sexta-feira, 8 de setembro de 2017

DE AMARGOSA A TANCREDO NEVES - 98 KM DE ESTRADAS RURAIS

Em Amargosa com Ivan Falcão, prontos para começar a viagem

Na última semana, aproveitando que estava em missão pelo TRE na circunvizinhança da cidade de Amargosa, treinar pelo Caminho da Paz (ou em parte dele rs) tornou-se ótima opção na preparação para a Jungle.

Vindo de Salvador direto para a corrida, Ivan Falcão chegou para a brincadeira, que teria início na sexta à tarde, e sua chegada foi muito comemorada por mim, não só pela companhia de outro jungleman baiano, como também pela possibilidade de apresentar-lhe este Caminho que tanto me apraz.



“O Caminho da Paz é uma caminhada de 127 km de extensão, iniciando na Cidade de Amargosa, no Estado da Bahia, com chegada no 'Projeto Semente' – um ponto de Luz nas montanhas do Vale do Jiquiriçá, em Ubaíra. É o primeiro do gênero no Nordeste do Brasil.”

Antes de iniciar a peregrinação deve-se adquirir a credencial e todas as informações necessárias (nomes de pousadas, contatos em cada ponto de chegada, etc) na Pousada do Bosque em Amargosa, primeiro ponto de apoio do Caminho.

Ivanzinho deixando mais uma seta amaarela para trás

O percurso é todo marcado com setas amarelas pintadas em estacas, postes, pedras, cancelas, árvores, etc., pelos 08 peregrinos que criaram o Caminho da Paz no ano de 2003 (Antônio Presídio, Maria de Lourdes, José Antônio, Wellington Muller, Roberto, Lourdinha, Jussara e Benedito). Em seu traçado original, media 165km, mas a partir de 2011 passou a ter “apenas” os atuais 127km e está concebido para ser feito em seis dias, assim divididos os trechos:

127 Km  pelas trilhas do
CAMINHO  DA  PAZ

Sequência de Dias / Percurso / Km
1° dia
Amargosa
ao
Alto da Lagoinha
25Km
2° dia
Alto da Lagoinha
ao
Morrinho de São José
ao
Alto da Lagoinha
13Km
3° dia
Alto da Lagoinha
a
Mutuípe
17Km
4° dia
Mutuípe
a
Jiquiriçá
26Km
5° dia
Jiquiriçá
a
Ubaíra
27Km
6° dia
Ubaíra
ao
Projeto Semente
19Km

Infelizmente (mais tarde essa sensação acabaria mudando), não havia credencial disponível para compra na Pousada do Bosque. Desta forma, já que não poderíamos receber o Certificado no final, fechei com Ivanzinho que não faríamos o último trecho, que leva ao Projeto Semente, o que facilitaria nosso retorno a Salvador, ficando acertado que o que faltasse por lá completaríamos dentro da Meia Maratona Farol a Farol no domingo.

A programação então ficou a seguinte: 
Sexta: os dois primeiros trechos - 38 km;
Sábado: terceiro, quarto e quinto - 70 km;
Domingo: brincar na Farol a Farol.

Previsões... rs

1º de setembro (sexta-feira)

Com as mochilas full partimos com destino ao Alto da Lagoinha / Morrinho de São José. 

Nem bem começamos a subir e já comecei a ouvir de Ivanzinho elogios à beleza do Caminho. Pensando em voz alta, disse-lhe que ele certamente ainda repetiria muitas vezes aqueles comentários.


Ivanzinho num dos inúmeros pontos de muita beleza do Caminho da Paz
Avançando devagar passamos no Alto da Lagoinha com 3h e 10min de corrida e ali fizemos uma rápida parada antes de prosseguir até o Morrinho de São José.

Alcançamos os 610 metros de altitude do Morrinho com o Garmim marcando exatamente 31 km e, claro, antes de descermos de volta ao Alto da Lagoinha, aproveitamos para descansar, usar celular (que ali pega que é uma beleza) e sentir a imensa paz que se tem ao contemplar toda aquela paisagem.

Somente ao chegarmos na casa de D. Damiana (uma das pessoas que recebem peregrinos naquela localidade) é que contei para Ivan que havíamos passado ali em frente quando subimos para o Morrinho de São José, mas que nem havia chamado atenção para este detalhe (rs)  para que não caíssemos na tentação de deixar nossas mochilas.

Buscamos a chave na casa de Sr. Edson (Damiana estava em Salvador) e agora sim, tratei de diminuir o peso da mochila, iniciando uma comilança dos liofilizados que levava comigo.



O restinho da tarde passou rápido e logo estávamos nos preparando para o dia seguinte, que começaria de madrugada.

02 de setembro (sábado)


3h20 da manhã retomávamos o Caminho e procurar as setas na escuridão era um bom teste para nossas lanternas de cabeça.



Um milhão e meio de latidos depois (haja cachorro, rs) amanhecíamos o dia com a visão da cidade de Mutuípe.

Entramos na cidade e tomamos o caminho do cemitério e, um pouquinho antes de voltar à estrada de terra, paramos na casa de uma senhora para repor água em nossas garrafas.



