantiqueira.
Em alguns momentos, talvez por causa do calor
intenso, quem passasse poderia ver um cara rindo sozinho, mas
não conseguíamos nos conter quando nos lembrávamos da figura que divulgara a
altimetria, e a frase ecoando na cabeça: “Até o 100k a prova é toda plana”.
O percurso englobado entre
os km 56 e 67 coincidiram (ou não rs) com nosso pior momento na prova. Não por
acaso, nesse interim, fui ultrapassado por Osiris (que viria a ser o segundo
lugar geral da nossa prova).
Osiris |
A notícia boa é que em
breve estaríamos chegando ao fim da tarde.
Recuperados, passamos a marca dos 70 km com 7h e 30 de prova, com a decisão tomada de não comer a sardinha enviada para o drop box do PC3 em Caxambu.
No km 73, a bordo de sua supermáquina, o sempre atencioso Fernando Nogueira, diminuiu a velocidade ao emparelhar conosco perguntando se estava tudo bem, ao que, bem empolgados pelo retorno a corrida de forma mais confortável, respondemos afirmativamente.
Pouco tempo depois desta conversa mandamos para dentro o último golinho d’agua. Em nossa cabeça estávamos a 2 km da próxima parada, que pretendíamos bem breve (muito diferente do que realmente aconteceria).
Entretanto o PC prometido
para o km 75 só foi surgir à nossa frente no km 80. Por volta do km 78
avistáramos uma fonte à beira da estrada (fortuna menos provável para os que passassem naquele trecho
já no escuro.
No PC, a gentileza dos
Staffs contornava com maestria a reclamação geral de falta d’água de todos que
ali chegavam.
Com o dobro do tempo gasto no PC 2 (24’), partimos de Caxambu, deixando a sugestão de que se avisasse ao pessoal do PC anterior, a fim de que, principalmente os survivors, estivessem preparados para aquele estirão.
Dali em diante, seguimos
já com o coração começando a apertar de saudade, para a conclusão da prova.
Por volta do km 91, a
escuridão começou a tomar conta das estradas. É necessário contar a grande
dificuldade para colocar o obrigatório colete refletivo (deveria ter treinado
isso antes, pensei rs).
Os mata-burros resolveram
aparecer todos na parte final dos 100k, justamente quando estávamos (ou
deveríamos estar todos os survivors) apenas guiados pelas luzes de nossas
lanternas.
No km 95, com ótima sensação
de frescor, ultrapassamos dois atletas que seguiam juntos.
Bruno Rota |
Alcançamos o km 100 com o relógio marcando pouco
mais de 12 horas de prova
400 metros depois, uma
cabana acesa no meio do mato e a voz do impagável Bruno Rota anunciavam um Bem vindo a Espraiado
do Gamarra – Km 100 da UAI REVERSE, deliciosa surpresa para quem, por conta do que acontecera no PC anterior, havia se preparado para quem sabe correr até o km 105.
Classificado inicialmente como terceiro lugar geral, um dia depois uma nova lista de classificação me fez cair para 4 colocação . |
Engraçado, como apenas naquele momento. é que nos demos conta que estávamos chegando no mesmo lugar que findaríamos caso estivéssemos fazendo a UAI 135 no sentido tradicional. Seria aquilo um tipo de escrita certa por tortuosas linhas?
Sem pressa, demos início ao processo de recuperação. Na caixa enviada ao PC final, proteína, vitamina C, bepantol, sandálias havaiana, meias, luvas, corta vento e uma muda de roupa. Tudo pensado para um conforto pós prova enquanto aguardássemos o primeiro ônibus de retorno a Passa Quatro programado para a meia-noite.
Banhar-se era fundamental, mas também, praticamente, uma competição à parte, dada a enorme, inclinada e irregular escada que levava até o banheiro que ficava em cima da vendinha.
Espírito renovado, logo estávamos provando de um deliciosos e reconfortante caldo de feijão.
Alic na batida para entregar seus 100 km com a vitória no feminino survivor |
Pouco tempo depois chegaria Alic Viana, com quem havia conversado um pouco no posto de Caxambu, para sagrar-se a campeã feminina survivor dos 100 km.
Paulatinamente o PC 4, misturados os que ali fechavam sua participação com os que ainda seguiriam adiante, virava uma verdadeira tribo de celebração da amizade, solidariedade e irmandade.
Camilo Alves, campeão masculino do 100m survivor |
Olhos sempre atentos na escuridão, gritávamos palavras de incentivos a qualquer luzinha que se aproximasse (sobrou até para vagalumes).
Williams Fernando |
Lá pelas 21h30 chegaria Pataro comboiando o atleta Willians Fernando que ameaçara parar para dormir um pouco no km 99 (rs). Estas e outras tantas histórias foram enchendo a noite e nossos corações.
Pataro que com o efeito cascata lista de resultado definitiva acabou ficando em sétimo lugar |
A falta de conexão daquele ermo lugar era mais um elo a nos ligar.
Manu com Pedro Luiz, parceiros de jornada |
Val comemorando sua chegada no km 55 |
Enquanto Manu distraído mexia nas coisas de sua drop box, Pataro e eu íamos falando das possibilidades gastronômicas do local, bem como do chuveiro de água quentinha.
De repente, já de toalha, sabonete e roupas na mão, os olhos do nosso amigo pousaram na gigantesca escada, quase que ao mesmo tempo em que o informávamos do preço do banho.
Não ficamos sabendo se mais por isso ou por aquilo, o fato é que estancando no meio do terreiro, em meio a toda turma que estava ali aguardando o buzu da meia noite, Manu soltou a melhor frase da noite.
"Vou tomar banho, não. Eu nem suei".
O povo caiu na gargalhada....
As 2h e 30 da manhã, com uma enorme sensação de família retorando de viagem, estávamos de volta a Passa Quatro.
Logo mais amanheceria o dia e os filhos de Mr. Running voltariam a estar reunidos. Graças a Deus.
De volta a Salvador
a
Treino-festa pra por os papos em dias no reotrno a Salvador . |