E mais uma vez, graças a Deus, a estória se repetiu...
Mal acabara de
parabenizar-me pelo resultado nas 12 horas da Night Run do Espírito Santo, o alagoano
Marcondes Lyra, foi logo atacando:
"Agora
já tá na hora da gente fazer uma viagem de bike novamente. Vamos discutir logo
qual trecho e período?".
Não sem alguns
choramingos, alegando que precisava de uns 10 dias de descanso para depois
começar a base para 2019 (período em que a bike é sempre bem-vinda), acabamos nos
decidindo por encaixar entre Natal e o Ano Novo, os 600 km que separam as
cidades de Salvador e Maceió
A opção pela viagem entre as
cidades onde vivemos, não era uma mera coincidência, Marcondes comprara a ideia
de buscar fechar todo o NE nestas nossas pedaladas de férias, e uma vez que já havíamos
pedalado de Maceió a João Pessoa, e de Salvador a Porto Seguro, precisávamos “tapar
este buraco” na programação Nordeste Sobre Duas Rodas.
Apesar do pouco tempo que
dispúnhamos, saber que voltaria a estar novamente numa viagem de bike com o “irmão
de estrada”, encheu-me daquela boa expectativa de dias agradáveis pela frente.
E olha que o trecho não tem
muita novidade para mim, pois desde o começo dos anos 90, muitas vezes já fui (ou
passei) pedalando por Maceió. Aliás a respeito disso, outro diz respondi a
um amigo:
“Adoro apresentar. Pedalo em
estrada há mais de 30 anos, e muitas vezes, a grande motivação para voltar a
fazer o mesmo trecho, está exatamente em poder contribuir com a realização do
sonho de outras pessoas. Assemelha-se a ler um conto, um poema ou um livro que
você gosta muito para outrem. Enquanto se corre o risco de contaminar o outro
com o mesmo encantamento vivido na sua primeira leitura, durante a viagem, poderá
você mesmo, descobrir novos sentidos não captados anteriormente naquela obra."
Por volta de 11 horas do dia
25 de dezembro, após uma desgastante viagem de ônibus, Marcondes chegava em
Salvador.
Mais uma vez fomos rápidos
no gatilho. Decidindo, de última hora, pelo início da viagem, com um pequeno
deslocamento no meio da tarde.
25/12 – O PEDAL BAIANO
DE SALVADOR A PRAIA DO
FORTE – 60KM
Após fazermos nossos
registros, por volta volta das 15h 30 deixamos Salvador com destino a Praia do
Forte.
O vento forte e contra do
final de tarde, fez com que o amigo deixasse escapar um pensamento:
Relaxe, respondi. Daqui pra
lá, ou de lá pra cá, a viagem sempre se assemelhará à vida, há dias de vento
contra, e outros de ladeira abaixo, rs.
Em Praia do Forte |
26/12 – O PEDAL
BAHIA/SERGIPE
DE PRAIA DO FORTE A
INDIAROBA – 150 KM
Antes de clarear, como viria
a ser em toda nossos dias de viagem, deixamos Praia do Forte. Ao mesmo tempo, o
amigo Joel, que resolveu se juntar à expedição, saía de sua casa em Salvador.
Sabíamos que teríamos um dia
bem duro pela frente, quem já pedalou pela Linha Verde sabe bem do que estou
falando, são ladeiras, ladeiras, ladeiras e mais ladeiras, com um detalhe bem
interessante, cada vez mais elas vão se tornando piores, rs.
Existe um padrão de ladeira
entre Praia do Forte e Porto de Sauípe, outro de Sauípe a Baixios, e assim por
diante, até chegar na divisa BA/SE.
Por volta das 10 e meia da manhã, chegamos ao Conde (Km 153 da Linha Verde). Após registros, com a intenção de sair de lá quando o sol estivesse menos quente, seguimos para Restaurante Tempero Meu (km 157 - parada obrigatória há décadas.