O plano era ter combustível até uma nova parada, 26 quilômetros à frente, na cidade de Jiquiriçá. Esse era o plano... 

Senta que lá vem estória...
*    *     *

Conheci o Caminho da Paz através dos Professores André Araújo e Ângela Pelosi em 2014. De la pra cá venho divulgando, correndo e trazendo um monte de gente para essa experiência. Vamos dizer assim que já estava me sentindo um expert que podia dispensar inclusive as setas amarelas que marcam o caminho.


Uma das últimas fotos ainda no Caminho da Paz

Ledo engano...

Contando alcançar Jiquiriçá com o relógio na marca dos 42 km, por volta dos 36 km comecei a estranhar o fato de nunca chegar uma certa casa que fica num vértice de um ângulo de 90º que o Caminho faz e que em novembro último havia parado para pedir água.

Então logo que avistamos um transeunte disparei a pergunta:

- Estamos no caminho de Jiquiriçá?

O espanto que obtive como resposta começava a dar mostras de que alguma coisa estava errada (rs).

Um pouquinho mais adiante, outras pessoas, renovada a pergunta e novamente ouvi como resposta que estávamos indo na direção de Tancredo Neves, distante algo em torno de 20 km.

Conhecia uma cidade chamada Tancredo Neves que fica laaaaaaá na BR 101 e, com a certeza de que jamais poderia ser daquele lugar que estavam falando, fiz questão de afirmar de que se tratava de algum distrito ou povoado homônimo.

Não era (rs)! Pra falar a verdade até agora não consigo entender onde foi que me perdi e como consegui desviar-me tanto do Caminho a ponto de ir desembocar na BR 101, saindo bem à frente inclusive do entroncamento de Valença.


O novo caminho não ficou a dever quase nada às dificuldades e belezas do Caminho da Paz
Aí foi o momento em que agradeci aos céus não estarmos fazendo o Caminho da Paz com credenciais, nem, como de outras vezes, haver deixado algum carro no Projeto Semente.


Então, antes que Ivanzinho colocasse em prática os versos de "Estranha Forma de Vida", que entoava em tom incrivelmente semelhante à Fadista portuguesa Amália Rodrigues, "Se não sabes onde vais, porque teimas em correr, eu não te acompanho mais", rapidamente tratei de criar planos para o novo destino.

                                                  * * *

O certo é que contávamos com uma parada dali a 06 quilômetros e a previsão agora era parar cerca de 3h depois, mas foi muito bom sentir que esse "revés" não mudou o ânimo da expedição.


Seguimos pelo novo caminho que pouco se diferenciava em relação ao da Paz, tanto em beleza quanto em dificuldade e, entre cachoeiras e muito sobe e desce, aos poucos fui revelando o novo plano para Ivanzinho. 

Pelas informações chegaríamos ao nosso destino com apenas 52 km. Lembrando do ponto de corte na etapa longa da Jungle Marathon,  por volta do meio-dia propus-lhe que completássemos pelo menos 60 km antes de 11 horas de "prova".



Exatamente quando estávamos com 49 quilômetros lancei-lhe outra proposta, que fizéssemos dois quilômetros na direção oposta, com a justificativa de que, fazendo desse jeito, diminuiria o tempo que precisaríamos ficar rodando na cidade após chegarmos.

Debaixo daquela "lua", uma vez mais o valente companheiro deu mostras de estar no caminho mental certo para dar a volta por cima na Jungle deste ano, oferecendo-me como contra-proposta que retornássemos apenas 1 quilômetro.



Eta quilômetro sofrido! todo para cima e na direção contrária, voltamos ao mesmo ponto com o Garmin marcando 51 km e certamente mais fortes mentalmente.

Começamos a entrar na cidade e, numa parada para reabastecimento de água, não pude resistir e confesso (rs), mesmo sabendo que na selva não encontrarei isso, refestelei-me com refrigerante de laranja e  deliciosas bananas reais.

Atravessando a cidade com o relógio marcando mais de 13 horas ainda tivemos a chance de pesar nossas mochilas e pude comprovar que apesar de "leve" ainda estava carregando 9kg, o que indicava que no dia anterior estive correndo com algo entre 11 e 12 quilos.

Chegamos à BR 101.

Era ainda necessário fazer cerca de 5 km. E sem nos importarmos com o fato de que já havíamos avistado a agência de passagem, partimos por um lado do acostamento em direção a uma estrada de barro para atingir nosso "ponto de corte".


Não estávamos nem um pouquinho confortáveis, nem fortes, nem rápidos, mas tínhamos um objetivo e este nos fez correr por quase 1 hora mais para atingi-lo e no fim, como não podia deixar de ser, estávamos felizes com nossa jornada.


Missão cumprida
O resto foi bem rapidinho, sem direito a banho ou almoço, pois na "rodoviária" fomos informados que 20 minutos depois passaria um ônibus para Salvador.


Acompanhando a estreia de Gaspari na Meia Maratona Farol a Farol no Domingo.




treino de meia de semana com Pataro

Correndo com Djane em Valente


Subindo a Serra do Pintado com a galerinha e Tia Lalá


1º dia  - 



























2º Dia