A pretensão era se deliciar com o caseiro almoço, e tirar um cochilo numa sombra enquanto esperávamos Joel, entretanto, o impagável Sr. Alfeu, resolveu sacar sua viola e, esquecidos que chegamos lá razoavelmente cansados, fizemos uma festança das boas até a hora de irmos embora, com direito inclusive, a solicitação de música de clientes de outras mesas.
Com "Seu" Alfeu, prontos para voltar à estrada |
O trecho a cumprir naquele final de tarde, coincidia exatamente com o quarto dia do meu Desafio SalvadorAracaju Correndo, portanto, cumpria-me prevenir os amigos, que apesar de tudo que já havíamos enfrentados, as 02 piores ladeiras da linha verde ainda estavam por vir.
Lentamente readquirimos o ritmo de viagem, e logo o frescor da tarde, tornaria mais fácil a missão de seguir e em frente pelos 42 km restantes daquele dia.
Divisa BA/SE |
Alcançamos Indiaroba e,
repetindo viagens anteriores, a Pousada Pereira foi nosso ponto de apoio.
27/12 – O PEDAL SERGIPANO
DE INDIAROBA A PIRAMBU –
140 KM
O dia estava amanhecendo enquanto
deixávamos Indiaroba.
Durante a noite havíamos
abortado a ideia de passar em Mangue Seco (evitando ter que voltar pelo mesmo
caminho para seguir viagem) e o destino do pedal daquele dia estava meio em aberto.
Nossa primeira “tacada”,
novamente coincidiu com um trecho do Desafio Salvador Aracaju Correndo, e com 51km rodados paramos em Caueiras para repor “combustível”.
Reabastecidos, alcançamos a
capital sergipana, por volta das 10 horas, e acatando sugestão de Marcondes,
resolvemos atravessar logo a ponte para irmos a Barra de Coqueiros, onde pretendíamos
almoçar e encerrar a pedalada do dia.
Almoçamos e chegamos mesmo a
nos instalar em Barra dos Coqueiros, inclusive, já havia gente dormindo, malas
desfeitas, coisas espalhadas pelo chão, etc, quando Marcondes, notou que
Pirambu estava muito mais perto do que pensávamos.
Houve um breve momento de
lamentação por não havermos percebido isso antes, contudo no minuto seguinte, sob
o olhar meio incrédulo da turma, dizendo que levantaríamos acampamento, pulei
do chão para ir negociar com o dono da pousada.
Eram quase 04 da tarde, mas sentia que para a logística da viagem, sair de Pirambu no outro dia de manhã iria fazer uma grande diferença. Além disso, tratava-se de uma cidade que sempre achara bonita, mas que nunca havia ficado.
Nos 05 quilômetros finais, os faróis precisaram ser acionados. No caminho, a visão do Parque Eólico (provavelmente passaríamos ali antes de amanhecer, no plano anterior), trouxe-nos uma pequena compensação por haver chegado em Pirambu à noite, e sem poder contemplar toda aquela belezura de barcos em seu porto.
O bom é que havia uma feira
em pleno funcionamento, onde conseguimos fazer uma bela alimentação e na
pousada Praia do Sol (em que 03 ciclistas que passaram por nós na direção contrária
haviam se hospedado no dia anterior) fomos super bem recepcionados.
26/12 – O PEDAL SERGIPE/ALAGOAS
DE INDIAROBA A CORURIPE
(Lagoa do Pau) – 125 KM
Traçara a rota, buscando
realizar antigo desejo de conhecer o lado sergipano do Delta do São Francisco, e
naquele dia nosso caminho nos levaria a cidade de Brejo Grande.
Foram apenas 05 quilômetros
na estrada que leva a Japaratuba. Ainda no escuro, reconhecemos a tartaruga descrita
nas informações tomadas e a parti dali iniciaríamos a parte mais
divertida/complicada da viagem.
Após uma enorme subida e
alguns quilômetros numa estrada novinha em folha, começamos a enfrentar grandes
trechos de piçarra, com muita areia fofa por cima, trazida das dunas das
vizinhanças.
O piso de chão se alternava com
pequenas extensões de asfalto. Com 03 horas de viagem, não havíamos feito nem
40 quilômetro ainda (nossa maratona não seria sub -3, rs). Joel já dava claras amostras de não
concordar com o caminho tomado. Buscava animá-lo, dizendo que uma hora
chegaríamos em nosso destino.
Fízéramos uma previsão
de almoço em Piaçabuçu para seguir adiante no final da tarde, mas naquele
momento, tinha certeza de que se todo o cerca dos 30 quilômetros restantes,
fossem naquele piso, precisaríamos refazer o plano de viagem.
Havia também o medo de toda
aquela força empregada para vencer as subidas de areia, comprometer algum
componente essencial de nossas bikes, tipo corrente, câmbio, etc...
Paciência, com a desistência
de passar em Mangue Seco, havíamos diminuído um dia em nosso de viagem, e desta
forma, tínhamos saldo. Aquelas seriam nossas dunas e restingas a contemplar. Mais
vale viver e agradecer o dia de hoje do que se angustiar pelo que virá amanhã.
Depois de uma parada na beira da estrada para comer um cuscuz com ovo, seguimos adiante, sabendo que restava pouco menos de 15 quilômetro para alcançarmos o ponto donde o asfalto nos faria companhia até Brejo Grande.
Nunca um retorno ao asfalto fora tão festejado. E não é que apesar de tudo, às 11 horas estávamos na margem sergipana do Rio São Francisco? Valera a pena ter saído as 4H 15 da manhã de Pirambu. Mais que isso, fora fundamental ter deixado Barra dos Coqueiros na tarde do dia anterior. Já imaginaram, como seria se enfrentássemos aquele trecho chegando nele mais tarde?
Enquanto esperávamos a balsa que nos levaria para o outro lado da margem (Piaçabuçu), lavando toda a poeira do caminho, gastamos o rio.
Por volta das 12 e 30, já
esquecidos da manhã dura, na pousada e restaurante Santiago, outro lugar que
fico habitualmente em minhas passagens por Piaçabuçu, traçávamos uma deliciosa
moqueca de dourado.
Conversando sobre nossa viagem de bike, após o almoço, conseguimos a cortesia de um quarto para tomar banho e descansar até o sol baixar um pouco. O plano original estava mantido.
Deixando Piaçabuçu |
Renovados, por volta das 15h
30, botamos as magrelas na estrada. Àquela altura da viagem, rapidamente
encontrávamos uma boa marcha para prosseguir, e não obstante o vento que estava
jogando contra, avançávamos com determinação.
Em Feliz Deserto fizemos uma
rápida parada para reabastecimento.
Chegamos em Coruripe ainda
com dia claro, mas Marcondes
convidou-nos a seguir alguns quilômetros a frente para ficarmos na Lagoa do
Pau, onde seu irmão e cunhada, tem uma casa de veraneio.
Novamente precisamos acionar
nossos faróis, mas foi uma decisão muito boa, pois lá no Condomínio conseguimos
encontrar café da noite, e ainda marcar um repeteco para as 4h 30 do dia
posterior.
DE CORURIPE (Lagoa do Pau)
a MACEIÓ – 80KM.
Às 5 horas da manhã, bem
alimentados (suco de pitanga, ovos, cuscuz, café), deixamos a Lagoa do Pau.
Depois de 10 km, em bom
ritmo, começamos a enfrentar o tobogã que nos levaria até o Mirante da Praia do
Gunga, onde fizemos uma rápida parada para apreciar o visual.
Com 40 quilômetros atingimos
Barra de São Miguel, e fizemos nova parada, desta vez para reabastecimento.
Daqui a pouco seria o
Francês...
A saudade já começava a dar...
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Massagueira, já se iniciara
a contagem regressiva, e logo estávamos, graças a Deus realizando mais um sonho.
Na orla da cidade, uma
empolgada Sandra Lyra, festejava a chegada do seu esposo e todo o restante da
tripulação.